Biografia: Viana de Carvalho

Foi o Major Dr. Manuel Viana de Carvalho um dos maiores tribunos espíritas do Brasil, destacando-se pela sua eloquência, erudição e destemor na pregação do Espiritismo.

Seu verbo inspirado, através de uma dicção impecável, de timbre sonoro e harmonioso, assumia, às vezes, tonalidades impressionantes, assomando-lhe aos lábios em tropos de empolgante beleza. Foi, na verdade, um mágico da palavra, esteta do sentimento e criador de sensibilidades, arrebanhando prosélitos e simpatizantes em sua “peregrinação” triunfante pelo Brasil afora.

Viana é considerado a glória dos oradores espíritas e se enfileira entre os que mais desenvolveram a propaganda do Espiritismo em terras brasileiras. Diz um seu biógrafo que “bem semelhante ao calor dos trópicos foi a alma desse novo Demóstenes e agitador de idéias”.

Viveu Viana de Carvalho uma vida intensíssima. Descrevê-la, toda ela, seria preciso um livro de muitas dezenas de páginas. Vamos, porém, resumi-la nas notas biográficas a seguir:

Manuel Viana de Carvalho nasceu na cidade de Iço (Ceará) aos 10 de Dezembro de 1874, filho do professor Tomás Antonio de Carvalho, provecto educador cearense, professor da Escola Normal do Ceará, e de D. Josefa Viana de Carvalho.

Fez os primeiros estudos de humanidades no Liceu de Fortaleza. Em 1891, matriculou-se na Escola Militar do Ceará (extinta mais tarde), e, ao fim desse ano, foi classificado em primeiro lugar na ordem de comportamento e de merecimentos intelectuais. Foi nessa época de efervescência mental que ele tomou conhecimento das obras de Allan Kardec. Entre alunos daquele estabelecimento, começou a espalhar as noções colhidas nos livros do Codificador do Espiritismo. A 3 de Novembro de 1894, foi promovido ao posto de Alferes, já tendo completado o curso preparatório naquela Escola.

A sua atividade propriamente de propagandista espírita só se acentuou quando, em 11 de Fevereiro de 1895, veio ao Rio matricular-se no curso superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha. Por causa de um incidente, no qual ficou depois provada a sua inocência, ele trancou a sua matrícula, indo servir na Fortaleza da Laje e, depois, no Realengo. Existia, então, funcionando em terras cariocas, o “Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil”, fundado por Angeli Torteroli, Dr. Ernesto dos Santos Silva, Carlos de Lima e Cirne e alguns outros espíritas da primeira hora nas lutas pela difusão do novo ideal. Viana ligou-se a esse grupo, de cujos componentes era o mais moço e, talvez por isso mesmo, o mais ardoroso, ocupando a tribuna todas as noites, perante compactos auditórios de 500 a 600 pessoas que se renovavam constantemente.

Durou essa campanha até Março de 1896, data em que se transferiu para Porto Alegre como aluno da Escola Militar que ali tinha sua sede. Fez, então, o 1º. e 2º. ano do curso superior. Na capital gaúcha, o Espiritismo era propagado por meia dúzia de intimoratos profitentes, entre os quais se destacava uma culta e corajosa mulher, D. Mercedes Ferrari. Viana procurou o velho Joaquim Xavier Carneiro, que gozava de certa influência pela sua austeridade de costumes e muitos atos de benemerência, e que então dirigia o Grupo Espírita Allan Kardec. Obteve dele a indicação de nomes e residências de alguns adeptos, conseguindo reuni-los em casa abandonada, dentro de terreno baldio no bairro do Partenon. Na sala do prédio não havia nem mesa nem cadeiras para os assistentes. Todos de pé escutavam, com vivo interesse, as palavras de animação e o apelo caloroso de Viana no sentido de uma difusão maior da Doutrina naquela cidade. Como resultado, fundou-se um núcleo de estudos que, dali por diante, funcionou no andar térreo de uma casa comercial da Rua dos Andradas. Correram dois anos de tentativas, ora interrompidas, ora recomeçadas, mas produzindo sempre resultados benéficos para a Causa espírita.

Publicou em Porto Alegre, ainda em 1898, a sua primeira produção literária – “Facetas”, contos e fantasias, prefaciado por Cármen Dolores, pseudônimo da escritora e poetisa Emilia Bandeira de Melo. Segundo escreveu o Barão Guilherme Studart, a obra foi “bem acolhida pelos homens de letras e pela imprensa”. Seguiu-se a esta, mais tarde, outra obra elogiada – “Coloridos e Modulações”.

O ano de 1898 veio encontrar Viana de novo no Rio de janeiro, reencetando as preleções no Centro da União Espírita e em outros diversos Grupos.

Tomou parte ativa no Congresso Espírita que se efetuou por essa ocasião. Até 1905 militou com maior ou menor operosidade no meio carioca e em viagens ao interior do Estado do Rio. Classificado no 8º. Batalhão de Infantaria, em Cuiabá (Mato Grosso), transportou-se para essa cidade, onde fundou o Centro Espírita Cuiabano, dotando-o de todos os serviços necessários a uma forte e intensa propaganda. Em 1907, regressou ao Rio a fim de matricular-se no curso de engenharia da Escola do Realengo. Apesar disto, continuou na difusão dos seus princípios religiosos, frequentando várias sociedades espíritas, inclusive a Federação Espírita Brasileira, da qual foi o orador oficial em várias sessões comemorativas, quer na própria sede da FEB, quer no salão de honra da antiga Associação dos Empregados no Comércio, ante auditórios sempre lotados. Do Rio saía, ainda, em numerosas excursões a Minas Gerais, São Paulo, Estado do Rio e Espírito Santo, em companhia de outro grande espírita, Ignácio Bittencourt.

“Reformador”, o órgão da Federação Espírita Brasileira, igualmente recebeu, por essa ocasião, e nos anos seguintes, a colaboração escrita de Viana de Carvalho, em artigos que primavam pela linguagem elevada e escorreita, pela riqueza de conceitos doutrinários e por vasta erudição literária, cientifica, filosófica e religiosa, mostrando ser, às vezes, profundo conhecedor da extensa fenomenologia espírita.

Concluindo o curso de engenharia militar, embarcou para Fortaleza em Abril de 1910. A 1º. de Maio desse ano, iniciou uma série de conferências na “Loja Igualdade” e, logo depois (10 de Junho), instituiu o “Centro Espírita Cearense”, criando o jornal “Lábaro”, exclusivamente doutrinário, e o “Combate”, órgão de contestação ao clero católico, que desencadeara violenta campanha contra o Espiritismo pelo “Cruzeiro do Norte”. As conferências semanais, proferidas nos salões das Lojas Maçônicas “Igualdade” e “Liberdade”, atraíam multidões, levantando, por isso, grande oposição por parte do clero alarmado. Algumas dessas conferências foram publicadas, em extratos, pela “Folha do Ceará”. Travou-se ali vivíssima polêmica, tendo Viana de Carvalho defendido, sem repouso, o Espiritismo pelas colunas de “A República”, do “Jornal do Ceará” e do “O Unitário”, folha esta dirigida pelo fulgurante jornalista Cel. João Brígido dos Santos, que se tornara amigo do ardoroso tribuno espírita.

Essa verdadeira cruzada em Fortaleza se prolongou até Novembro de 1911.

Por imposição do serviço militar, teve ele de seguir para Curitiba (Paraná). Aí realizou várias exposições doutrinárias, publicando diariamente artigos do mesmo gênero no “Diário da Manhã”. Regressando ao Rio, em 1912, principiou a preparar, com meticuloso cuidado, os grupos existentes nos subúrbios, a fim de tornar possível a organização da futura “União Espírita Suburbana”, fundada em 1916, sob a presidência de Manuel Fernandes Figueira, venerando culto do Espiritismo em terras da Guanabara.

Viana e Ignácio Bittencourt, outro brilhante orador, por várias vezes representaram a Federação Espírita Brasileira em diversas instituições espíritas, tanto da Guanabara quanto do Estado do Rio, e fizeram a propaganda em muitas Associações neutras que os convidavam a expor a Doutrina. Nessa ocasião, tornou-se dedicado membro da Comissão de Assistência aos Necessitados da FEB.

Em princípios de 1913, Viana de Carvalho foi servir em Maceió (Alagoas), onde, além de proferir inúmeras conferências, algumas delas sintetizadas no “Correio de Maceió”, reorganizou os Grupos espíritas que se achavam em decadência. Logo em seguida, partiu para Recife. Novas conferências e outra polêmica que abalou profundamente os arraias católicos daquela cidade, cujos jornais “A Província” e o “Diário de Pernambuco” falavam de assistências de 800 pessoas, em que se contavam distintíssimas famílias, jornalistas, homens de letras e representantes de todas as classes sociais. Como sempre, as lojas maçônicas franqueavam seus salões a essas concorridas conferências.

Voltando ao Rio, em 1914, Viana retomou a pregação do Espiritismo nos subúrbios, até 1916, quando embarcou para a cidade de Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul. Aí fundou e reorganizou diversos grêmios, realizando várias conferências e publicando no “Diário do Interior” estudos relacionados com a Doutrina Espírita, que foram reproduzidos em alguns outros órgãos da imprensa sul-riograndense.

Em 1917 regressou ao Rio, onde desenvolveu especial atividade, combatendo as fraudes e trapaças do falso Espiritismo. Logo no ano seguinte, voltava a Santa Maria da Boca do Monte, como assistente da 9ª. Brigada de Infantaria, em comissão do Governo, ali demorando quinze meses em trabalhos de expansibilidade da propaganda espírita.

Por essa época (1918), “Reformador” já assinalava, num artigo sobre Viana de Carvalho: “Quando houver de escrever-se a história da evolução espírita em nossa Pátria, o artista tribuno e vibrante polemista terá o seu lugar de destaque pela feição múltipla de sua atividade inconfundível”.

Em princípios de 1919, voltou ao Rio de Janeiro, para, pouco depois, embarcar rumo a Maceió, onde tentaram proibir-lhe as palestras e até mesmo expulsá-lo. Viana fundou ali diversos centros de estudo do Espiritismo, e travou, pela imprensa e pela tribuna, desassombrada polêmica com os adversários, cuja investida raivosa chegou a ponto de pleitear, no Rio de Janeiro, a transferência do ilustre oficial, sendo ele removido para o Paraná, em meados de 1919.

Em Curitiba fez muitas conferências na Federação Espírita do Paraná e em outras sociedades congêneres, bem como no Teatro Alemão, diante de numerosíssimo público. Escreveu, ainda, no “Diário da Tarde”, com assiduidade.

De Curitiba veio para a cidade de São Paulo, e ocupou a tribuna de várias sociedades, inclusive da Associação Espírita S. Pedro e S. Paulo, na qual falou a assembléias de mais de mil pessoas, despertando grande interesse, sobretudo entre os intelectuais que, levados pela fama do orador, compareciam àquelas reuniões.

Em 1920 voltou ao Rio de Janeiro, trabalhando em muitos núcleos, entre os quais o Abrigo Teresa de Jesus, a União Espírita Suburbana, o Grêmio Nazareno, o Centro Antonio de Pádua, a União dos Trabalhadores de Jesus, a Tenda Espírita de Caridade, o Centro José de Abreu, o Grupo Espírita Sebastião, etc.

Por essa época, através do “Reformador”, incentivou a criação, em todas as Sociedades espíritas, de escolas de moral cristã, destinadas às crianças, declarando que esse problema jamais deveria ser descurado.

Em 1921 esteve no Estado de São Paulo e pronunciou conferências em Caçapava e outras cidades.

Viana de Carvalho cultivava a música clássica. Era exímio violinista.

Querido e respeitado em todos os meios espíritas, desde o mais obscuro ao mais culto, Viana procurou promover a unificação dos Centros, convocando para isso, uma reunião dos presidentes de agremiações, na Rua Camerino, onde se procurou dar uma feição nova à prática do Espiritismo, dentro dos moldes da uniformização dos trabalhos e da orientação doutrinária.

Em 1923, seguiu para Recife, organizando e orientando os Centros ali existentes, sendo obrigado a entrar em nova e rija polêmica com os representantes do clero.

Depois, rumou para Fortaleza e daí para Sergipe, onde fora designado para comandar o 28º. B. C., isto em 1924. Sua atividade em Aracaju foi muito grande: conferências, artigos em jornais, visitas, etc., animando sobremaneira o meio espírita aracajuano. Como comandante, tornou-se bastante querido, do soldado raso ao oficial superior.

Em 1926, adoeceu gravemente, ficando resolvido o seu recolhimento ao Hospital de São Sebastião, em Salvador, quando suas forças não mais lhe permitiam levantar-se do leito.

Em maca, foi conduzido ao paquete “Iris” por colegas oficiais e alguns praças e pelos Senhores Deputado Macena Peixoto, Dr. Francisco Menezes, Cizídio Marques e outros amigos, tendo vários homens do povo acompanhado o Viana até o trapiche do Lloyd.

Na altura de Amaralina, às 6,30 horas, o oficial desencarnava a bordo, tendo ao lado o “Gaguinho”, seu dedicado enfermeiro, sendo o corpo sepultado na Bahia, cremos que em Salvador. Era o dia 13 de Outubro de 1926.

Militar disciplinado, com reais serviços à Pátria e ao Exército Nacional, o Major Manuel Viana de Carvalho – o “Manu”, como era tratado na intimidade dos seus familiares, ou o “Vianinha”, no seio da confraria – foi o grande paladino que fez do Espiritismo a sua bandeira, desfraldando-a por esses “Brasis” afora e defendendo-a com desassombro e galhardia.

Na imprensa e na tribuna, foi o arauto da boa-nova espírita, salientando-se entre os mais destacados propagandistas, que não conhecia cansaço nem recuo.

Seus improvisos na tribuna, abrilhantados pelos arroubos do verbo candente que magnetizava e empolgava os auditórios, foram acontecimentos marcantes na História do Espiritismo em nossa terra.

“Como bandeirante da ideia, como desbravador de searas”- assinalou o “Reformador” – “é força convir que a sua obra doutrinária não tem paralelo no Brasil, ninguém fez mais nem melhor”. 

Fonte: http://www.omensageiro.com.br/personalidades/personalidade-33.htm 


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