A palavra de Pôncio Pilatos

Pôncio Pilatos
 
Apresenta-se à vidente um espírito muito luminoso envolto em luz branca e verde, distinguindo-se apenas o seu vulto no meio dessas luzes, não podendo a vidente reconhecer o sexo a que pertence o espírito. A luz branca tem reflexos prateados e, de mistura com o verde e o branco, aparecem também raios lilases. Afinal, a vidente reconhece ser um homem que está em sua presença.
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Antes de tudo quero agradecer a Jesus as graças que tem concedido ao meu pobre espírito.

Quero render, aqui mesmo na Terra, graças a Deus pelo muito que me foi concedido pelo nada que fiz.

Curvo-me, reverente e humilde, para agradecer à Infinita Misericórdia os benefícios e favores dispensados a este humilde e insignificante servo do Senhor, a quem nesta hora sublime recorro, pedindo forças e alento para poder falar aos meus irmãos em nome de Jesus, que me disse:

“Vai tu também, Pôncio, e proclama a sublime verdade.”

“Vai, meu filho, e reparte com os teus irmãos o que recebeste de meu Pai: dá ao mundo o exemplo da tua humildade; oferece à humanidade a prova material da tua existência e da realidade da Infinita Misericórdia do meu Pai, em cujo nome falarás, cujos desígnios proclamarás, cuja sabedoria patentearás aos olhos dos homens que habitam aquele atrasado planeta.

“Vai, meu filho, e fala também em meu nome; anuncia a minha presença entre essa gente ingrata, que tanto se tem esquecido dos ensinamentos do seu Mestre, das provas de amor que lhes têm sido dispensadas pela sublime bondade do Pai.”

“Vai Pôncio, dize o que sabes, conta o que viste aqui, anuncia às criaturas o futuro que as espera; fala-lhes em linguagem simples, mas sugestiva, emprega frases repassadas de doçura, mas ao mesmo tempo, enérgicas e incisivas, de modo a abalar-lhes a consciência, despertar-lhes na alma os sentimentos que parece terem para sempre emigrado do coração do homem”.

“Vai Pôncio, e anuncia entre os homens que — são chegados os tempos prometidos pela Escrituras”.

Venho, portanto, no cumprimento de uma ordem do Mestre; volto ao mundo na qualidade de enviado do Nazareno, a quem um dia procurei defender da sanha feroz dos homens, não o conseguindo, porém, porque era justamente este o Seu destino; morrer para salvar o gênero humano.

Deus julga as nossas intenções, preocupando-se muito pouco ou quase nada com os atos da criatura, que nem sempre traduzem os desejos e intuitos do espírito encarnado. Deus julga o nosso foro íntimo, busca saber o que nos conduziu à prática de determinados atos, o móvel das nossas ações, os atos exteriores pouca significação têm para o Eterno Ser; a consciência é quem responde perante o supremo tribunal de Deus.

Os crimes perpetrados na Terra são, muitas vezes, atenuados perante a Justiça Eterna, que julga levando sempre em conta o grau de adiantamento do espírito, o seu passado e presente, as causas remotas que concorreram para a criatura cometer estas ou aquelas ações e executar atos muitas vezes involuntários, porquanto, neste caso, o espírito é levado a tais crimes por circunstâncias independentes da sua vontade, sendo, em várias ocasiões, mero instrumento de outras vontades que constantemente atuam sobre a alma encarnada e a conduzem ao erro, levam-na ao crime e à desgraça.

Muitos dos criminosos da Terra acham-se, no mundo dos espíritos em condições de relativa calma e felicidade, porque Deus é justo e a balança divina é perfeita e acusa a mais insignificante partícula de mais ou de menos, nas culpas dos espíritos julgados pela Infinita Sabedoria.

Deus julga sem recorrer ao testemunho humano, como fazem os juízes da Terra. Não estuda processos preparados por outros juízes; Ele é o principal e único órgão dessa justiça infalível e sábia até o infinito; as suas decisões são inapeláveis; as suas sentenças irrevogáveis, porque são absolutamente sábias e justas, quer quando condena, quer quando absolvem o culpado.

A Justiça de Deus não tem alternativas, nem sofre contraste com outra justiça, por ser a única existente em todo o Universo.

Deus julga as almas pela intenção, pelo que observa no fundo da sua consciência, e não castiga nem perdoa,  dá o que cada um merece “a cada um por suas obras”.

Deus não condena os seus filhos a penas eternas, isto porque, se assim procedesse, anularia o grandioso e principal objetivo da sua obra colossal: — progredir até o infinito, caminhar sempre, nascendo e renascendo para poder viver eternamente.

A condenação eterna, lançada por Deus, importaria na revogação da mais sublime das Suas leis — o aperfeiçoamento dos espíritos à custa dos seus próprios esforços.

O espírito que delinque está no caminho do aperfeiçoamento e é comparável ao aprendiz que só executa maus trabalhos ou produz obras imperfeitas, sem que, por isso, o mestre o expulse da oficina, o que seria iniquidade, pois, se assim procedesse os mestres, chegaria o momento de lamentar a falta de artífices, atrofiando-se, por esse modo, as artes e as indústrias, paralisando o seu desenvolvimento e progresso necessários.

O Universo é a formidável oficina onde todos nós aprendemos a trabalhar, produzir boas obras, executar com perícia os trabalhos, as tarefas que nos são confiadas pelo nosso Mestre. Assim, Deus não condena, nem absolve, propriamente falando; Ele dá o que o aprendiz merece, aquilo a que fez jus pelos seus esforços e pela sua perseverança no trabalho. Aprecia as nossas obras, da mesma maneira como procede o mestre na oficina; não despede o aprendiz que executou mal o trabalho, mas o repreende ou elogia pela má ou boa tarefa executada, ordenando ao que alcançou bom êxito na confecção da obra e a ele confiada, que se encarregue de outros trabalhos de maior importância, e exigindo daquele que executou mal a obra, que recomece e execute novo trabalho, confeccione nova obra.

Aí tendes a imagem da reencarnação e porque Deus não condena, nem absolve, o que importaria na anulação do plano divino: — caminhar sempre, aperfeiçoando-se à custa dos seus próprios esforços, nascendo e renascendo até o infinito, até o dia em que, não mais precisando nascer e morrer para tornar a nascer e morrer, possa o espírito viver eternamente.

Deus perdoa, mas o seu perdão é condicional, e não como concebeis, o esquecimento eterno da culpa, não!

Deus, ou melhor, a Justiça Divina, quer o aperfeiçoamento das almas e, se as culpa ficassem desde logo esquecida, o espírito permaneceria inerte, daquele momento em diante; nenhum compromisso assumido para com o seu Criador, ficaria inativo, interrompendo, assim, o seu progresso.

A Justiça de Deus suspende o sofrimento logo que o espírito, ao reconhecer o mal praticado, se propõe a repará-lo em existências sucessivas.

Isso não é perdoar, condenar ou absolver, é apenas apreciar as obras da criatura, compará-las, medi-las e depois dar a cada um o que cada um merece.

A ideia do perdão absoluto e incondicional é, como vedes, errônea, visto que, perdoar é esquecer, nada mais exigir daquele sobre quem recai o perdão, dispensando-o de qualquer reparação do mal praticado.

Deus dá, dessa forma, o que cada um merece pelos seus esforços, pelos sacrifícios feitos com intuito de caminhar para a perfeição absoluta, por isso que é justo, sábio, misericordioso e infinitamente bom.

Ser bom, portanto, é ser justo, dar a cada um o que lhe pertenceu, e não condenar eternamente ou perdoar a falta cometida por aquele que, não tendo ainda adquirido o aperfeiçoamento necessário, voltará um dia, à prática de novos crimes, cercando-se das maiores cautelas para escapar à ação da justiça que o condenou ou perdoou anteriormente.

Deus não esquece; o Criador não consente que se apague o que estiver escrito no infinito, com relação aos erros e crimes praticados pela criatura. A própria alma, na ascensão que for fazendo pelo tempo além, irá apagando, ela mesma, o que estiver escrito em letras de fogo — a história dos seus desregramentos, das suas fraquezas e misérias.

Ao passar de um plano inferior para o imediatamente superior, o espírito salda as suas contas até aquele dia, pois vai, desse momento em diante, começar uma nova vida, percorrer nova etapa, e inova existência as boas obras, as virtudes que possui, os dons e os predicados de que for portadora, ficando os erros, os defeitos, as faltas e os crimes apagados, desfeitos, por ter o espírito, com as suas próprias mãos, os destruídos para sempre!

Aí tendes a Justiça de Deus pintada em rápidas e singelas palavras; aí estão, em ligeiros traços descritos, os intuitos e desejos da divina Providência, mandando o espírito diversas, inúmeras vezes à superfície dos mundos de expiação, aos planetas atrasados, como este onde habitei e habitais neste momento.

Tudo quanto tendes aprendido sobre o modo de agir da suprema Justiça é falso, nada vale o que vos tem ensinado os chamados diretores espirituais e os intitulados livros sagrados; a justiça de Deus não tem preferências, no tribunal divino não se distinguem os delinquentes por outros meios senão o exume das intenções que os levaram a delinquir.

Ali nada se indaga, coisa alguma se procura saber acerca da posição que o culpado exerceu na Terra, o cargo que ocupou no mundo, se foi artífice, douto, magistrado, sacerdote ou mercador, escravo ou soldado rico ou mendigo.

O que se examina nesse tribunal sublime é o forum intimum do espírito, a intenção, o móvel das suas ações boas ou más.

Ninguém, ao chegar a essas paragens, se lembra do que foi na Terra.

O espírito, ao transpor aquelas regiões, sente que se apagam todas as reminiscências, se lhe enfraquece a memória das honras, posições e riquezas, do poder de que dispôs entre os homens, da força que enfeixou nas suas mãos, do que gozou e do que desfrutou.

Diante dos nossos olhos espirituais desenham-se nítidos, lá no grandioso Tribunal, os nossos pecados, as faltas, os erros e crimes que praticamos e também as boas ações, os atos dignos, as obras de caridade e de amor que deixamos na Terra e, ah! meus queridos irmãos! ah! meus amados companheiros! felizes os que podem, nessa hora solene, ver brilhar diante de si a luz suave dos atos de caridade, de amor e de piedade para com o seu semelhante!

Ah ! meus irmãos! que delícia, que felicidade desfruta todo aquele que ouve ali o eixo das preces, os votos dos que ficam na Terra orando pela alma que no mundo cumpriu o seu dever cristão, dando com a direita sem que a esquerda o percebesse, que amou o seu semelhante como a si mesmo, que só fez a outrem o que desejou que outrem lhe fizesse, que não feriu, que perdoou e, por isso, encontra no mundo dos espíritos o que merece pelas suas boas obras!

Ah! meus amigos, meus queridos irmãos! este que vos está falando também compareceu à barra desse grandioso tribunal e viu escritos os seus erros, todos os delitos que cometeu na Terra, os crimes e as fraquezas da sua carne; mas, oh! meus queridos irmãos! como foi para ele consoladora a presença, naquela hora, dos atos bons que praticara, avultando entre eles o da defesa de Jesus, a intenção de defender o justo da sanha feroz dos seus algozes!

Ah ! meus caros companheiros! como vos hei de contar as minhas alegrias ao ouvir ali ecoarem as minhas palavras, proferidas quando levaram Jesus à minha presença, no tribunal de Judá !

Ah ! meus irmãos ! como foram doces para mim aqueles momentos, em que ouvi também a voz de Jesus, dizendo: “Que se cumpra a vontade do meu Pai”.

Essa recordação compensou largamente os dissabores que então experimentei pelos erros e delitos que pratiquei na Terra, onde tenho comparecido diversas vezes, mas sempre amparado pela divina misericórdia, guiado pela luz dos ensinamentos de Jesus, que hoje venho também proclamar, na qualidade de seu discípulo e enviado para dizer-vos tudo quanto ficou escrito e, ainda, que reencarnei na Terra, para propagar os santos princípios da doutrina daquele cujas palavras já abalaram o meu espírito, no tempo em que estive entre vós e me chamei Pôncio Pilatos.

Hoje sou defensor do puro Cristianismo, do Deus de infinita bondade e amor, sou discípulo do seu Filho — o divino Jesus — que proclamo daqui o Mestre dos mestres, o Rei dos reis, o supremo Diretor deste planeta!

Eis ai, meus amigos e irmãos queridos, cumprida a minha missão, o meu dever, e satisfeito o compromisso, que assumi com a divina misericórdia, de vir à Terra narrar o que acabastes de ouvir, para que tenhais melhor noção da justiça eterna, que em nada se parece com a dos homens.

Agora, resta apenas dirigir-me a vós, meus irmãos e companheiros muito amados; resta-me fazer-vos um pedido, dar-vos um conselho que, de certo, vos servirá de muito: — Caminhai na vida com os olhos fitos em Jesus; marche sempre guiados pelos ensinamentos do Mestre, os quais deveis cultivar e propagar, procurando o caminho do bem, da justiça e do amor ao próximo.

Jamais vos afasteis da caridade cristã, da caridade pura, dando com a direita sem que a esquerda o perceba, perdoando ao vosso semelhante, querendo e amando aos vossos irmãos como a vós mesmos.

Defendei Jesus, livrai a sua doutrina dos botes e assaltos dos novos fariseus, ensinai as suas máximas; divulgai as suas parábolas; interpretai o fundo dessas sublimes palavras e tirai dali toda a luz de que careceis para a vossa viagem nesse vale de lágrimas; procurai praticar pelo menos um bom ato na vossa vida que, um dia, quando tiverdes de comparecer perante o tribunal de que tantas vezes vos falei no correr desta comunicação, possais ser consolados, como foi o vosso irmão que hoje vos visita em nome de Deus e de Jesus e que se retira dizendo-vos:

“Amai-vos uns aos outros e a Deus sobre todas as coisas”.
         
Pôncio Pilatos  (Março de 1917)

in “Revelação dos Papas” (UES - 1934)

Um comentário:

  1. Pilatos fugiu da verdade, porque conhecer a verdade implica obedece-la. Ele ficou com medo, porque começou a entender que se há uma verdade última, esta verdade é suprema e temos que passar nossa vida inteira em busca dela e a serviço dela. Aquele misterioso homem se identifica como testemunha dela. Pilatos optou pela agnosticidade no que diz respeito à verdade. O medo o paralisou...:)

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