No Topo de Si Mesmo

Falar é fácil. Difícil é parar, sentar, respirar, meditar e ficar consigo mesmo.

O mundo ao seu redor tem uma função: levar você cada vez para mais longe de você mesmo.
Do trabalho à família, da TV às redes sociais, tudo existe para te distrair.

Há um ditado judaico que diz que o homem prefere entreter-se a educar-se.
E ele pode ser mais profundo ainda:
O homem prefere ser interrompido a mergulhar no autoconhecimento.
O tempo todo, você é submetido a interrupções e estímulos que te mantêm longe de seu centro.

O mundo quer que você viva nas bordas e não no centro.

O mundo quer que você seja esquerda ou direita, comunista ou capitalista, Flamengo ou Fluminense, Brasil ou Argentina, Católico ou Evangélico, Judeu ou Muçulmano.

O mundo quer que você seja extremamente religioso ou extremamente científico.


Sim, é a função do mundo te manter o mais distante possível de sua consciência.
Assim, é por isto que você não para. Porque parar aumenta sua consciência.

Na verdade, você tem medo de parar, sentar, respirar, meditar e encontrar-se consigo mesmo, com seu verdadeiro ser.

E é exatamente por isto que, o tempo todo, você é interrompido (ou prefere se deixar interromper) pelo fazer.

Você tem milhares de coisas para fazer, para cuidar, para resolver, mas todas elas estão relacionadas com o que lhe é externo. O que é interno precisa ficar longe, escondido, anestesiado.

Por isso, o homem bebe, se droga, dorme: para fugir de si mesmo.

Este é o motivo pelo qual a meditação é considerada tão difícil pela maioria das pessoas.
Ela te coloca não frente a frente, mas dentro daquele ou daquela que você verdadeiramente é.

Quando você desacelera e aquieta sua mente, você se conecta com o que há de mais profundo aí dentro.

Na estrada do autoconhecimento, é cada um por si. Não existem placas, asfalto, nem mesmo acostamento. Alguns tentam cobrar pedágio, mas a estrada dos outros invariavelmente te leva para fora e não para dentro.

Porque, na verdade, não existe uma estrada para o autoconhecimento.
O que existe é uma trilha misteriosa, íngreme, repleta de desafios. 
A escalada é lenta, exige foco, respiração e disciplina. 

“Vamos ficar aqui em baixo com o Netflix e o Facebook mesmo que é mais fácil”, você pensa.
E por mais que você se distraia, a solidão vai tomando conta do seu ser. 

A jovem poeta canadense Rupi Kaur definiu bem este sentimento:
“A solidão é um sinal de que você precisa desesperadamente de si mesmo”.

O fato é que, quando você desliga o externo e mergulha por inteiro em seu mundo interno, a primeira coisa que encontra é bastante difícil de encarar.

Ao chegar neste estágio, você descobre que, por mais que esteja rodeado de coisas, amigos e estímulos externos, lá no fundo você é mesmo um solitário. Esta é sua real condição.

Sim, estamos todos sozinhos.
No entanto, se você não aprende a descobrir e a se apaixonar por esta solidão (que é belíssima!), vai procurar a distração de novo.

Você vai adorar ser interrompido o tempo todo.
E no final de uma vida repleta de interrupções, você vai se perguntar, insatisfeito:
“Para que mesmo eu vim aqui? ”
Mas não haverá mais tempo de responder.

Portanto, é uma escolha.
Você pode parar.
Sentar-se,
Desacelerar,
Respirar,
Meditar.

“No mistério do sem-fim
Equilibra-se um planeta
E, no jardim, um canteiro

No canteiro, uma violeta
E, sobre ela, o dia inteiro
A asa de uma borboleta”
                    
Cecília Meireles

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!