A Médium Inglesa Florence Cook nasceu no dia 3 de junho 1856, e desencarnou em 22 de abril, na mesma cidade em 1904.
Os primeiros pormenores da vida de Florence são
fornecidos por ela própria, em carta dirigida a Mr. Harrison em maio de
1872. Diz a carta:
"Tenho 16 anos de idade. Desde a minha infância vejo
os espíritos e ouço-os falar. Tinha o costume de sentar-me a sós e
conversar com eles. Eles me cercavam e eu os tomava por pessoas vivas.
Como ninguém os via nem ouvia, meus pais procuraram inculcar em mim a
ideia de que tudo era produto de minha imaginação. Todavia não
conseguiram modificar o meu modo de pensar a respeito do assunto e foi
assim que passei a ser considerada como uma menina excêntrica.
Na
primavera de 1870 fui convidada a visitar uma amiga de colégio. Ela me
perguntou se eu já ouvira falar de Espiritismo, acrescentado que seus
pais e ela se reuniam em torno de uma mesa. Nessa situação obtinham
certos movimentos; disse que, se eu consentisse, ainda naquela tarde
ensaiariam uma experiência comigo".
Miss
Cook pediu permissão a sua mãe e, em seguida, realizaram a primeira
sessão, obtendo-se a comunicação de um espírito que se dizia ter sido a
sua tia. Mais tarde, quando a jovem ficou em pé junto a mesa, esta se
ergueu a uma altura de 4 pés. Miss Cook dá continuidade ao seu relato:
"Na segunda sessão os espíritos nos deram provas de identidade, mas não
chegamos a ficar de todo convencidas. Por fim, recebemos por tiptologia,
uma comunicação orientando-nos para que deixássemos o aposento em
penumbra. Eles me ergueriam e dariam comigo volta à sala. Não consegui
conter o riso. Aquilo não era possível.
Entretanto, decidiu-se apagar a
luz. Apesar disso, a claridade que entrava pela janela não deixou a sala
inteiramente às escuras. De imediato senti que alguém me tirava da
cadeira, e, no instante seguinte, fui erguida até o teto, fato que todas
as pessoas presentes na sala puderam ver. Sob meu espanto,
transportaram-me sobre as cabeças dos assistentes, até que fui posta
sobre uma mesa existente no extremo da sala. Minha mãe indagou se
podíamos obter esse fenômeno. A mesa respondeu que sim, visto que eu era
médium.
Reunimo-nos em
nossa casa. Os espíritos quebraram a nossa mesa e duas cadeiras, fazendo
ainda outros estragos. Em vista disso, resolvemos que, de modo algum
tornaríamos a realizar sessões. Então os espíritos começaram a nos
atormentar, atirando sobre mim livros e outros objetos; as cadeiras
passeavam sozinhas pela sala, a mesa se erguia violentamente, enquanto
fazíamos as refeições, e fortes ruídos eram ouvidos durante a noite,
fazendo-nos estremecer de medo. Por fim nos vimos obrigadas a nos
reunirmos em torno da mesa e a tentar um diálogo com eles.
Os
espíritos disseram que fôssemos a Navarino Street, 74" onde existia uma
sociedade espírita. O endereço estava certo. Lá encontramos Mr. Thomas
Blyton que nos convidou a assistir a uma sessão onde entrei em transe e,
por incorporação, uma entidade disse aos meus pais que, se contássemos
com o auxílio de Mr. Herne e Mr. Williams, obteríamos comunicações de
valor. Reunimo-nos várias vezes e, finalmente, obtivemos os fenômenos
prometidos. O espírito que dirigiu a sessão disse chamar-se Katie King".
No
dia 21 de abril de 1872, em sessão organizada para estudos de sua
mediunidade, conforme ata publicada no "The Spiritualist", ouviu-se um
bater de vidros da janela sem que ninguém descobrisse a causa. Então
ouviu-se a voz de um espírito que disse: "Mr. Cook, é preciso que façais
desobstruir o canal da calha, se desejais evitar que os alicerces da
casa sofram". Surpresos, os presentes procederam a exame imediato,
havendo a confirmação do que fora dito. No dia seguinte, em outra
sessão, o espírito Katie King se materializou parcialmente pela primeira
vez. Katie mostrou-se na abertura da cortina e falou durante alguns
minutos, ocasião em que os presentes puderam acompanhar o movimento de
seus lábios.
Florence Cook
foi a primeira médium entre os médiuns ingleses a obter materializações
integrais em plena luz. Com o avanço das experiências, Florence, que
antes, nas materializações parciais permanecia consciente, passou a cair
em transe à medida que Katie King ia adquirindo domínio da situação e
conseguindo-se mostrar mais perfeitamente. Seu rosto a princípio dava a
impressão de ser oco por trás.
Mais tarde preencheu-se, os crepes
ectoplásmicos se tornaram menos abundantes e, um ano depois, ela já
conseguia caminhar do lado de fora da cabine. Quando lhe pediram para se
deixar fotografar à luz de flashes, observou-se que a sua semelhança
com Florence era muito grande. Era um problema, e, para provar que era
um ser distinto de Miss. Cook, ela alterou a cor de sua face para tons
de chocolate e azeviche. Em uma experiência feita logo em seguida, a
médium foi amarrada apertadamente pelos assistentes no interior do
gabinete. Depois foi observada toda uma gradação de diferenças entre ela
e a médium. Estava reservado a Sir William Crookes fornecer as provas
definitivas de que Katie King tinha uma existência à parte da de Miss
Cook.
É preciso consignar
que foi a própria Florence quem procurou o professor Crookes a fim de
solicitar-lhe que investigasse a sua mediunidade. Eis como ela narra o
episódio: "Fui à casa de Mr. Crookes sem dizer nada aos meus pais nem
aos meus amigos. Ofereci-me como um sacrifício voluntário perante a sua
incredulidade.
Pouco antes se dera o desagradável incidente com Mr.
Volckman. Os que não conheciam o fenômeno dirigiam palavras cruéis
contra mim. Mr. Crookes fizera um comentário que me atormentava e foi
por isso que me decidi a ir procurá-lo.
Ele me recebeu e eu lhe disse:
-
Já que acreditais que sou uma impostora, se quiserdes virei submeter-me
a experiências em vossa própria casa. Vossa esposa poder vestir-me como
quiserdes e deixarei convosco o que tiver trazido. Podereis vigiar-me
como vos aprouver; submeter-me-ei às experiências que desejardes, de
modo que vos contenteis em todos os sentidos. Só imponho uma condição:
se verificardes que sou agente de uma mistificação, denunciai-me
publicamente; mas se vos certificardes de que os fenômenos são reais e
de que eu mais não sou que o instrumento de forças invisíveis, isso
direis ao público de modo que todo o mundo tome conhecimento da verdade.
William Crookes aceitou o repto, disso resultando um dos mais
tumultuosos e dramáticos episódios da História do Espiritismo.
Após
da despedida do espírito Katie King, a mediunidade de Miss Florence foi
utilizada por outra entidade que dizia chamar-se Marie, a qual, por
mostrar-se cantando e dançando, foi denominada Marie, a dançarina. Em
1899, atendendo a um convite da Sphiny Society, de Berlim, Miss Cook já
então Mrs. Corner pelo casamento, assentiu em realizar algumas sessões,
nas quais Marie se materializou e produziu fenômenos sensacionais. Por
essa altura Florence já se havia casado, em 1874, com um cavalheiro
chamado Elgie Corner e vivia em Usk, no País de Gales, onde teve vários
filhos.
Em 1904, William
Crookes recebeu uma carta, datada de 24 de abril, na qual era-lhe
comunicado o falecimento de Mrs. Corner. Ele respondeu expressando viva
simpatia e declarando ainda que a vida post-mortem muito devia, quanto à
sua certeza, à mediunidade da antiga Miss Florence Cook. Com esse
episódio se encerra uma vida que conheceu tanto sensacionalismo quanto o
das grandes atrizes da atualidade. A Doutrina Espírita deve eterna
gratidão à menina de 15 anos, que, sacrificando sua juventude nos
laboratórios dos sábios, prestou os mais relevantes serviços à
comprovação científica da imortal obra de Allan Kardec.
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