Muitas moradas

“Não se turbe o vosso coração. 
– Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar.
– Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais” (João, 14:1 a 3.).

Allan Kardec nos esclarece que a casa do Pai é o Universo. As moradas são os mundos que circulam na abóboda azul do firmamento, onde os espíritos encarnam em seu processo evolutivo. São escolas apropriadas ao nível de evolução de seus habitantes: primitivas umas, quando abrigam espíritos em suas encarnações iniciais; de provas e expiações outras, onde o mal predomina; de regeneração aquelas em que a alma ainda necessitada já aure novas forças; ditosas onde o bem predomina e celestes as moradas sagradas de espíritos depurados.

Em sua exegese o codificador, no entanto, aprofunda-se no entendimento de que essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado feliz ou desgraçado dos Espíritos após o fenômeno da desencarnação, pois muitos retornam à pátria espiritual ainda apegados à crosta da Terra. Alguns porque se mantiveram sempre ligados à delinquência e à maldade, outros porque levaram a vida fixando-se tão somente nas questões do imediatismo material, na disputa dos valores amoedados, nos vícios sem conta, enfim, em comportamentos cristalizados nas expressões instintivas do ego.

Nessa interpretação as moradas já não seriam lugares circunscritos, mas estados do ser definidos pelos níveis de pensamentos, emoções e vivências, que se expressam através da mente e do cérebro humanos. Como a mente incorpora tudo aquilo em que se concentra, os nossos desejos e escolhas vão selecionando pouco a pouco a realidade com a qual nos afinizamos, nos ligando energeticamente a ela. As áreas do nosso cérebro que processam os conteúdos de nosso interesse se ativam e tomam ascendência sobre aquelas pouco utilizadas que vão sofrendo um processo de atrofia. A mente finda por limitar-se à capacidade de percepção da área cerebral superativada e à sua matriz perispiritual. No caso de essa área não ser capaz de captar uma realidade superior, o espírito embota-se, em processos difíceis de percepção da realidade espiritual e fixa morada nas regiões com as quais guarda sintonia. Tais considerações nos conduzem a pensar na mente e no cérebro físico, tanto quanto na matriz perispiritual, como verdadeiras moradas.

O médico desencardo André Luiz, através da psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, ao tecer considerações em torno da casa mental traz-nos os esclarecimentos do Instrutor Espiritual Calderaro, que define o cérebro como um delicado aparelho de expressão da nossa vontade na Terra e que divide-se em três regiões distintas, como se fosse uma casa: No primeiro andar temos o cérebro inicial sede das atividades subconscientes, área responsável pelos automatismos, pelos instintos, revelando o animal do passado. No segundo, região do córtex cerebral, temos a área do presente, ligada ao nosso esforço, a nossa consciência atual. No terceiro andar, onde se localizam os lobos frontais, temos o superconsciente, área do nosso ideal. Nessa morada, que a ciência humana ainda conhece tão pouco, existem materiais sublimes, potencialidades crísticas aguardando nossos bons desejos e escolhas para a sua ativação que ocorre sempre quando utilizamos as ferramentas da ação no bem, da oração, da
meditação, dos estudos, da arte nobre. 

Em 1990 o médico neurologista Paul Maclean lançou a teoria do cérebro trino, muito semelhante aos estudos de Andre Luiz, que nos auxilia a perceber melhor que, em realidade, possuímos três estruturas cerebrais que funcionam como verdadeiras moradas da nossa consciência, nos situando em especial naquela que melhor atende aos nossos anseios, sendo, assim, mais utilizada.

O Dr Maclean designa a área primitiva do nosso cérebro de cérebro reptiliano, incapaz de processar pensamentos altruístas. Migramos para essa morada em momentos de fúria assim como penetramos no superconsciente em nossos momentos de oração e naqueles em que colocamos o amor em ação. O bem estar que sentimos nessas ocasiões constituem a primícia do reino dos céus que o Mestre esclareceu estar dentro de nós. O cérebro relativo ao neocórtex, mais adiantado que é, processa nossas ilações lógicas e intelectuais.

É urgente irmos migrando pouco a pouco nossas centros de interesse da região do cérebro primário para as moradas superiores, selecionando aquilo que lemos, nossas palavras, nossos pensamentos, nossas atitudes, em um treino constante de metacognição, de auto conhecimento. Manifestações de egoísmo e de orgulho no nosso dia a dia estimulam o primitivismo do passado e não abrem nossa mente para as possibilidades maravilhosas do presente.

Jesus nos falou das muitas moradas na casa do Pai. Nossa vida, nossas escolhas, são estímulos que oferecemos às nossas moradas intrapsíquicas. No esforço de ascensão, em suas preces diárias, você pode se utilizar dos recursos da visualização e meditação.

Vamos a uma Vivência com Jesus?

Visualize o Mestre diante de você. Observe a energia luminosa que brota do Senhor... Perceba a harmonia que surge nesse momento envolvendo sua mente e seu coração... Apesar de seu corpo encontrar-se preso ao espaço e tempo linear, você está em um outro local. Jesus, com suas mãos iluminadas, aplica-lhe um passe. Sinta a luz descendo sobre seu corpo, entrando por seus poros, agindo em todos os níveis do seu ser... Peça que formas pensamento perturbadoras, que possam ter sido criadas nessa ou em outras vidas, assim como energias de traumas e ressentimentos, sejam neutralizadas pelo Mestre de nossas vidas. Após sentir as energias do Cristo trabalhando em seu corpo físico e na matriz perispiritual, deseje e peça a ativação paulatina de suas percepções superiores, o equilíbrio para as forças primitivas que ainda trazemos e o funcionamento harmônico das suas expressões na vida. Perceba que Jesus, em um deslumbramento de luzes, se transforma em uma estrela que vem pousar em seu coração...

Texto retirado do livro "Vivências com Jesus", de Yasmin Madeira


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