Em meio a assuntos descontraídos, não é raro ouvir o termo ressaca moral. A expressão, muitas
vezes associada à traição, é atribuída a alguma besteira colossal que
se tenha feito – seja por ter armado um barraco numa festa por ciúme,
seja por ter ido par cama com alguém minutos depois do primeiro “oi”. Com um
toque de culpa, a ressaca moral é uma sensação psicológica ruim,
causada por algum momento ou situação desagradável que se tenha vivido.
Leia o texto na íntegra...
Assim como a ressaca normal, a moral aparece no dia seguinte – ou nos
dias seguintes – e com lembranças que corroem a mente do ressacado.
Ela se manifesta de formas e por razões diferentes. É o caso, por
exemplo, do sujeito que dá em cima da namorada do amigo, ou da outra que
desmaia durante uma cerimônia de casamento, ou ainda daquele que
resolve se soltar em excesso na festa da empresa. Este tipo de ressaca
se enquadra em diversos fatores de constrangimentos e arrependimentos –
sempre, é claro, acompanhado do sentimento de culpa.
“Esse arrependimento que sentimos é um sinal interno nos avisando que
fizemos ou falamos algo que não achamos que foi bom, que ultrapassamos
nossa noção de limites de conduta. Estas linhas foram construídas em
cada pessoa pelo decorrer da vida, desde o nascimento, levando em conta
relacionamento familiar, ambiente social e circunstâncias observadas no
dia a dia. Esse mal-estar fica vivo como uma cobrança interna em nossa
mente”, explica a psicóloga clínica Célia Maria Aparecida de Mattos
Lourenço Menezes.
Álcool libera
Fortes dores de cabeça, corpo dolorido, boca seca, mal-estar
generalizado, água com limão no café da manhã. Todas as características
de uma ressaca clássica, por mais irritantes que sejam, não são piores
que os efeitos de uma ressaca moral. Esta segunda, entretanto, em muitas
ocasiões, vem junto com a ressaca causada pelo álcool. “Quando, por
exemplo, uma pessoa bebe, ela desconsidera os seus limites e abre uma
porta para fazer coisas que ela mesma considera uma afronta à
moralidade. No momento em que o efeito do álcool diminui, surge o medo
das consequências, que sugerem a possibilidade de uma punição. E para
isso não há distinção de gêneros. Tanto o homem quanto a mulher são
controlados não só pela instância moral, mas também pelo papel da
própria realidade na regulação de suas ações. Beber "ajuda" a liberar o
freio que inibe suas atitudes”, explica Célia.
No caso de Rodrigo*, 26 anos, estudante de letras, o álcool foi o
facilitador de uma traição. Vivendo um relacionamento de cinco anos, o
estudante foi a uma festa e, estimulado pelos amigos e pelo excesso de
bebida, envolveu-se com uma garota. “Depois daquela noite, passei uma
semana me culpando pelo que fiz e resolvi contar para minha namorada.
Também não teria como esconder por muito tempo, porque ela mesma havia
estranhado minha mudança de comportamento, pois passei a ser mais
romântico do que de costume. Foi difícil, mas ela me perdoou. Hoje sou
bem mais controlado, inclusive nas bebidas”, revela Rodrigo.
Amanda*, 24 anos, jornalista, também sob efeito do álcool, conta dois
constrangimentos que lhe causaram arrependimentos. O primeiro, em uma
festa da empresa em que trabalhava, ela conta que dançou empolgadamente
hits de Michael Jackson e de Madonna, de forma que destoava da maneira
contida dos colegas. “No dia seguinte, as pessoas me davam tapinhas nas
costas, com uma risadinha de canto. Essa situação me acompanhou até o
dia em que saí da empresa”, lembra. Pouco tempo depois, após muitas
taças de vinho branco na faculdade, na van que a levava para a casa,
Amanda fez uma defesa ferrenha - para todo mundo ouvir - sobre
masturbação feminina. “Não sei de onde veio o assunto, mas eu dizia que
as meninas tinham de buscar formas de prazer. Mas depois que passou meu
pilequezinho, eu me arrependi muito, mas ninguém esqueceu. Só para ter
uma ideia, cinco anos depois, encontrei um amigo que presenciou o fato
e, antes de me cumprimentar, ele fez piadinhas sobre aquele discurso”,
conta.
Solução? Tempo!
O tempo é o melhor dos conselheiros, já diria a sábia frase popular. “O
que vai diferenciar a forma de como cada um vai vivenciar essa situação é
a maneira de lidar com os sentimentos de culpa, com suas necessidades
narcísicas. Assim, sempre que vivenciamos uma dor da alma, o melhor a
fazer é esperar e tentar minimizar essa dor. Sempre vamos ter algo do
que nos arrepender, faz parte da natureza humana”, pondera Célia.
Assim como a ressaca alcoólica, a ressaca moral não mata. A primeira
geralmente incomoda apenas no dia seguinte. A segunda pode até demorar
mais tempo, mas também passa - até mesmo nos casos mais complexos. Por
isso, o recomendável é não tomar decisões em meio às dores da alma. O
melhor é esperar e tentar dar a volta por cima. Funciona na maior parte
dos casos. Até para quem tentou cantar a mulher do amigo, dançou
empolgado na festa da firma ou desmaiou durante um casamento.
Fonte: http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2010/07/21/complicacoes-de-uma-ressaca-moral-podem-deixar-marcas.htm
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