Personagens do texto abaixo:
- Áulus: Espírito orientador de André Luiz, no plano
espiritual.
- André
Luiz: Espírito que ditou o texto abaixo,
por intermédio do médium Chico Xavier.
- Hilário: Espírito companheiro de André Luiz.
- Clementino: Espírito supervisor (mentor) espiritual –
responsável pela reunião mediúnica.
- Antônio
Castro: O médium
Chegara a vez do médium Antônio Castro.
Profundamente concentrado, denotava a confiança com que se oferecia aos
objetivos de serviço.
Aproximou-se dele o irmão Clementino e,
à maneira do magnetizador comum, impôs-lhe as mãos aplicando-lhe passes de
longo circuito.
Castro como que adormeceu devagarinho,
inteiriçando-se-lhe os membros.
Do tórax emanava com abundância um
vapor esbranquiçado que, em se acumulando à feição de uma nuvem, depressa se
transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata do médium, em tamanho
ligeiramente maior. Nosso amigo como que se revelava mais desenvolvido,
apresentando todas as particularidades de sua forma física, apreciavelmente
dilatadas.
O diretor espiritual da casa submetia o
medianeiro à delicada intervenção magnética que não seria lícito perturbar ou
interromper.
O médium, assim desligado do veículo
carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordão vaporoso que o prendia ao
campo somático.
Enquanto o equipamento fisiológico
descansava, imóvel, Castro, tateante e assombrado, surgia, junto de nós, numa
cópia estranha de si mesmo, porquanto, além de maior em sua configuração
exterior, apresentava-se azulada à direita e alaranjada à esquerda.
Tentou movimentar-se, contudo, parecia
sentir-se pesado e inquieto…
Clementino renovou as operações
magnéticas e Castro, desdobrado, recuou, como que se justapondo novamente ao
corpo físico.
Verifiquei, então, que desse contacto
resultou singular diferença. O corpo carnal engolira, instintivamente, certas
faixas de força que imprimiam manifesta irregularidade ao perispírito,
absorvendo-as de maneira incompreensível para mim.
Desde esse instante, o companheiro,
fora do vaso de matéria densa, guardou o porte que lhe era característico.
Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer
deformidade, leve e ágil, embora prosseguisse encadeado ao envoltório físico
pelo laço aeriforme, que parecia mais adelgaçado e mais luminoso, à medida que
Castro (espírito) se movimentava em nosso meio.
Enquanto Clementino o encorajava com
palavras amigas, o nosso orientador, certamente assinalando-nos a curiosidade,
deu-se pressa em esclarecer: Com o auxílio do supervisor, o médium foi
convenientemente exteriorizado. A princípio, seu perispírito ou «corpo astral» estava
revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o
corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como sendo o «duplo
etérico», formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao campo
fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da
organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao
instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora. Para melhor ajustar-se ao
nosso ambiente, Castro devolveu essas energias ao corpo inerme, garantindo
assim o calor indispensável à colmeia celular e desembaraçando-se, tanto quanto
possível, para entrar no serviço que aguarda.
Ah!, disse Hilário, com expressão
admirativa, aqui vemos, desse modo, a exteriorização da sensibilidade!…
Sim, se algum pesquisador humano
ferisse o espaço em que se situa a organização perispirítica do nosso amigo,
registraria ele, de imediato, a dor do golpe que se lhe desfechasse,
queixando-se disso, através da língua física, porque, não obstante liberto do
vaso somático, prossegue em comunhão com ele, por intermédio do laço fluídico
de ligação.
Observei atentamente o médium projetado
ao nosso círculo de trabalho.
Não envergava o costume azul e cinza de
que se vestia no recinto, mas sim um roupão esbranquiçado e inteiriço que
descia dos ombros até o solo, ocultando-lhe os pés, e dentro do qual se movia,
deslizante.
Áulus registrou-me as anotações íntimas
e esclareceu: Nosso irmão, com a ajuda de Clementino, está usando as forças
ectoplásmicas que lhe são próprias, acrescidas com os recursos de cooperação do
ambiente em que nos achamos. Semelhantes energias transudam de nossa alma,
conforme a densidade específica de nossa própria organização, variando desde a
sublime fluidez da irradiação luminescente até a substância pastosa com que se
operam nas crisálidas os variados fenômenos de metamorfose.
Depois de fitar o médium hesitante
alguns momentos, prosseguiu: Castro é ainda um iniciante no serviço. À medida
que entesoure experiência, manejará possibilidades mentais avançadas, assumindo
os aspectos que deseje, considerando que o perispírito é constituído de
elementos maleáveis, obedecendo ao comando do pensamento, seja nascido de nossa
própria imaginação ou da imaginação de inteligências mais vigorosas que a nossa,
mormente quando a nossa vontade se rende, irrefletida, à dominação de Espíritos
tirânicos ou viciosos, encastelados na sombra.
Nosso amigo, então, se pudesse pensar
com firmeza fora do campo físico, se já tivesse conquistado uma boa posição de
autogoverno, com facilidade imprimiria sobre as forças plásticas de que se
reveste a imagem que preferisse, aparecendo ao nosso olhar como melhor lhe
aprouvesse, porque é possível estampar em nós mesmos o desenho que nos agrade.
Importa reconhecer, contudo, que esse
desenho, embora vivo, não é comparável ao vestuário em nosso plano…
Áulus acrescentou: De modo nenhum, o
pensamento modelará a forma que nos inclinamos a adotar, no entanto, os
apetrechos de nossa apresentação na esfera diferente de vida a que fomos
trazidos, segundo vocês já conhecem, variarão em seus tipos diversos.
Lembremo-nos, para exemplificar, de um
homem terrestre tatuado. Terá ele escolhido um desenho, através do qual a sua
forma, por algum tempo, se faz mais facilmente identificável, mas envergará a
vestimenta que mais lhe atenda ao bom gosto, conforme as usanças do quadro
social a que se ajusta.
Durante o desdobramento, o médium não
deve dispersar a atenção. O médium, sendo incipiente ainda nesse gênero de
tarefa, precisa de instrumentação adequada para reduzir a própria capacidade de
observação, de modo a interferir o menos possível na tarefa a executar. Esta
instrumentação consiste de um capacete, do plano espiritual, em forma de
antolhos, a fim de evitar o desvio de atenção…
A oração do grupo, acompanhando-o na
excursão e transmitida ao médium, de imediato, constitui-lhe abençoado tônico
espiritual…
O corpo físico do médium funciona como
se lhe fosse um aparelho radiofônico para comunicações a distância…
Raros Espíritos encarnados conseguem
absoluto domínio de si próprios, em romagens de serviço edificante fora do
carro de matéria densa. Habituados à orientação pelo corpo físico, ante
qualquer surpresa menos agradável, na esfera de fenômenos inabituais, procuram
instintivamente o retorno ao vaso carnal, à maneira do molusco que se refugia
na própria concha, diante de qualquer impressão em desacordo com os seus
movimentos rotineiros.
O médium em estado de desdobramento,
afastado do corpo físico, encontrando-se com um espírito que deseje se
comunicar, o médium pode servir de intermediário. O seu corpo físico pode
modificar a expressão fisionômica ao transmitir a mensagem do espírito
comunicante.
Normalmente, o médium ao retornar ao
seu estado normal, na posse de todas as suas faculdades normais, pode esfregar
os olhos como quem desperta de grande sono.
Fonte:https://artigosespiritas.wordpress.com/2015/10/28/desdobramento-em-servico/#more-3192
Ótima dissertação sobre o desdobramento.
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