Quem pode atirar a primeira pedra? (Richard Simonetti)

Jesus transmitia suas lições, quando surgiram alguns escribas e fariseus trazendo uma mulher, e explicando: 

“MESTRE, ESTA MULHER FOI SURPREENDIDA EM ADULTÉRIO. MOISÉS ORDENOU-NOS QUE SEJA APEDREJADA. TU, POIS, O QUE DIZES?”

Para tal acusação, a lei mosaica, que está em Levítico (20:10), dizia: "Se um homem cometer adultério com a mulher de seu próximo, ambos, o adúltero e a adúltera, certamente serão mortos." E em Deuteronômio (22:22), dizia: "Se um homem for achado deitado com uma mulher casada, ambos serão mortos." 

Como sabemos, a legislação era muito rigorosa. E quem a aplicava era muito machista, pois estavam condenando apenas a mulher, o adúltero da história que também deveria ser punido, não foi trazido. 

Mas escribas e fariseus estavam mal intencionados. Submetendo a adúltera a Jesus, prepararam a armadilha perfeita, infalível. Se Jesus não a condenasse, estaria contestando a lei de Moisés. O que seria falta grave. Seria apontado como traidor. E se Ele a condenasse, perderia a simpatia popular e ficaria mais fácil diminuir sua influência. 

Mas o Mestre não se abalou. Sentado, escrevia na areia, como se meditasse. Após momentos de grande expectativa, pronunciou seu imorredouro ensinamento: “AQUELE QUE DENTRE VÓS QUE ESTÁ SEM PECADOS, ATIRE A PRIMEIRA PEDRA.” 

Pesado silêncio fez-se sentir. Ante a força moral daquele que devassava suas fraquezas, ninguém se sentia autorizado a iniciar a execução. Então, pouco a pouco, dispersou-se a multidão, começando pelos mais velhos, até chegar aos mais moços. 

Em breve, Jesus estava sozinho com a adúltera. Perguntou-lhe, então: “MULHER, ONDE ESTÃO ELES? NINGUÉM TE CONDENOU?” Ela respondeu: “NINGUÉM SENHOR.” Ele então finalizou dizendo: “NEM EU TAMPOUCO TE CONDENO. VAI E NÃO PEQUES MAIS.”

Nesta passagem vemos uma vez mais a extraordinária lucidez de Jesus, ágil no raciocínio, a confundir seus opositores, e ainda aproveita o ensejo para um ensinamento fundamental: NINGUÉM É SUFICIENTEMENTE PURO PARA HABILITAR-SE A JULGAR AS IMPUREZAS ALHEIAS. Essa ideia é marcante no ensinamento cristão. 

Jesus situa como hipócritas os que não enxergam lascas de madeira em seus olhos e se preocupam com meros ciscos em olhos alheios. Observam falhas mínimas no comportamento dos outros e não encaram gritantes defeitos em si mesmos.

Quem estuda as obras de André Luiz percebe claramente que os Espíritos orientadores jamais usam adjetivos depreciativos. Não dizem: “Fulano é um cafajeste, um vagabundo, um pervertido, um mau caráter, um criminoso, um monstro.” 

Veem o irmão em desvio, o companheiro necessitado de ajuda, o enfermo que precisa de tratamento...

Consideram que todo julgamento é assunto para a Justiça Divina.

Só Deus conhece todos os detalhes.

Mesmo quando lidam com obsessores, tratam de socorrê-los sem críticas, situando-os como irmãos em desajustes.

Por isso, Chico Xavier, que viveu esse ideal evangélico de fraternidade autêntica, não pronunciava comentários desairosos.

Se alguém comete maldades, não diz tratar-se de um homem mau.

É apenas alguém menos bom.

Faz sentido!

Somos todos filhos de Deus.

Fomos criados para o Bem.

O mal em nós é apenas um desvio de rota, um equívoco, uma doença que deve ser tratada.

A fórmula para esse visão tem dois componentes básicos: a intransigência (rigoroso) e a indulgência (uso do perdão). 

Pode parecer tolice. Afinal, são atitudes antagônicas (opostos).

Mas é simples:

• Devemos ser intransigentes conosco. Vigiar atentamente nossas ações; não perdoar nossos deslizes; criticar nossas faltas, dispondo-nos ao esforço permanente de renovação. É o despertar da consciência.

• Devemos ser indulgentes com os outros. Evitar o julgamento, a crítica e as más palavras; respeitar o próximo, suas opções de vida, sua maneira de ser. É o despertar do coração.

Quando aplicamos essa orientação, ocorre algo muito interessante. Quanto mais intransigentes conosco, mais indulgentes somos com o próximo, exercitando o princípio fundamental:

Não podemos atirar pedras em telhados alheios, porquanto o nosso é de vidro, muito frágil.

Disse Jesus: "Aquele dentre vós que está sem pecados, atire a primeira pedra." 

Richard Simonetti



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