Quando a dor visita (Bezerra de Menezes em vista a um hospital) Lucius

Bezerra de Menezes e um grupo de alunos seus (todos em Espírito) visitam um hospital em busca de sinceros sentimentos de mudança de conduta por parte dos pacientes que ali estavam…

Quando a dor visita a carne, fazendo cada um recordar-se de que não passa de singelo passageiro do ônibus da vida, as reflexões naturalmente explodem nos pensamentos. Aqui, isolados em leitos ou convivendo com diversas dores simultâneas, não lhes falta tempo para fazer aquilo que em outras condições orgânicas, geralmente, não gostam muito: PENSAR!

Encaminhou-se com o grupo, então, para o corredor principal daquele vasto nosocômio.

Aproveitando a oportunidade, Adelino comentou, desejando facilitar o aprendizado dos encarnados que, interessados, obteriam importantes informações:

- Quando de minhas experiências nesta área, querido Doutor, sempre me admirei do poder da enfermidade para abrir a mente e o coração a novas ideias, como se a dor fosse o bisturi da fé.

- Não resta dúvida, meus filhos, que a dor é uma importante aliada dos seres humanos como ferramenta por eles mesmos manipulada, uma vez que das suas atitudes decorrem as necessárias consequências e, por isso, as dores são sempre escolhas evolutivas. 

Mesmo quando a alma as solicite para acelerar seu crescimento através de provas variadas, são alavancas a serviço da vontade ou do desejo do próprio interessado. No entanto, observaremos sempre uma coisa interessante: Quanto mais grave é o estado ou o problema, mais profunda costuma ser a entrega do enfermo aos estados de arrependimento. 

Doentes existem que, estagiando neste hospital por motivos banais, perdem a oportunidade de meditar na transitoriedade da vida e na leviandade de suas condutas porque não se sentem ameaçados, naquele momento, pela possibilidade da Morte. Então, almeja tão somente o regresso às suas moradias o mais rápido possível, para que continuem levando o mesmo estilo de vida de antes. Mas quando a dor se toma incisiva, quando as causas geram efeitos danosos através de incômodos mais terríveis, cada encarnado é levado a aprofundar-se no raciocínio do porquê daquele estado e qual a sua efetiva participação naquele evento. 

O isolamento hospitalar, a dependência da ajuda alheia, a convivência com outros doentes, a visão de outros sofrimentos quase totalmente desconhecidos da maioria, fora daqui, facilita aos que caíram no estado de isolamento meditativo que procurem abrir-se para Deus através da prece pessoalmente realizada ou solicitada como intercessão de terceiros a seu benefício pessoal. 

A ausência de familiares às suas ordens, com a respectiva falta que lhes faz aquela companhia que nunca valorizaram, a dependência emocional e material pára as mínimas coisas e necessidades fustigam o orgulho, a arrogância, despertando o sentimento de solidariedade e admiração pelas pequenas coisas. O medo da morte como um ponto final de seu período na Terra, a perda dos bens que juntaram com avidez e egoísmo, sentindo-os esvaírem-se pelos dedos, a derrocada de seus negócios, o fim de seus planos mirabolantes, a dúvida sobre o destino desconhecido, a falta de vivência espiritual ou de conhecimentos que os ajudem a encontrar calma, tudo isso e muito mais vai esculpindo a alma no silêncio das horas vividas em um leito hospitalar.

Todos acompanhavam a palavra inspirada daquele que conhecia profundamente os efeitos benéficos dç tais circunstâncias na vida das criaturas.

- Então, meus filhos, surpreendem-nos as orações aflitas nascidas no pensamento de homens indiferentes, de mulheres amesquinhadas pela superficialidade, de pessoas sem qualquer ligação com Deus. A maioria destas preces, é verdade, fruto do medo, das angústias e do receio do desconhecido. 

No entanto, muitas vezes divisamos a dor física desatar a dor da consciência e, nas manifestações de fervoroso arrependimento, aqueles que começam a despertar para um outro tipo de entendimento se beneficiarão tanto pela certeza da despedida que se acerca quanto pela convicção de que nunca vão morrer, o que faz os diques do remorso darem vazão ao rio de lágrimas da culpa que lavam o espírito, ao menos no sentido de aliviar o peso da consciência no regresso à vida indestrutível e verdadeira. 

Todos sabem que precisarão assumir seus delitos e superar suas faltas de forma que suas experiências em um leito hospitalar, para os que saibam aproveitar os conselhos da dor e do silêncio, da solidão e da necessidade, são advertências celestes para que não se perca mais tempo.

Lucius;
Psicografia: André Luiz Ruiz;
Do livro: Herdeiros do Novo Mundo, cap. 33.

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