Solitários e Solidários (Joanna de Ângelis)

Ouvimos, certa feita, da oratória firme e inspirada de Divaldo Pereira Franco, a seguinte expressão:

Quem é solidário nunca será solitário.

O jogo de palavras revela uma verdade incontestável: a de que o vazio escuro da solidão só pode ser preenchido com as luzes claras da caridade.

Quem doa e se doa tem sempre o coração preenchido, e mais dificilmente cai nas teias confusas da solidão e da depressão.

O sentimento de estar sendo útil, seja a alguém, seja a uma causa, seja à sociedade, causa em nossa intimidade uma pacificação instantânea, um prazer espiritual que nos completa.

Os solidários dificilmente têm tempo ou espaço mental para o negativismo, para os pensamentos pessimistas, pois estão ativos, sempre ocupados com causas nobres e elevadas.

Os solitários, ao contrário, perdem-se nas monoideias tristes, nos questionamentos infindáveis, na melancolia doentia.

Desta forma, abrem espaço para a instalação dos conflitos existenciais graves, das distonias, das psicopatologias.

Não nos referimos aqui, de forma alguma, aos momentos de solitude, muito necessários e importantes na vida, mas a esse sentimento negativo, que nos carrega para longe a vontade de viver.

Diz-nos Joanna de Ângelis:

A neurose da solidão é doença contemporânea, que ameaça o homem distraído pela conquista dos valores de pequena monta, porque transitórios. 

Acrescenta ainda a veneranda amiga, que a vida adquiriria cor e utilidade, se trabalhássemos em favor dos enfermos e idosos, das crianças em abandono e dos animais.

Ganharíamos coragem e motivação para nos enfrentar, para romper os obstáculos que ainda nos fazem tão infelizes.

O homem solitário, todo aquele que se diz em solidão, exceto nos casos patológicos, é alguém que se receia encontrar, que evita descobrir-se, conhecer-se, assim ocultando a sua identidade na aparência de infeliz, de incompreendido e abandonado.

A velha conceituação de que todo aquele que tem amigos não passa necessidades, constitui uma forma desonesta de estimar, ocultando o utilitarismo sub-reptício.

É o prazer da afeição em si mesma que deve ser a meta a alcançar-se no inter-relacionamento humano, com vista à satisfação de amar. 

O medo da solidão, portanto, deve ceder lugar à confiança nos próprios valores, mesmo que de pequenos conteúdos, porém significativos para quem os possui.

Jesus, o psicoterapeuta excelente, ao sugerir o "amor ao próximo como a si mesmo" após o "amor a Deus" como a mais importante conquista do homem, conclama-o a amar-se, a valorizar-se, a conhecer-se.

Isso o faz plenificar-se com o que é e tem, multiplicando esses recursos em implementos de vida eterna, em saudável companheirismo, sem a preocupação de receber resposta equivalente.

O homem solidário jamais se encontra solitário.

O egoísta, em contrapartida, nunca está solícito, por isto, sempre atormentado.

A fé no futuro, a luta por conseguir a paz íntima - eis os recursos mais valiosos para vencer-se a solidão, saindo do arcabouço egoísta e ambicioso para a realização edificante onde quer que se esteja.

Redação do Momento Espírita com base no cap. Solidão, da obra O homem integral, do Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.





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