A Maldade da Fofoca (Pe. Paulo M. Ramalho)

Infelizmente, a fofoca é uma realidade que está impregnada em todos os meandros da vida social: nas reuniões familiares, nas festas, nos encontros de amigos num barzinho, nos corredores das escolas e faculdades, no ambiente profissional, etc.

Está tão impregnada que já se perdeu a noção da sua maldade. E, como é bom lembrar, a fofoca, mesmo que seja leviana, dita sem grandes pretensões, provoca um grande mal.

Qual é a maldade da fofoca? 

Sua maldade é denegrir a fama das pessoas. Como sabemos, todo homem tem direito a sua fama e, sem causa justa, não é lícito tirar-lhe essa boa fama. E a causa justa se dá em pouquíssimos casos. 

Shakespeare tinha razão ao pôr na boca de um personagem estas palavras:

“Que a boa fama para o homem, senhor, como para a mulher, é a joia de maior valor que se possui. Quem furta a minha bolsa me desfalca de um pouco de dinheiro. É alguma coisa e é nada. Assim como era meu, passa a ser de outro, após ter sido de mil outros. Mas o que me subtrai o meu bom nome defrauda-me de um bem que a ele não enriquece e a mim me torna totalmente pobre” 
(Shakespeare, “Otelo”, Ato III). 

A difamação assemelha-se ao roubo. Assim como há roubo material, há roubo imaterial: roubar a boa fama de alguém. 

A maldade em tirar a boa fama de alguém também fica evidente numa penitência inusitada que deu uma vez São Felipe Neri a uma pessoa. Numa ocasião, uma senhora foi se confessar com São Felipe Neri acusando-se de ter difamado gravemente uma pessoa. Como penitência, ele lhe disse que fosse até a sua casa e pegasse umas penas de galinha e no caminho de volta para a igreja fosse jogando as penas no chão. Uma vez de volta à igreja, a senhora foi falar novamente com o santo. São Felipe, depois de elogiar a sua obediência, disse-lhe:

- Agora volte pelo mesmo caminho e recolha todas as penas e traga-me aqui.

- Mas, padre, o que é que o senhor está dizendo? O vento já levou todas!

- Exatamente. A senhora jamais poderá reuni-las novamente, como jamais poderá reunir nem retirar as palavras infamantes contra o próximo. Já passaram de boca em boca e daqui a pouco todos estarão pensando mal desta pessoa, sendo que talvez nem seja culpada do que fez. 

Penso que os maiores motivos para não falarmos mal das pessoas sejam estes:

- não falar mal dos outros porque não queremos que falem mal de nós; se é para falar mal, que nos falem na cara, para nos ajudar, para nos corrigir;

- porque o falar mal dos outros gera um clima de desconfiança generalizada nas pessoas, e isso é muito ruim;

- porque é deslealdade, covardia e orgulho: quem é leal não é covarde e fala as coisas na cara; o orgulho é porque no fundo quem fofoca acha que só ele é bom e os demais não são. 

Façamos o propósito de não falar mal por trás de ninguém. A reação cristã é orar e falar para ajudar, porque queremos o bem de todos. E que muitas vezes vivamos o que dizia um santo: 

"Se não é para louvares, cala-te!" 

Façamos o propósito de erradicar a fofoca de todos os ambientes, indo na frente, tentando explicar para as pessoas a deslealdade e toda a maldade que a supõe. 

Coloquemos isso em prática e respiraremos um ar muito mais puro, sustentável. 

Uma santa semana a todos! 

Autor: Pe. Paulo M. Ramalho


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