Nascida em Rio das Flores (RJ), Yvonne completaria 78 anos de idade no dia 24 de dezembro de 1984, ano em que faleceu. Sua desencarnação ocorreu em março.
Solteira, Yvonne residia com uma irmã e sobrinhos no bairro da Piedade,
no Rio, após ter residido nas cidades mineiras de Lavras e Juiz de Fora,
o que levou muitos confrades a pensarem que ela tivesse nascido em
Minas Gerais, terra de grandes médiuns e vultos notáveis do Espiritismo,
como Chico Xavier, Eurípedes Barsanulfo, Abel Gomes e tantos outros.
Entre os anos 60 e 80, Yvonne do Amaral Pereira teve artigos seus
publicados na revista Reformador, sob o pseudônimo de Frederico
Francisco, nome escolhido em homenagem ao compositor polonês F. F.
Chopin, com quem ela certamente mantinha estreitos laços espirituais com
origem no passado.
Yvonne apresentou como médium diversas aptidões mediúnicas, assunto a que ela se refere da seguinte forma:
Tipos de mediunidade − Como médium psicógrafa trabalhei a vida inteira,
desde 1926 até 1980, como receitista, assistida por entidades de grande
elevação, como Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Augusto Silva,
Charles, Roberto de Canalejas e outros cujos nomes nunca soube. Fui e
até hoje sou médium conselheiro (ver O Livro dos Espíritos,
classificação dos médiuns), psicoanalista e passista, assistida pelos
mesmos Espíritos.
Como médium de incorporação, não fui da classe de sonambúlicos, mas
falante (ver O Livro dos Médiuns) e tive especialidade para os casos de
obsessão e suicidas, e um longo trabalho tenho exercido nesse setor.
Materializações − Fui igualmente médium de efeitos físicos
(materializações) e cheguei a realizar algumas materializações à revelia
da minha vontade, naturalmente, sem o desejar, durante sessões do
gênero a que eu assistia, em plena assistência, isto é, sem cabina ou
outra qualquer formalidade. Eram luminosas essas materializações. Mas
não cheguei a me interessar por esse gênero de fenômeno, nunca o
apreciei e não o cultivei, a conselho de Bezerra de Menezes e Charles,
que não viam necessidade de me dedicar a tal setor da mediunidade.
Curas − Durante 54 anos e meio pratiquei curas espíritas através do
receituário homeopata e passes e até através de preces. Consegui, muitas
vezes, curas em obsidiados com certa facilidade, coadjuvada por
companheiros afins. Senti sempre um grande amor pelos Espíritos
obsessores e sempre os tive como amigos. Fui correspondida por eles e
nunca me prejudicaram.
Burocracias como obstáculo à prática do bem − Conservei-me sempre
espírita e médium muito independente, jamais consenti que a direção dos
núcleos onde trabalhei bitolasse e burocratizasse as minhas faculdades
mediúnicas.
Consagrei-as aos serviços de Jesus e apenas obedecia, irrestritamente, à
Igreja do Alto, e com ela exercia a caridade em qualquer dia e hora em
que fosse procurada pelos sofredores. Para isso, aprofundei-me no estudo
severo da doutrina, a fim de conhecer o terreno em que caminhava e
conservar com razão a minha independência. No entanto, observei a rigor o
critério e os horários fixados pelos poucos centros onde servi, mas
jamais me submeti à burocracia mantida por alguns. Se não me permitiam
atender necessitados no Centro, por isso ou por aquilo, em determinados
dias, eu os atendia em qualquer outra parte, fosse em minha residência
ou na deles, e assim consegui curas significativas, pois aprendi com o
Evangelho e a Doutrina Espírita que não há hora nem dia para se exercer o
bem.
As curas que consegui foram realizadas com simplicidade, sem formalismo
nem inovações na prática espírita. Fui sempre avessa à propaganda dos
meus próprios trabalhos e jamais aceitei as homenagens que me quiseram
prestar.
Federação Espírita Brasileira − Amei e respeitei a Casa-Máter do
Espiritismo no Brasil desde a minha infância, guiada por meu pai, que
igualmente a amava e respeitava. A ela submeti-me mais tarde,
aconselhada por meus amados Guias Espirituais Bezerra de Menezes e
Charles.
Diziam-se as duas entidades: ‘Somente à Federação Espírita Brasileira
confia as tuas produções literárias mediúnicas. Se, um dia, alguma delas
for rejeitada, submete-te: Guarda-a, a fim de refazê-la mais tarde, ou
destrua-a. Mas, não a confies a outrem.’
Essa foi a razão pela qual nunca doei nenhum livro por mim recebido às editoras que me solicitaram publicações.
No texto que segue, Yvonne A. Pereira fala de sua infância,
de seus pais e do surgimento do fenômeno mediúnico em sua vida e informa
que, ao contrário do que muitos pensam, não chegou a formar-se
professora:
Descendência − Nasci a 24 de dezembro de 1906, após um baile na
residência de minha avó materna, num sítio nos arredores do Rio de
Janeiro, hoje cidade de Rio das Flores.
Por linha paterna, certamente que descendo de judeus portugueses... e
também descendo de índios brasileiros da tribo Goitacás, pois que minha
bisavó paterna era Índia Goitacás.
Influência dos pais − Meu pai era generoso de coração, muito
desinteressado dos bens de fortuna, e por essa razão não pôde ser bom
negociante. Por três vezes foi negociante e arruinou-se, visto que
favorecia os fregueses em prejuízo próprio.
Fui criada com muita modéstia, mesmo pobreza, conheci dificuldades de
todo gênero, coisa que me beneficiou muito, pois bem cedo alheei-me das
vaidades do mundo.
Aprendi assim, com meus pais, a servir o próximo mais necessitado do que
nós, pois, em nossa casa, eram acolhidas com carinho e respeito, e até
hospedadas, pobres criaturas destituídas de recursos e até mesmo
mendigos, alguns dos quais foram por eles sustentados durante muito
tempo.
Influência religiosa − Nasci em ambiente espírita, por assim dizer, e
por isso nunca tive outra crença senão a espírita. Meu pai tornou-se
espírita, embora não militante, desde antes do meu nascimento.
Recebi, portanto, de meu próprio pai as primeiras lições de doutrina espírita e prática do Espiritismo e Evangelho.
Ele fazia, já naquele tempo, reuniões de estudos doutrinários com os
filhos, semanalmente, o que a todos nós solidificou na Doutrina
Espírita.
Escolaridade − Ao contrário do que muitos amigos supuseram a meu
respeito, não sou professora diplomada nem fiz outro qualquer curso
escolar, a não ser o primário, fato que, para mim, constituiu grande
provação.
Surgimento da mediunidade − A mediunidade apresentou-se em minha vida ainda na infância.
Com um mês de idade, ia sendo enterrada viva devido a um fenômeno de
catalepsia, 'morte aparente', que sofri, fenômeno que no decorrer de
minha existência repetiu-se muitas vezes.
Aos 5 anos eu já via Espíritos e com eles falava.
Desenvolvimento mediúnico − Nunca desenvolvi a mediunidade, ela
apresentou-se por si mesma, naturalmente, sem que eu me preocupasse em
atraí-la, pois, em verdade, não há necessidade de se desenvolver a
faculdade mediúnica, ela se apresentará sozinha, se realmente existir, e
se formos dedicados às operosidades espíritas.
A primeira vez em que me sentei a uma mesa de sessão prática recebi uma
comunicação do Espírito Roberto de Canalejas, tratando de suicídios.
Decepção no primeiro encontro com a FEB
O primeiro encontro de Yvonne A. Pereira com a cúpula da Federação
Espírita Brasileira não poderia ter sido mais decepcionante. Eis como
Yvonne se refere ao assunto:
A primeira vez que visitei a FEB, levando uma obra mediúnica, esta não
foi recebida, nem mesmo lida. Foi pelo ano de 1944, e quem me recebeu,
no topo da escadaria principal, foi o Sr. Manuel Quintão, na época um
dos seus diretores e examinadores das obras literárias a ela confiadas.
Quando expliquei que levava dois livros ao exame da Federação (eram eles
Memórias de um Suicida e Amor e Ódio), aquele senhor cortou-me a
palavra, dizendo: −Não, não e não! Aqui só entram livros mediúnicos de
Chico Xavier. Estou muito ocupado, tenho duzentos livros para examinar e
traduzir e não disponho de tempo para mais...
E voltou a conversar com o Dr. Carlos Imbassahy, com quem falava à minha chegada.
Retirei-me sem me agastar. Eu reconhecia a minha incapacidade e não
insisti. Aliás, eu mesma não soubera compreender o enredo de 'Memórias
de um Suicida', acreditava tratar-se de uma grande mistificação e,
silenciei.
Em chegando à minha residência, tomei de uma caixa de fósforos e dos
originais dos dois livros e dirigi-me ao quintal, a fim de queimá-los,
pois nem mesmo tinha local conveniente para guardá-los. Mas, ao riscar o
fósforo e aproximar as páginas da chama, vi, de súbito, o braço e a mão
de um homem, transparentes e levemente azulados, estendidos como
protegendo as páginas, e uma voz assustada, dizendo-me ao ouvido: ‘ −
Espera! Guarda-os!’ Meu coração reconheceu-a como sendo vibrações de
Bezerra de Menezes.
Certa manhã, porém, após as preces e o receituário que eu fazia em meu
humilde domicílio, para os necessitados que me procuravam, apresentou-se
Léon Denis dizendo: − Vamos refazer o livro sobre o suicídio. Ele está
incompleto, não poderá ser publicado como está.
Então, compreendi que o Sr. Quintão fora inspirado pelos amigos espirituais para não me receber quando o procurei na Federação.
De fato, foi somente no ano de 1955 que Yvonne pôde concluir a obra de
Camilo Castelo Branco, então corrigida doutrinariamente por Léon Denis e
legar à humanidade essa preciosidade literária mediúnica intitulada
Memórias de um Suicida, que acabou sendo publicada pela FEB.
A desencarnação de Yvonne
Yvonne A. Pereira desencarnou em 9 de março de 1984, no Rio de Janeiro,
aos 77 anos de idade. O sepultamento do seu corpo foi realizado no dia
10, às 16h30, no Cemitério de Inhaúma, com acompanhamento de familiares e
confrades, dentre os quais havia muitos jornalistas e escritores
espíritas e dirigentes de Centros Espíritas, doInstituto de Cultura
Espírita do Brasil e da Federação Espírita Brasileira.
Yvonne dedicou-se à mediunidade desde os 20 anos de idade, psicografando
inúmeros livros e mensagens de Espíritos como Dr. Bezerra de Menezes,
Bittencourt Sampaio, Augusto Elias da Silva, Charles, Roberto de
Canalejas, Léon Tolstoi, Camilo Castelo Branco e outros.
Dentre as obras que psicografou destacam-se o clássico Memórias de um
Suicida, obra escrita por Camilo Castelo Branco, e o romance Amor e
Ódio, de Charles, que é, juntamente com Ave, Cristo, de Emmanuel,
considerado por muitos estudiosos o melhor romance espírita já produzido
em nosso País.
Foi em Lavras (MG) que ela exerceu sua primeira atividade de grande
responsabilidade no meio espírita, quando, ainda muito jovem, pertenceu à
diretoria do Centro Espírita de Lavras, como secretária. Ali ela
dirigiu o Posto Mediúnico e foi durante vários anos a médium responsável
pelo intercâmbio espiritual no setor de receituário e de curas.
Em Juiz de Fora (MG), foi secretária, bibliotecária e vice-presidente da
Casa Espírita, além de colaboradora na Fundação João de Freitas. Na
Casa Espírita fundou a Biblioteca James Jansen e ensinou trabalhos
manuais no Instituto Profissional Eugênia Braga, gratuitamente.
Em Barra do Piraí (RJ), participou ativamente do Grêmio Espírita de
Beneficência, como médium receitista e expositora de O Livro dos
Espíritos e de O Evangelho segundo o Espiritismo. Na mesma época,
ensinou moral cristã às crianças no Colégio Ismael e integrou o grupo de
senhoras que cuidavam da área de assistência social do Grêmio Espírita
de Beneficência.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Yvonne_do_Amaral_Pereira
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