Falar do Mortos (Richard Simonetti)

Chilon (século VI a.C.), magistrado e filósofo espartano, um dos sete sábios da Grécia antiga, ensinava regras singelas de conduta que estariam presentes em qualquer manual de auto-ajuda, gênero literário que faz sucesso nestes dias de carências, dúvidas e temores.

Nas suas máximas, coletadas fragmentariamente em Vida de Ilustres Filósofos, de Diógenes Laércio (século III), recomenda Chilon: 

• Controla a língua… 

• Cultiva recato no casamento... 

• Respeita os mais velhos… 

• Vigia a si mesmo… 

Como se vê, nada diferente do que conhecemos.

Há um senso comum, conjugando a sabedoria dos séculos.

Exprime-se em máximas que operariam radicais mudanças na sociedade humana, se colocadas em prática. 

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Uma máxima de Chilon, utilíssima, fundamental, é pouco observada. Costuma-se fazer exatamente o contrário.

Recomenda o filósofo: 

Não fale mal dos mortos. 

Inicialmente, até falamos bem.

Num velório, à falta de ter o que dizer aos familiares, promovemos o finado ao exprimir nossas condolências: 

– Coitado! Tão bom… Morreu! 

Em breve, no próprio ambiente em que é velado o defunto, mudamos a postura.

Evocamos suas fragilidades, defeitos e episódios menos edificantes que lhe marcaram a existência.

Lamentável desrespeito diante do companheiro de pés juntos, vestindo o “pijama de madeira”.

Geralmente, os Espíritos desencarnados permanecem ligados ao corpo durante o velório.

Carecem de orações, não de críticas.

Em face da turvação mental em que se situam, assimilam as vibrações geradas por observações descaridosas dos presentes. Sentem-se perturbados e aflitos, sem perceber o que está acontecendo. 

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O “defunto”, não raro, reage à maledicência.

O maldizente poderá dar-se mal…

Ocorre principalmente quando o desavisado tece críticas contra alguém de parcas virtudes, que esticou as canelas há algum tempo. Adaptado à vida espiritual, mas não convertido ao Bem, poderá causar-lhe dissabores.

No livro Missionários da Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito André Luiz reporta-se a um episódio dessa natureza.

O autor e um companheiro foram à casa de certo homem, Vieira, que faltara a uma reunião na espiritualidade. Desejavam saber o que o impedira.

O sono é breve viagem ao mundo dos mortos.

Enquanto o corpo dorme, refazendo energias, transitamos pelas plagas do Além. 

São ensaios para a transferência definitiva, quando a senhora da foice nos convocar.

Os dois tarefeiros o encontraram em situação difícil.

Afastado do corpo em repouso no leito, Vieira quedava-se apavorado ante a presença de um Espírito que o ameaçava.

O indesejável visitante explicou que durante o jantar, conversando com familiares, o dono da casa tecera considerações desairosas à sua pessoa. Ele captara as vibrações negativas da crítica e viera tirar satisfações.

Vieira tremia, descontrolado, incapaz de uma reação.

Induzido por André Luiz e seu companheiro, despertou assustado, banhado em suor.

Guardava a impressão de que estivera com o dito-cujo. Mas, sem autocrítica, não percebeu que ele viera cobrar-lhe a leviandade.

Definiu a experiência como um pesadelo, que atribuiu a problema digestivo ou algo semelhante, sem perceber que nas fofocas contra o “morto” estava a origem de seu problema. 

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Chilon tem razão.

A piedade recomenda que oremos pelos mortos.

Manda a prudência: 

Não falemos mal deles! 


Autor: Richard Simonetti

Do livro: Luzes no Caminho

Fonte: http://www.richardsimonetti.com.br/artigos/exibir/69



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