A Conjuntura Política Contemporânea e o Ter e o Ser

O homem contemporâneo confronta inúmeros paradoxos cotidianos. Busca o prazer a todo custo, almeja o progresso e a evolução da técnica, desde que obtenha a satisfação de suas necessidades materiais. É a valorização extrema do ter sobre o ser. O espaço dedicado à valorização do ser é exíguo e enfadonho nos comenos do agora, enquanto a inquietude expressada na ambição desmedida prevalece a ratificar os prazeres imediatos.

Sem dúvida, a humanidade avança obcecada pelos anseios de uma existência cada vez mais confortável. Descobertas admiráveis se efetivam no campo da tecnologia da informação. É claro que tais acontecimentos evidenciam o seu lado positivo, é só observar o quanto o homem tem progredido na feição intelectiva ao descortinar horizontes promissores no âmbito do conhecimento. Contudo, retornemos à proposta inicial do nosso argumento. Há paradoxo, pois, apesar do progresso evidente das ciências, a criatura humana ainda sente dificuldade em manter um relacionamento harmônico com o seu semelhante e, por extensão, com o habitat que a acolhe. Que paradoxo é estar no mundo e não ser deste mundo. 

Como transcender a materialidade do planeta que habitamos para viver a plenitude do amor?

Inexiste mágica, pois tudo é aprendizado. Resta-nos entender o modo aceitável de conviver com os nossos desejos satisfeitos ou negados e aprender a lidar com os conflitos mentais decorrentes de conexões estruturadas em nosso psiquismo profundo. Diante disso, embora não desejemos, repetimos os mesmos equívocos de outrora.

Agreguemos agora a esse modo de pensar novos níveis de entendimento. Admitamos a possibilidade de que nossos desejos suscitem dúvidas e equívocos, quando satisfeitos ou não. Isso se deve à ligação do presente com o pretérito, por intermédio de ações sutis responsáveis pelas conexões entre campos mentais já estruturados.

Aqui no orbe mantemo-nos em constante aprendizagem, desenvolvendo a capacidade de discernir o que realmente necessitamos. Em geral, não conquistamos com desembaraço as necessidades prementes de nossa alma, estacionando na superficialidade das ambições pueris em razão da imaturidade espiritual, ainda cultivada. Como poderemos suplantar a superficialidade das ilusões mundanas e aspirar ao progresso moral, sem que nos desliguemos das conjunturas atávicas da própria mente?

Tal aglomeração (usamos esse termo para qualificar um conjunto constituído por departamentos mentais, a gravitar em torno de nossos desejos) se constitui verdadeiro sistema de auto preservação, por isso, tornar-se difícil modificar as suas exteriorizações sem que alteremos o fulcro de atração e de contração. Para desfazer esse aglomerado energético, precisamos mudar as rotas mundanas traçadas como importantes. São caminhos alicerçados em ambições temporais, responsáveis pela satisfação do existir. Eis aí o motivo da demorada transformação interior de cada um. É difícil erradicar de nossa mente aquilo que tanto desejamos, uma vez que a intensidade do querer é quase que desmedida a se debater com a real necessidade do ser. 

Com frequência repetimos condicionamentos pretéritos. E assim acontece, porquanto, em nosso universo mental subsiste um arcabouço complexo forjado à custa do pensar e do agir. Então, erigimos campos mentais que, em verdade, são energias ativas, registros vividos a se exteriorizarem, o que nos transmite certa segurança por se tratarem de caminhos conhecidos. Constantemente recebemos influências dos próprios campos mentais usando a dinâmica operacional dos pensamentos. Entretanto, o mecanismo inverso também é possível, pois podemos ativar os mesmos campos por meio do pensar e do agir. E tal pode acontecer de maneira harmônica ou desequilibrada. À medida que nos conheçamos melhor, menor será a possibilidade de incidirmos nos mesmos equívocos e condicionamentos do passado. Por isso, os grandes filósofos repetem há milênios: “conhece-te a ti mesmo”. 

Texto original de Lancelin, Espírito. 

Correlação política de Zigomar Ricardi



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