1 – Allan Kardec compilou a Doutrina Espírita há 160 anos. Pelo que conhece no mundo inteiro, a divulgação espírita está dentro do previsto pela espiritualidade?
Divaldo Franco – Quando Allan Kardec esteve entre nós, uma das suas
primeiras preocupações foi dizer-nos que deveríamos divulgar o Espiritismo por
todos os meios ao nosso alcance. Considerando-se, à época em que a doutrina
veio a lume, no século XIX, a divulgação, na atualidade, está dentro dos
melhores padrões da tecnologia, porque em toda a parte onde se forma um Centro
Espírita, de imediato há um interesse muito grande pela sua divulgação.
Divulgação,
porém, baseada na certeza da imortalidade da alma e da sua comunicação com a
criatura humana.
Do
ponto de vista filosófico, este é um dos passos mais audaciosos do pensamento,
porque desta forma, o Espiritismo matou a morte.
Desaparecendo
essa desintegração nuclear que constitui a criatura humana, nós temos agora a
imortalidade como um grande desafio a conquistar.
2 – O Brasil é o maior país espírita do
mundo, mas o facto de pelo menos metade dos espíritas fazerem do Espiritismo
mais uma religião, em oposição ao sentir de Kardec – uma doutrina filosófica de
consequências morais – universal e universalista, não prejudica a percepção,
para quem está de fora, do que é realmente o Espiritismo?
DF – É uma questão interpretativa, porque Allan Kardec também disse que o
Espiritismo também tem todos os fundamentos de todas as religiões, do ponto de
vista filosófico, é uma religião.
Quando
dizemos religião, logo nos vem à mente a tradição ortodoxa das teologias.
No
entanto, podemos ampliar o termo, a religião de fulano, do ponto de vista
profissional, a religiosidade do indivíduo, sem ter nada com Deus.
No
Brasil, nós adotamos a teoria de ciência, filosofia e doutrina moral, de
efeitos religiosos, porque tem como base Deus, a comunicabilidade dos
Espíritos, a reencarnação, e nos utilizamos de todos os recursos do verbo
religar, que é voltar a ligar aquilo que foi separado, e nesse sentido, temos a
oração.
Allan
Kardec dedica um dos maiores capítulos de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” à
oração. Portanto, os fundamentos religiosos estão perfeitamente exarados na
própria codificação, nas 5 obras básicas, razão pela qual disse que, no Brasil,
somos religiosos, do ponto de vista filosófico. Não temos culto, não temos
sacerdócio organizado, não temos dogmas, e somente aceitamos aquilo que a
lógica, o bom senso declaram, com fáceis e demonstradas pesquisas no
laboratório de pesquisa, razão pela qual nós tivemos em Charles Richet, prêmio
Nobel da Fisiologia, uma das mais notáveis demonstrações de aceitação desses
fenômenos, na carta que fez a uma das suas queridas amigas, afirmando que
aquilo que ele pensava era verdade.
3 – No mundo, os espíritas reconhecem o
tríplice aspecto da doutrina espírita – ciência, filosofia e moral – mas, na
prática, os espíritas só falam na moral (quase sempre confundindo-a com
religião). Isso não descaracteriza o Espiritismo? Com alterar este estado de
coisas?
DF – Ocorre que a população brasileira é uma população ainda relativamente
inculta. Nós temos apenas 500 anos de vida, quando me recordo que a Universidade
de Viena tem 1.000 anos, e quando me recordo que éramos ainda animais na
floresta e no entanto, em Coimbra, já havia uma Universidade.
É
natural que a nossa preferência seja afetiva, porque não adianta sermos
excelentes pesquisadores, confirmarmos a imortalidade, e não termos carácter. Não
adianta filosofar e, no entanto, termos um comportamento que não condiz com a
ética da filosofia.
A
Filosofia, para nós, é a aplicação da ética-moral do quotidiano, porque a
Humanidade se torna melhor, não pela lavra dos seus conhecimentos, mas através
do seu comportamento.
Recordo-me
que os EUA, hoje, apresentam o maior PIB do mundo, a comodidade, o conforto, os
prêmios Nobel, têm sido sempre reservados a notáveis artistas, inclusive desse
país. Todavia, o índice de suicídios é alarmante, a droga, a degradação da
família, a pobreza e miséria, 20 milhões de miseráveis nas ruas das grandes
cidades.
Então,
para nós, a ética-moral tem uma importância relevante, o que não nos deixa de
cuidar da questão científica. Hoje, no mundo, no Brasil, nós temos na
Universidade Federal de S. Paulo, pesquisas a respeito do cérebro, os estudos
profundos da glândula pineal. Tivemos o maior investigador de reencarnação,
Hernani Guimarães Andrade, que na palavra de Banerjee, realizou a maior
catalogação de fenômenos reencarnatórios. Temos investigadores, na Sociedade de
Medicina e Espiritismo, que se espalham pelo mundo e começaram no Brasil, uma
técnica de busca fisiológica da mediunidade, explicações do ponto de vista
fisio-psíquico e emocionalmente, em torno dessa peregrina faculdade que nos põe
em contacto com a vida transcendental.
4 – Sendo da natureza Humana o
corporativismo, não corre o Espiritismo o risco de ser mais uma organização
religiosa, um papado ou outro tipo de instituição?
DF – Na vida física, tudo é viável.
Tudo
é possível, no entanto o que temos demonstrado é exatamente o oposto.
No
nosso caso, em especial, estamos na comunidade mais miserável do Estado da
Bahia, e já atendemos 130.000 pessoas, que arrancamos das garras da miséria.
Educamos
crianças abandonadas da rua, 684 como se fossem filhos biológicos, portanto,
não temos aí um corporativismo, temos uma promoção da criatura humana, a sua
cidadania, a sua dignidade. Este é o objectivo essencial do Espiritismo.
Quando
Kardec nos fala da caridade, a palavra caridade, no entanto, está muito
desgastada. Hoje poderíamos substituí-la por Humanismo, solidariedade, mas nós
ainda preferimos a velha expressão do apóstolo Paulo, em Coríntios, quando ele
aborda a questão da caridade, hoje traduzida pela expressão do Amor, em algumas
igrejas de Jerusalém.
Dessa
forma, não há nenhum risco, mesmo porque com os homens, sem os homens e apesar
dos homens, o Espiritismo prosseguirá, palavras de Léon Denis.
Dessa
maneira, a doutrina é dos Espíritos e não dos homens, e quando os indivíduos,
pelo fator biológico, desencarnam, as suas ideias que não sejam prósperas,
morrem com ele.
Quantas
ideias passaram pela Terra e, no entanto, desapareceram com aqueles que as
apresentaram.
Percorro
o Brasil há 70 anos, conheço praticamente 2.000 cidades, e posso afirmar que
não há o menor risco de corporativismo, porque o Espiritismo é uma doutrina de
liberdade, cada um de nós vive no seu nível de consciência.
5 – Na opinião dos Espíritos, para
quando se prevê o aparecimento de um equipamento que detecte o perispírito, o
que seria uma antecâmara da assunção da imortalidade?
DF – Por enquanto ainda não há o interesse desse tipo de provas.
Quando,
na atualidade, se procuram provas através da mediunidade denominada de cura,
nas investigações através de aparelhos mais raros e especiais da tecnologia, a
imortalidade da alma, para nós o interesse é secundário, porque já foi
demonstrado. Allan Kardec e toda uma elite de cientistas do século XIX e XX,
demonstraram em laboratório a sua realidade. O mais fascinante, é notarmos que
essa demonstração não deve partir de nós, por causa do interesse, mas partir
dos cientistas.
Quando
verificamos que investigadores em diferentes áreas como há pouco, foram
publicadas obras em Harvard, demonstrando que a alma sobrevive ao corpo, em
várias partes da Inglaterra, dos EUA, da Suécia, da Noruega, da Alemanha, vêm a
público declarar a sua crença em Deus.
Em
lembro-me, por exemplo, do astrofísico inglês Sir James Jeans, que em 1966 já
declarava a sua crença na imortalidade da alma. Também me recordo, quando ele
teve ocasião de dizer que, antes, os cientistas pensavam que o Universo era uma
máquina, hoje, é base da ciência que o Universo é um Ser, um Ser que respira,
que se distende, que se contrai.
Naturalmente
há as bolsas do materialismo, daqueles que se comprazem em negar o que muitas
vezes nunca estudaram.
6 – No futuro, o Espiritismo será mais
um modelo de seita religiosa ou uma força cultural esclarecida, a exemplo do
trabalho que Kardec fez em meados do século XIX?
DF – Allan Kardec foi um pensador ímpar, com o seu carácter de cientista,
porque teve a coragem de enfrentar esse mundo desconhecido, como se ele tivesse
descoberto o microscópio das partículas menores, ou o telescópio para as
grandes partículas, ele utilizou-se da mediunidade, uma faculdade inerente da
criatura humana, desde o primata hominídeo, para poder demonstrar a
sobrevivência da alma.
Teve
um cuidado rigoroso ao fazer as suas observações, havendo escrito, ipsis líteris “O Espiritismo marcha ao lado da ciência, mas não se detém onde a
ciência pára. Quando a ciência provar que estamos errados num ponto,
abandonaremos esse ponto e seguiremos a ciência“.
Até
hoje, quando a Física de Newton, a chamada Física linear, foi colocada
naturalmente em plano secundário perante a Física das probabilidades, nós vemos
que, diariamente, a Física penetra no campo da energia, confirmando em essência
a Doutrina Espírita.
Se
passarmos à análise da Química molecular, e penetrarmos nas áreas profundas da
moderna psicologia, entre os anos de 1975 e 1977, na Califórnia, em Big Sur,
uma equipe de psiquiatras, psicólogos e fisiologistas, radiologistas,
patrocinados por um eminente estudioso checoslovaco, na sua época, hoje Checo,
constataram a imortalidade da alma, utilizando-se das mesmas ferramentas e de
aparelhos ultra-sensíveis, para poderem criar a Psicologia Transpessoal, que
acredita nos fundamentos básicos do Espiritismo.
Neste
momento, um jovem psicólogo, o Dr. Júlio Peres, tem levado médiuns a
universidades americanas, para pesquisas da faculdade, em estados alterados de
consciência.
Depois
que grandes aparelhos, em São Diego, levaram o indivíduo a conquistar a
consciência cósmica, através da doutora e pesquisadora Dhana Zoar, nós
verificamos que estamos a um passo de constatar, através dos que vêm de fora,
a imortalidade, enquanto nós damos os equipamentos para a comprovação da
mediunidade.
Quando
estudiosos da NASA estiveram em Uberaba, para examinarem cientificamente Chico
Xavier, levaram detectores vibratórios da aura e, constataram que todos nós
temos em média uma irradiação de 2 cm. Chico Xavier era portador da irradiação
de 25 metros de distância.
O
médium José Arigó, conseguia realizar dezenas de cirurgias graves por dia, sem
anestesia, sem nenhuma precaução de natureza infeciosa, muitas vezes de olhos
fechados e vendados, utilizando-se de uma faca infectada e, os casos eram
imediatamente constatados, porque se dava a hemóstase, não havia infecção,
havia naturalmente a cicatrização em menos de 3 minutos, provando a
imortalidade da alma.
7 – Muitos espíritas questionam em todo
o mundo, a posição de Jesus, dentro do Espiritismo. Os Espíritos referiram
Jesus como o Espírito mais evoluído que já tinha estado à face da Terra. Mais
tarde, Emmanuel, no livro “A Caminho da Luz” transformou-o no governador
espiritual da Terra, não havendo, neste caso a universalidade dos ensinos dos
Espíritos. Como ver esta questão?
DF – A frase está em “O Livro dos Espíritos”, questão 625, pergunta “Qual o
ser mais elevado que nos serve de modelo e guia?” e a resposta: “Jesus”.
Depois
encontramos em Léon Denis, que é o pioneiro da frase de que Jesus é o
construtor e o governador do nosso orbe.
Emmanuel,
pela autoridade que exerceu durante mais de 70 anos, através do médium mais
potente da História, adota este pensamento e, é um direito.
O
Espiritismo não nos castra, não tem um corpo ortodoxo a que deveremos obedecer,
não há um chefe que nos diga o que fazer.
A
opinião de Emmanuel é respeitável, eu pessoalmente, adiro “in totum”.
Conhecendo
o trabalho de Emmanuel, e conhecendo a sua autoridade, acredito que sendo Jesus
o ser mais elevado que Deus nos ofereceu para ser modelo e guia, seja o guia
espiritual da Terra, como consequência, seja o “governador” do nosso planeta.
Entrevista concedida à ADEP, em Calpe, XXIII Congresso Espírita Nacional (Espanha), em 4 de Dezembro de 2016.
Fonte:http://artigosespiritaslucas.blogspot.com/2017/03/divaldo-franco-fala-sobre-o-espiritismo.html
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