Chamados e Escolhidos

Muitos os chamados e poucos os escolhidos. É preciso entender corretamente.


O capítulo XVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo tem exatamente esse título: “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Foi escrito por Kardec com base no Evangelho de Mateus, capitulo 22-1:14, principalmente.

Ainda no mesmo capítulo, XVIII, segundo Mateus, IV:24-25, disse Jesus que o que tem receberá mais e o que não tem até o pouco que tem lhe será tirado.

Certas afirmativas de Jesus parecem absurdas se analisadas pelos valores materiais. Não tem sentido que Deus chame muitos e escolha poucos. Não é caridoso dar mais a quem tem e tirar o pouco daquele que já quase nada tem.

Para compreender o chamamento é preciso dividir a orientação em duas partes: 1 – Os chamados. 2 – Os escolhidos.

Os chamados são os que recebem o convite divino para a aquisição do conhecimento que lhes permita ser melhor, pela vivência do amor ao próximo. Neste aspecto, praticamente todos são chamados para ter acesso à felicidade que é atributo dos que têm a consciência tranquila.

Os escolhidos, porém, não o são por Deus, mas cada um por si mesmo. É o homem que se escolhe para aceitar os conhecimentos e pautar sua vida sob os princípios da orientação de Jesus. Portanto, se o mundo está violento, convulsionado, sem amor, não é porque Deus deixou de chamar os homens, mas porque os homens, surdos ao chamado, não se fizeram escolhidos para estar entre os seres felizes.

Quando Jesus advertiu-nos que seria tirado o pouco de quem quase nada tivesse, referia-se ao entendimento e não aos valores do mundo. Claro está que se não temos entendimento para compreender as coisas mais simples, não nos qualificamos a entender as mais avançadas. Por isso Jesus falava por parábolas e os seus discípulos entendiam mais do que a maioria. Já eram almas maduras, mais experientes, embora não tivessem riqueza ou postos nos conceitos da sociedade humana. Eram homens simples, mas de estatura espiritual elevada. Já estavam em condições de receber mais orientações porque tinham uma base que os qualificava a receber acréscimos de conhecimento. É o caso dos espíritas que já compreendem o que outros religiosos sequer aceitam.

Depois de saber, o próximo passo do cristão é viver. Aplicar o conhecimento em favor do semelhante o que, já sabemos, redundará em benefício ao próprio autor. 

Como vivenciar essas informações trazidas por Jesus? No mesmo capítulo XVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo está claro no item 16: Reconhece-se o cristão pelas suas obras.

Como é habitual reconhecermos as obras do cristão pela caridade material, cabe aqui analisar mais profundamente quais são as obras do cristão.

É evidente que o socorro material por meio do alimento, do agasalho e demais atitudes que diminuam a penúria de alguém são apreciadas obras cristãs. Mas se considerarmos a fome de amor que o mundo sente, veremos que há muitas outras maneiras de realizar obras sem a intervenção do dinheiro. As obras em forma de conselho, de orientação, de visita fraterna, de contacto oportuno.

Observemos o que acontece na casa espírita. É um agrupamento onde se reúnem trabalhadores nas mais diversas atividades da casa. Quando alguém falta por um tempo, cabe aos companheiros, com destaque para o presidente e demais diretores, saber as razões da ausência e colocar-se à disposição para ajudar, se for o caso. Como está generalizado no movimento espírita que temos de suportar o sofrimento calado, resignado, porque já conhecemos os mecanismos do resgate, é comum o trabalhador entrar no centro carregando grande tristeza por um problema que o aflige e sair sem receber uma só palavra de consolo ou alento.

Quando nosso vizinho passa por um problema de acidente ou morte em família, ou mesmo de doença grave, não esqueçamos que o espírita conhece termos e expressões que consolam pelas revelações que podem ser ditas nas horas mais difíceis. Pode informar sobre as leis da vida, a imortalidade e os princípios da fé que devem estar presentes nos nossos momentos mais graves. Pode revelar sobre o passado espiritual das pessoas e fazê-las pensar a respeito.

As boas obras do cristão consistem também em saber quando falar e quando calar. Nunca deve ter pressa em revelar um quadro de sofrimento ou de enfermidade que foi constatado pela mediunidade de vidência ou pela revelação soprada pelos espíritos. Se pudermos ajudar, é justo dizer-lhe, com habilidade, que deve procurar socorro, que deve orar, consultar seu médico, mas de forma suave para que o outro não entre em pânico, o que em nada contribui para a solução do problema. Um médico, por exemplo, nunca deve diagnosticar apressadamente uma doença, pondo aflição no paciente para depois constatar que se enganou. Causa um mal muito grande.

Se virmos um quadro que deponha contra um dos cônjuges, apressar-se em revelar o que se viu só agrava o problema. Depois que nossa língua escapa da boca ela causa estragos maiores que uma faca afiada. E se da nossa maledicência resultar o fim do matrimônio, ou uma agressão entre as partes, nossa parcela de culpa será evidente e teremos de responder por ela.

O chamamento e a escolha dependem da conduta do cristão que deseja aproveitar este momento de vida na Terra para preparar seu futuro espiritual. Chamados, todos já fomos, porque depende de Deus. Escolhidos, ainda somos poucos, porque depende de nós!

Octávio Caúmo Serrano 



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