Um "Ateu" Cristão (Bismael B. Moraes)

As recentes discussões pela imprensa sobre a intolerância contra os que se dizem ateus, - por não terem ainda descoberto a importância de Deus (não como homem ou mulher, negro ou branco, letrado ou analfabeto, mas como “causa primária e inteligência suprema do Universo”, eterna energia criadora) -, fizeram-me lembrar da figura de um ilustre amigo, falecido em 2010, o Major Brigadeiro do Ar Teodosio Pereira da Silva, na época, 1985/86, Superintendente da INFRAERO Regional, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Jocosamente, os trabalhadores, à boca pequena, o apelidaram de TPS, usando as iniciais de seu nome, para lembrar o Terminal de Passageiros e Serviços dos aeroportos. Em conversa com esse homem, disse-me ele que, em toda a sua vida, jamais conseguiu atinar para o que fosse “esse Deus, de que tantos falam, e que, por isso, se tornava difícil n’Ele acreditar”.

Entretanto, naquele mesmo instante, aquele homem, pertencente ao círculo de oficiais generais da Aeronáutica, praticou um ato de humildade digno dos espíritos mais evoluídos: quando, à paisana e de mãos para trás, sua ronda pelas dependências térreas do aeroporto, foi proibido, rispidamente, por uma senhora da limpeza, para que não entrasse em determinado compartimento. E o Major Brigadeiro pediu desculpa e ainda lhe disse: “A senhora está certa, não deixe ninguém entrar aí!”. E, continuou sua ronda, placidamente, sem demonstrar qualquer constrangimento, nem se identificar como superior ou como Superintendente. 

(Observe-se: antes de o Brigadeiro assumir a Regional da INFRAERO e o Aeroporto Internacional, aquela chefia era de um Coronel, que reservou um dos elevadores da área administrativa exclusivamente para ele, Superintendente, com a seguinte ordem à ascensorista: “Neste elevador, só podem subir e descer o Superintendente e o Delegado de Polícia!”. O subscritor, à época Titular da Delegacia, em fevereiro de 1985, ao saber disso, jamais subiu ou desceu por aquele elevador, fazendo-o sempre no elevador de todos os demais servidores. E essa ordem absurda e preconceituosa, também, foi banida pelo Major Brigadeiro “TPS”).

O mundialmente conhecido médico e escritor escocês Sir Arthur Conan Doyle, criador do famoso detetive Sherlock Holmes, mas que também escreveu “A História do Espiritismo”, em seu livro “A Nova Revelação” (traduzido por Guillon Ribeiro, Editora FEB, 1996, Brasília, DF, 5ª edição, página 31), registra o seguinte: “Todos os credos religiosos, cristãos ou não cristãos, têm seus santos e seus pecadores; se um homem é bondoso e humilde, não há por que temer pelo destino de sua alma, seja ou não membro de uma igreja organizada na Terra”. 

Pois bem. Como vimos no episódio da faxineira com o Brigadeiro, ele não desfez da humilde trabalhadora. Agiu como um anjo do bem, exercitou o ato próprio de um bom filho de Deus, embora os mais afoitos e despreparados espiritualmente, de modo errôneo, ousassem chamá-lo de “ateu”. Em verdade, ele sempre foi, sem o dizer, um cristão exemplar, e comprovou que a evolução moral e o comportamento fraterno não exigem galões ou diplomas, nem mesmo adorações exteriores nos templos!

(*) BISMAEL B. MORAES, advogado, Mestre em Direito Processual pela USP, professor universitário, autor de 18 livros, dentre os quais “Estado e Segurança diante do Direito” (Ed.RT/SP/2008) e “Mensageiros Amnésicos e outros temas ante o Espiritismo” (Ed. IBRASA/SP/2009), é membro da União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de São Paulo – UDESP e trabalhador do CEI – Centro Espírita Ismael, no Jaçanã, na Capital/SP.

Fonte:http://www.ceismael.com.br/tema/ateu-cristao.htm

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