Brasilienses apadrinham crianças com poucas chances de adoção

Por Deborah Delbart
Ao chegar no abrigo Nosso Lar, Natália Pedroso encontra o afilhado de 14 anos e eles logo se dão um abraço apertado de “bom dia”. Ainda em pé, debaixo do sol, Marlon conta com entusiasmo as novidades da semana. A principal: o que deveria fazer para realizar o sonho de ser comissário de bordo após terminar o ensino médio. Os dois se conheceram pelo Projeto de Apadrinhamento Afetivo da ONG Aconchego.
Já se passaram quatro anos, ela o chama de amor e ele, de madrinha. Ele define Natália com três palavras: solidariedade, família e alegria e garante que ela faz parte de sua vida. Juntos, vão ao shopping, ao parque, participar de almoço da família dela e até viagem já fizeram. Mas não se trata só de diversão, madrinha faz cobrança e dá conselho. “Meu afilhado foi a primeira pessoa pela qual fui responsável por dar limites e exemplos de conduta, dizer sim ou não, pensar em propor atividades apropriadas, zelar intensamente para que as coisas continuassem caminhando sem que houvesse um rompimento.” (Veja, abaixo, um trecho da entrevista)
Natália acredita que o projeto proporciona uma mudança de paradigma e por isso estimula a adesão das pessoas

A proposta da organização é permitir que crianças e adolescentes que possuem poucas chances de adoção construam laços afetivos com padrinhos e madrinhas. Crianças acima dos 7 anos idade, afrodescendentes, soropositivas, deficientes físicos e/ou mentais e as que não podem se separar dos irmãos são geralmente preteridas no processo de  adoção.
foto: divulgação do Apadrinhamento Afetivo
foto: divulgação do Apadrinhamento Afetivo
O projeto começou em 2002 e, segundo dados da ONG Aconchego, já foram capacitados 200 padrinhos. As turmas são de 15 a 20 pessoas e, para conseguir atender à procura pelo projeto, aumentaram a frequência dos cursos. Se antes era apenas uma turma por ano, a partir de 2012, passaram a montar dois grupos de padrinhos. Nos últimos 12 meses, 70 pessoas se cadastraram e estão na fase final para encontrar um afilhado. De acordo Natália, participar do projeto foi importante para entender o processo inicial do apadrinhamento. “Fui muito testada e senti medo da rejeição, de não conseguir dar conta e me frustrar nesse projeto que considero tão importante.”
Andrea Porto fez o mesmo treinamento em 2008 da ONG e encontrou Ana Paula aos 14 anos. A afilhada foi encaminhada para o centro de acolhimento depois que uma professora desconfiou que a menina era vítima de maus-tratos. Ao atingir a maioridade, Ana Paula teve que sair do abrigo, mas continua vendo a madrinha quinzenalmente. Andrea explica que o maior benefício do projeto é poder criar uma relação de afeto com uma pessoa que vive num contexto de vida diferente, além de propiciar alguns momentos felizes e contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional. No entanto, ressalta que é preciso consciência da responsabilidade do papel. “Essas crianças, muitas vezes, já estão traumatizadas, e uma interrupção da relação pode reforçar esse abandono e gerar graves transtornos emocionais.”
Desde 2008, Andrea (direita) passa o natal com a Ana Paula (esquerda) e garante que não consegue imaginar um natal sem a afilhada / foto: acervo pessoal Desde 2008, Andrea (direita) passa o natal com a Ana Paula (esquerda) e garante que não consegue imaginar um natal sem a afilhada / foto: acervo pessoal
Walkyria Braga de Oliveira, vice-presidente do Nosso Lar, reforça a importância do engajamento. “Alguns padrinhos ficavam um ano sem visitar o afilhado. Aí as crianças perguntavam: ‘por que meu padrinho não veio?’ É muito angustiante ver a decepção deles.” Marlon foi adotado com 5 anos de idade e devolvido em menos de seis meses. Walkyria explica que mais um abandono teria sido traumático para o Marlon, por isso comemora a dedicação de Natália pelo afilhado.
Para evitar esse tipo de situação, a ONG estabeleceu alguns critérios para os que querem apadrinhar. A pessoa precisa ter mais de 21 anos, participar das reuniões de preparação e acompanhamento, não possuir demanda judicial envolvendo criança e adolescente e não integrar o Cadastro Nacional de Adoção. Para mais informações, entre em contato com a ONG Aconchego.

Fonte:https://dfsolidario.wordpress.com/page/2/

FRATERLUZ
Fraternidade Espírita Luz do Cristianismo


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