Corpo: Templo do Espírito

O corpo é o instrumento pelo qual o ser humano atua em todos os aspectos da vida material: relaciona-se, interage, comunica-se, trabalha, serve, ama...

Todos os seres encarnados necessitam se expressam e se manifestam através de corpos materiais. Durante o processo de reencarnação o espírito, utilizando-se da matéria do mundo a que está vinculado, elabora o corpo que lhe servirá à realização dos propósitos para os quais desce ao plano físico.

A consciência, ou espírito, se serve de veículos ou corpos para se expressar e se manifestar nas diversas dimensões em que existe. Esses corpos são as camadas ou subníveis do perispírito. O corpo físico é, de todos, o mais denso, pois se manifesta no nível material.

Cuidar do veículo físico, além da saúde corporal, é fundamental também para a vida espiritual, e faz parte dos deveres que todos têm para consigo mesmos. Porém, existe na atualidade um culto excessivo à aparência, reflexo da visão materialista e imediatista, estimulada pelos diversos setores da mídia que propõe a “saúde” a todo custo, com apelos à prática obsessiva de exercícios, uso de suplementos e remédios para se manter a aparência jovem e a vitalidade. Tal postura reflete a limitada visão dos que se deixam iludir pelas propostas da vaidade e de interesses obscuros. Essa visão expressa também o hedonismo predominante na cultura contemporânea, que busca satisfações imediatas dos desejos do ego.

O apego ao corpo e à aparência física expressa o materialismo ainda vigente no mundo e é causa de sofrimentos à alma após a morte biológica. Inúmeros seres desencarnados têm relatado, por via mediúnica, os padecimentos por que passaram pelo fato de terem sido apegados ao corpo, do qual tiveram grande dificuldade de se desvincular após a morte.

Em outro extremo estão aqueles que sugerem, a pretexto de cultivo espiritual, o desprezo pelo corpo físico, como se este fosse o responsável pelos equívocos e tendências inferiores que caracterizam os seres ainda imperfeitos. Propõem esses movimentos extremistas que se submeta o corpo a várias formas de subjugação, como forma de dominá-lo e de aplacar instintos e impulsos que, de outro modo, ficariam descontrolados.

Os movimentos espiritualistas saudáveis – o Espiritismo entre eles – trazem clara orientação a esse respeito. Nem o suplício inútil e prejudicial ao corpo, nem o culto ilusório e obsessivo à vestimenta corporal que, em pouco tempo, voltará à terra, de onde proveio.

Excetuando-se os casos de expiações severas, em que a liberdade individual está temporariamente suprimida, sempre é possível e desejável que se cuide do corpo e se respeitem seus limites e necessidades.

Para se cumprir as tarefas evolutivas e aproveitar as experiências da reencarnação, é necessário que o corpo esteja tão saudável quanto possível, tomando-se os cuidados para preservá-lo e fazendo o melhor para que seja instrumento útil à evolução espiritual.

O corpo físico é concessão da Vida para que se realize a jornada evolutiva na matéria, motivo pelo qual deve ser valorizado e bem utilizado. Tudo o que fizermos voluntariamente com o nosso corpo é de nossa inteira responsabilidade, pesando na contabilidade cármica em futuras experiências reencarnatórias.

O autoconhecimento, essencial ao despertar do espírito, passa, também, pelo conhecimento do próprio corpo, pois este, como expressão e materialização da consciência encarnada, “fala” na sua linguagem própria. Necessidades, sensações, dores, desconfortos, doenças, são todas mensagens do corpo que podem ser decodificadas pelo psiquismo para que se compreenda o sentido de tais manifestações. Assim, quando se percebe algo diferente no corpo e se consegue compreender o porquê do sintoma, promovendo as transformações necessárias, existe uma expansão da consciência e novas possibilidades de harmonia se apresentam para o caminho evolutivo. As mensagens do corpo são sinais para a alma.

Quando, por exemplo, se reconhece no corpo a manifestação de um desejo inferior, percebe-se que o corpo foi condicionado pelos hábitos que lhe foram impostos, e, assim, apresenta exigências que, se não satisfeitas, geram mal-estar. Com essa compreensão, desde que tomada a decisão de superar o hábito nocivo que se arraigou no nível físico, é necessário vencer a fase inicial de desconforto, a qual, logo que superada, cederá lugar ao bem estar e à liberdade.

O corpo físico, como precioso e abençoado instrumento do espírito, pode e deve ser educado, a fim de que se transforme em dócil e eficiente veículo de expressão da alma.

Sendo o espírito, ou a consciência, responsável por todas as ocorrências da vida, não cabe nenhuma responsabilidade ao corpo por quaisquer desvios a que seja submetido. A vontade dirige o corpo, ou, quando o ser ainda se encontra algemado a vícios e impulsos inferiores, estes se manifestam de modo impulsivo ou compulsivo pelo corpo, o que reflete os desajustes do psiquismo em desarmonia.

Todos os grandes seres que vieram ao mundo se expressaram através do corpo, dignificando-o pela conduta elevada que manifestaram, demonstrando que o mesmo reflete a alma que nele habita, em quaisquer circunstâncias. Santos, sábios e heróis se utilizaram do veículo corporal para concretizar os altos ideais que esposavam.

É importante que tenhamos uma relação amorosa com relação ao nosso corpo. Podemos, sem qualquer apego ou ilusão vaidosa, ser cuidadosos e carinhosos com ele, aliviando-o de tensões prejudiciais e evitando desgastes desnecessários. Amar-nos zelando pelo bem-estar físico é respeitar o divino que habita em nós.

Sendo o corpo o templo do espírito, assim deve ser considerado: divino, sagrado e útil em todas as suas manifestações, como todos os outros dons da Natureza. O corpo é uma dádiva particular, embora transitória, para o aperfeiçoamento individual e, ao mesmo tempo, para o serviço em prol do bem comum.

Quaisquer disfunções, patologias ou desarmonias orgânicas podem ser consideradas como reflexos do passado, desta ou de existências pretéritas. Podem ser também processos purificadores, provações ou impulsos evolutivos, sempre com o objetivo maior do aprimoramento do ser a patamares de mais felicidade. Em qualquer desses casos, o corpo merece todos os cuidados preventivos para se manter são, ou curativos, para se recuperar adequadamente.

Devemos considerar o psiquismo como o gerador e mantenedor da estrutura orgânica. O ser que pensa, sente e deseja é o responsável, em geral, pelas condições em que se encontra seu corpo, cabendo-lhe preservá-lo da melhor maneira possível.

Nosso corpo na verdade não é nosso, mas sim empréstimo da Vida enquanto estagiamos no Planeta, até que o devolvamos à terra para ser reciclado e fornecer os elementos para novas formas de vida.

Os esclarecimentos espiritualistas em geral, e espíritas em particular, desde que praticados, muito contribuem para que se viva no corpo sem se escravizar a ele, para que, chegado o momento inevitável da desencarnação, o ser se liberte em paz e alce voo no rumo do Infinito.

Autor: André de Paiva Salum  

Fonte:http://www.uniaoespiritadepiracicaba.com.br/artigos/andre-paiva-salum/627-corpo-templo-do-espirito



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