O Bem e o Mal

"A maldade bebe a maior parte do veneno que produz." (Sêneca)

Se lêsseis a história do mundo com os olhos do espírito, veríeis que sempre houve batalhas renovadas em certos períodos entre o bem e o mal. Fases houve em que as inteligências não desenvolvidas predominaram, fases especialmente conscientes das grandes guerras que arrebentam entre vós. 

Muitos Espíritos saem prematuramente do corpo, deixando-o antes de preparados para isso, e na hora da partida ficam irritados, sedentos de sangue, transbordando más paixões e conservando-se por muito tempo prejudiciais na vida de além túmulo.

Nada é mais perigoso para as almas do que serem bruscamente separadas do invólucro corpóreo e lançadas na vida espiritual, agitadas por violentas paixões, dominadas por sentimentos de vingança. 

É muito prejudicial ser uma alma atirada fora da vida terrestre sem que seja o laço cortado por efeito da morte natural. 

Toda destruição de vida corpórea é selvageria e loucura; selvageria, demonstrando uma bárbara ignorância das condições de vida e progresso, na vida de além-túmulo; loucura, por libertar de seus óbices um Espírito atrasado, irritado, que obtém assim mais intensa a capacidade malfazeja. 

Sois cegos e ignorantes em vossos atos para com aqueles que ofendem as vossas leis ou as regras morais e restritas que governam as relações sociais. Em presença de uma alma degradada, cometendo delitos contra a moral e as leis constituídas, tomais logo as medidas mais apropriadas para aumentar a sua capacidade criminal. 

Em vez de subtrair tal ser das más influências, de lhe evitar todo o contato vicioso, isolando-o sob a influência educadora da verdadeira espiritualidade onde as inteligências mais elevadas possam contrabalançar o pernicioso poder do mal, o colocais no meio de insalubres associações, em companhia de culpados como ele, onde a própria atmosfera está saturada de vício, onde os espíritos não desenvolvidos se aglomeram e onde, pelas aglomerações humanas e pelas influências espirituais, as tendências são completamente más.

Pueril e curta vista! Não podemos entrar em vossos antros de criminosos. Os Espíritos missionários se retraem e consideram infrutífera a sua missão, choram em presença de uma associação humana e espiritual malfazeja, formada contra eles pela ignorância insensata do homem. 

Com um tal método, não é de admirar que tenhais adquirido a convicção de que a disposição declarada para o crime é raras vezes sanável; sois vós próprios os cúmplices manifestos desses Espíritos, que assistem com alegria às quedas que estimularam. 

Quantas almas desviadas, por ignorância ou por escolha, saíram dos cárceres, endurecidas e seguidas de guias perigosos, não o sabeis nem nunca podeis sabê-lo. Mas se quiserdes experimentar um melhor sistema para os culpados, obtereis um lucro perceptível, e incalculáveis bênçãos seriam conferidas aos mal guiados e aos viciosos.

Deveríeis instruir os vossos criminosos; deveríeis puni-los como o são aqui, pela demonstração do dano que fizeram resvalar sobre eles próprios, cometendo faltas que retardam o seu futuro progresso. 

Deveríeis colocá-los onde espíritos adiantados e ardentes, entre vós, pudessem incutir-lhes a aversão ao pecado e a sede do bem, onde os bandos dos Bem-aventurados pudessem auxiliar os seus esforços e os Espíritos das mais elevadas esferas pudessem espalhar por sobre eles a sua reconfortante e benigna influência. 

Porém, reunis os espíritos perigosos e os castigais barbaramente com vinganças e crueldades, tratando-os como pessoas das quais nada mais se pode esperar, e o homem que foi a vítima da vossa ignorante repressão prossegue em sua louca carreira de pecado suicida, até que acrescentais, à série dos vossos atos insensatos, o último e pior; eliminais o culpado. Vós o libertais do grande freio das suas paixões e o mandais trabalhar, sem obstáculo, na vida de além-túmulo, sob a infernal sugestão das suas paixões irritadas.

Cegos! Cegos! Não sabeis o que fazeis. Sois os vossos piores inimigos, os verdadeiros aliados daqueles que lutam contra Deus, contra nós e contra vós próprios. Arrogai-vos falsamente o direito, pela Lei Divina, de derramar o sangue humano. Errais, e não sabeis que os espíritos assim maltratados vingar-se-ão por sua vez de vós. 

Tendes ainda que aprender os primeiros princípios dessa divina e piedosa ternura que trabalha, mesmo por nosso intermédio, para libertar o espírito viciado, a fim de reerguê-lo das profundezas do pecado e da paixão, para elevá-lo à pureza e ao progresso. Formastes um Deus cujos atos estão de acordo com os vossos próprios instintos; inventastes que Ele reside no Alto, indiferente à sorte das suas criaturas, cioso somente do seu próprio poder e da sua honra. Fabricastes um monstro que se compraz em estragar, em matar, em torturar, um Deus que se regozija infligindo amargos castigos sem-fim nem alívio. Fizestes Deus pronunciar palavras que Ele nunca conheceu, atribuís-lhe leis que Ele reprovaria.

Deus, o nosso caro Deus, amante, terno, piedoso, regozijar-se punindo com mão cruel a seus filhos desgarrados e ignorantes! Desprezível fábula! Baixa e louca concepção nascida do espírito brutal, grosseiro e limitado do homem.

Grande Pai! revela-te a esses cegos ociosos e ilumina-os para que eles te conheçam. Dize-lhes que fazem mau juízo de ti, que te não conhecem nem podem conhecer-te até que apaguem as suas ignorantes concepções da tua natureza e do teu amor.

Sim, amigo, os vossos cárceres, o homicídio legal e todo o conjunto do vosso processo criminal é baseado no erro e na ignorância. As guerras e massacres em massa são ainda mais pavorosos. Estabeleceis desavenças com os vossos vizinhos, que deveriam ser amigos, impelindo massas de espíritos, uns contra os outros – nós não vemos o corpo; só cuidamos do espírito, temporariamente vestido com átomos humanos – e levais esses espíritos ao auge da raiva e do furor, e assim os atirais, bruscamente, na vida espiritual, e os desencarnados ainda ligados à Terra, animados das mesmas horrendas paixões, formam multidões e incitam viciosos, que ainda não deixaram os corpos, a cometer crueldades e violências.

Ah! amigo, tendes muito, muito que aprender, e a triste obrigação de desfazer depois o que fazeis agora vos convencerá disso. Aprendei primeiro a lição de ouro: que Piedade e Amor são a sabedoria, e não a vingança nem os castigos rancorosos. É preciso que conheçais Deus, nós e vós mesmos, para vos colocardes em estado de progredir e de participar dos nossos trabalhos em vez de ajudar aos dos nossos adversários.

Amigo, quando vos pretenderem tomar informações acerca da utilidade da nossa comunicação e dos benefícios que pode conferir àqueles a quem o Pai a envia, dizei que ela é um Evangelho a revelar um Deus de ternura, de piedade e amor, em vez de uma fabulosa divindade rigorosa e cruelmente apaixonada; dizei que ela os levará a conhecer Inteligências cuja vida inteira é amor, é misericórdia, e auxílio eficaz para o homem, combinado com a adoração do Supremo; dizei que a nossa palavra conduzirá o homem a ver a sua própria loucura, a rejeitar as suas falsas teorias, a cultivar a sua inteligência para que ela progrida, a utilizar-se de todas as ocasiões oportunas para servir aos seus semelhantes, a fim de que, nos encontros extraterrestres, lhe não possam exprobrar ter sido por eles obstados ou prejudicados.

Dizei que tal é a nossa gloriosa missão; se fordes ridicularizados à maneira dos ignorantes que se ufanam de um saber imaginário, voltai-vos para as almas progressistas, que receberam o ensino de sabedoria; falai-lhes da comunicação da divina Verdade que regenerará o mundo e orai pelos cegos, a fim de que, quando seus olhos se abrirem, eles não se aflijam com o espetáculo que se lhes deparará.

Autor: Romeu Leonilo Wagner

Referências:
Livro: "Ensinos Espiritualistas", pelo Médium William Stainton Moses (1839-1892), Edição FEB;



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!