Sua escolha

Um comentário:

  1. Se "existe algo estranho no ar", como já disse alguém, cala-te boca, é isso: a gente reconhecendo que precisa menos do que achava que precisava porque descobrindo que não vale tanto quanto achava que merecia. Inocentes, hoje vivenciamos o cárcere dos réus, porque “livres”, antes da pandemia, nos julgávamos vítimas, apesar de algozes, muitas vezes. O medo nos tem ensinado a ter coragem e o luto na casa alheia nos evidencia a fragilidade do próprio teto. Valores verdadeiros estão sendo misturados com os de mentira para que seja extraída a fórmula de viver que crianças conhecem à beça, mas adultos esqueceram, isto é, sem desperdício, no desapego da essência apenas. Sem espaço para correr lá fora, somos impelidos a caminhar para dentro, em ruas solitárias do nosso próprio bairro esquecido onde podemos dispensar as máscaras, exatamente como somos. Todo poder fictício que achávamos possuir, a morte tem ensinado que era transitório, sempre que testemunhamos pessoas “poderosas” serem levados por ela, sem ao menos o celular, contra a vontade e à contra gosto. A gente achava que o supérfluo era imprescindível, na voracidade de acumular pessoas e coisas. Hoje estamos sendo compelidos a filtrar o excedente para valorizar o importante, limpando a ganga da pedra para que ela se torne preciosa. Alguns já perceberam sutilmente, lições valiosas nesse confinamento, que lugares para onde iam e companhias que desfrutavam, na verdade, não precisavam tanto assim, nem deles, nem delas. Observamos o tempo escoando devagar, porque antes não tínhamos tempo para nada, nem para o grande amor da nossa vida, para o cão fiel sempre à nossa espera ou para o vovô que não deu tempo de esperar pelo nosso carinho, por isso foi embora para sempre. Nem para rezar, tínhamos tempo, apressados demais para ouvir Deus no silêncio absoluto e sagrado Dele, azar o nosso. Hoje, a prudência nos corrige os arroubos excepcionais de quem sonha voar mas não tem asas e intenta mergulhar em águas profundas mas só encontra lágrimas. Hoje começamos a entender que não basta pedir para alcançar a felicidade, indispensável é o mérito para possuí-la. Começamos a valorizar o aperto de mão, já que não podemos aperta-la em outra mão sem o medo de “passar” ou “contrair”. Sonhamos carregar nosso filho pequeno nos braços, porque ele não compreende nossa recusa e rejeição, em favor da saúde dele. Antes da pandemia estávamos correndo tanto, tanto, que não enxergávamos nenhuma flor na paisagem, nem mesmo a paisagem a gente via, cegos demais. Se existe algo bom nesse caos da pandemia é isso: ENFIM SÓS.

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