Jardins que Curam

Existe uma poção mágica espalhada nas cores, texturas, aromas e simbologias de cada canteiro, praça e parque florido da cidade.

Quando apreciamos uma folhagem ou uma flor, mesmo em vaso, a mente desacelera, o coração se abre e podemos acolher uma visão nova da vida. 

“Um jardim se torna curativo quando desperta os nossos sentidos nos extasiando com alimentos, aromas, texturas, cores e sons”, explica o meu amigo paisagista Toni Backes, de Nova Petrópolis, RS. 

Talvez cada um dos sentidos oculte uma chave que, ao ser encontrada, nos ajuda a aprimorar a relação com o mundo. Procurei por elas em seis jardins (um para cada sentido) que visitei. 

VISÃO: as tulipas do Vondelpark, um dos 30 parques de Amsterdã, na Holanda, dão um espetáculo multicolorido de encantamento em contraste com as árvores e o gramado. “A variedade de elementos e cores torna o jardim − e a vida − mais equilibrados”, ensina Toni. “Da diversidade é que nasce a beleza.”

TATO: quantas descobertas me trouxe o Jardim Japonês de Buenos Aires, na Argentina, por conta do diálogo entre madeira, pedras, bambu, areia, água... Tocando-os, com a mão ou descalço, treinei me aproximar gentilmente das coisas e acolher as diferenças que existem no mundo. 

PALADAR: legumes, frutas e verduras aumentam o potencial curativo do jardim da querida Magui, herborista, no Sítio Sertãozinho, em Minas Gerais. Ela cultiva repolhos e alfaces em meio a ervas e flores que, nas deliciosas receitas que prepara, festejam a abundância, o compartilhar e nos conduzem à gratidão.

OLFATO: jamais me esquecerei das ruas de Avignon, na França, ajardinadas com cheirosas lavandas e alecrins. Os ares perfumados da cidade me estimulavam a fé constante na vida. “No odor das plantas, podemos sentir o céu.”

AUDIÇÃO: nos pátios dos palácios La Alhambra (deslumbrantes), em Granada, Espanha, a água escorre em fontes, pequenos lagos e até pelos corrimãos das escadas. Ela é o elemento principal desses jardins de influência árabe criando movimento, sons e reflexos de luz. A água nos ensina a fluir, a liberar e a perdoar. 

INTUIÇÃO (sexto sentido): na área verde do templo budista Jokhang, em Taiwan, China, tudo é simbólico. Além das imagens sacras, um portal em forma de lua cheia representa a luz da sabedoria; uma grande pedra de rio nos lembra de priorizar os valores eternos (a pedra) na vida humana transitória (a água corrente). A devoção nos fortalece na lida diária. Reuni encantamento (folhagens coloridas), acolhimento (texturas diferentes), partilha (plantas comestíveis), fé (plantas aromáticas), perdão (o som da água) e devoção (um objeto sagrado) num único vaso e comecei a preparar o meu jardim de cura para enverdecer, digo, enaltecer a vida. “Replantar o mundo é indispensável, pois a vegetação nos regenera e conserva o solo, a água e o ar”, conclui Toni, que coordena em outubro um encontro sobre jardins de cura (paisagismoregenerativo.com.br). “Foram as plantas que permitiram que as formas mais elevadas de vida habitassem o planeta, e só elas podem restaurar e sustentar essas condições.”

Autor: Carlos Solano

Fonte:http://bonsfluidos.uol.com.br/noticias/inspiracao/jardins-de-cura.phtml#.VoElRlIYE_h


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