Angélique Namaika (A Voz das mulheres no Congo, e uma MÃE para os que sofrem) Notícias que o mundo não divulga


Angélique Namaika é uma freira congolesa que atua na remota região nordeste da República Democrática do Congo (RDC) ajudando milhares de mulheres vítimas da brutal violência sexual e de gênero praticada pelo Exército de Resistência do Senhor (LRA, em inglês) e outros grupos. 

Freira desde 2000, Angélique optou por dedicar sua vida às mulheres congolesas obrigadas a deixar suas casas para escapar da violência desses grupos rebeldes.

Aos nove anos de idade, Angélique decidiu dedicar sua vida aos necessitados ao ver uma religiosa trabalhando em uma aldeia.

"Comecei esse trabalho pois quando era pequena vi uma freira no meu vilarejo e fiquei inspirada por ela".

Irmã Angélique, 48, é uma refugiada dentro do próprio país. Foi obrigada a deixar sua casa em virtude de ataques do grupo armado na região e viveu em abrigos com outros deslocados em 2009.

“Não sabia aonde ir. Cruzei árvores, campos, não havia comida para todos. Na caminhada, cantava músicas religiosas para espantar o medo", relatou. 

“Era difícil achar quem ajudasse. Quando conheci as vítimas do LRA que escapavam da floresta, percebi que elas tinham sofrido muito mais atrocidades do que eu. Isso me encorajou a ir todos os dias aonde elas viviam para ajudá-las. Estar juntas é importante para as mulheres. Lembramos sempre do ditado: uma por todas, todas por uma”, narrou.

O Exército de Resistência do Senhor (LRRA), nos últimos 30 anos forçou o deslocamento de 2,6 milhões de pessoas internamente e além das fronteiras em Congo, Uganda, Sudão do Sul e República Centro-Africana, indica um relatório divulgado pelo Acnur.

Angélique comanda, desde 2003 o Centro para Reintegração e Desenvolvimento, onde oferece treinamento e acolhimento às mulheres que sofreram abusos sexuais e agressões físicas e psicológicas. 

Ela foi uma refugiada por causa da guerrilha, por quatro meses, e apesar de não ter sofrido abusos, se mobilizou para ajudar. 

À frente do Centro para Reintegração e Desenvolvimento, a Irmã Angélique Namaika já ajudou a transformar a vida de mais de duas mil mulheres e meninas que foram forçadas a deixar suas casas e sofreram abusos, principalmente pelo grupo rebelde LRA. 

Muitas destas mulheres trazem histórias de sequestro, trabalho forçado, espancamento, assassinato, estupro e outras violações de direitos humanos.

Quando conseguem escapar do cativeiro, essas mulheres precisam enfrentar o trauma e a discriminação por parte da própria comunidade para tentar se reintegrar à sociedade.

Estima-se que aproximadamente 350 mil pessoas tenham sido forçadas a deixar suas casas na região de Dungu – e 70% delas devido a atividades relacionadas com o LRA ou com ameaça de ataques. 

A brutalidade do LRA é bastante conhecida, e depoimentos de mulheres mostram a terrível natureza de seu abuso. 

As deslocadas pela violência do LRA são muito vulneráveis. Elas são capturadas, levadas à floresta e dadas aos soldados. Ali, apanham, são vítimas de violência sexual”, disse à coletiva de imprensa se Genebra.

A abordagem individual adotada pela Irmã Angélique no seu trabalho ajuda as vítimas a se recuperarem de seus traumas. 

Além do abuso que sofreram, essas mulheres e crianças vulneráveis são frequentemente condenadas ao ostracismo por suas próprias famílias e comunidades. 

O trabalho feito por Namaika é fundamental para a recuperação dos traumas na vida dessas meninas e mulheres. É preciso um cuidado especial para conseguir que elas curem suas feridas e reconstruam suas vidas. Através de atividades que geram renda, a Irmã Angélique ajuda essas mulheres a começarem um pequeno negócio ou a voltarem para a escola. Os depoimentos das mulheres atendidas pela Irmã transmitem o efeito do trabalho da freira em promover uma mudança em suas vidas, já que muitas delas a chamam de “mãe”.

“É muito difícil imaginar o sofrimento das mulheres e meninas vítimas do LRA, pois elas guardarão as cicatrizes desta violência por toda a vida”, disse a Irmã Angélique Namaika. Segundo ela, o prêmio “ajudará mais pessoas deslocadas em Dungu a recomeçarem suas vidas. Jamais vou parar de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para dar-lhes esperança e uma chance de viver de novo”.

A própria Irmã Angélique foi deslocada pela violência em 2009. Ela sentiu na pele o trauma de fugir de casa. 

Isso faz parte da lista de motivações que a levam a trabalhar dia após dia percorrendo muitos quilômetros, por estradas esburacadas, para chegar a todos os necessitados.

Nessa remota parte do nordeste do Congo, a irmã dedicou sua vida a ajudar mulheres e crianças excluídas a serem novamente aceitas por suas comunidades, curar suas feridas, e se tornarem autossuficientes.

O sorriso aberto e franco no rosto é uma de suas marcas registradas. Aos 48 anos, a freira congolesa Angélique Namaika não deixa que a dura realidade da cidade de Dungu, na Província Oriental da República Democrática do Congo (RDC), apague sua esperança no futuro. 

A bordo de sua bicicleta, ela percorre diariamente as ruas empoeiradas da vila onde mora, região devastada por 30 anos de guerra civil, para dar apoio às mulheres vítimas da violência relacionadas ao conflito interno do Congo.

Atualmente, 150 mulheres são atendidas pelo Centro para Reintegração e Desenvolvimento, associação da qual a Irmã Angélique é co-fundadora. Desde que o centro foi criado, em 2008, mais de 2 mil mulheres já foram atendidas. 

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) honrou a Irmã Angélique Namaika, com o Prêmio Nansen, no dia 30 de setembro de 2013 em uma cerimônia em Genebra. Nessa mesma ocasião, recebeu uma benção especial do Papa Francisco:

“Conhecer o Papa foi uma grande honra para mim”, disse a Irmã Angélique. “Nunca imaginei que iria encontrar o Santo Padre, e quando descobri, chorei por um longo tempo. Quando o encontrei, eu disse: ‘Eu sou da República Democrática do Congo e eu carrego comigo as mulheres e crianças que têm sido vítimas de atrocidades cometidas pelo Exército de Resistência do Senhor (LRA, da sigla em inglês) para que você possa abençoá-las, assim como a mim”, disse a Irmã, se referindo ao grupo armado irregular originário de Uganda que atua no nordeste do Congo.

Segundo ela, o Papa Francisco disse-lhe: “Sei da sua causa, você deve continuar a ajudar (os refugiados e deslocados internos).” Ela disse que, em seguida, o Papa colocou as duas mãos sobre a cabeça dela para então rezar e abençoá-la – assim como as centenas de mulheres que ela ajudou na República Democrática do Congo.

Fonte:http://muitoalem2013.blogspot.com.br/2015/11/luzes-do-mundo-angelique-namaika.html


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