Os Espíritos intervêm em nossas vidas

Afora aquelas pessoas que não creem na sobrevivência da alma após a morte do corpo físico, muitas outras existem que imaginam ser a desencarnação a separação definitiva entre os chamados vivos e os mortos.

Algumas narrações evangélicas parecem confirmar essa última suposição. Em Lucas (16:27-31), Jesus narra a parábola de Lázaro, o mendigo, e do homem rico. Após a desencarnação de ambos, o último pede ao Espírito Abraão para enviar Lázaro, que gozava das bem-aventuranças celestes, para avisar os cinco irmãos do rico sobre os tormentos morais dos que, como este, desfrutaram egoisticamente das riquezas materiais quando encarnados.

Em resposta, ouve o seguinte: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos”. O rico então replica que se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Mas Abraão lhe diz: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Se essa parábola, ou mesmo a passagem evangélica em que Jesus pede para deixar “aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos” (Lucas, 9:60) significassem que não há qualquer possibilidade de comunicação com os Espíritos, não fariam sentido as narrativas de Mateus (18:3-4) e Lucas (9:28-36), nas quais Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, condu-los a um alto monte e, ali, após o Cristo irradiar intensa luz, às vistas desses apóstolos, surgem os Espíritos Moisés e Elias, que conversam com o Mestre. A visão foi tão real que Pedro propôs a Jesus fazer três tabernáculos, um para este e os outros dois para Moisés e Elias (Mateus, 17:4).

Coube aos Espíritos superiores restabelecer a verdade sobre o intercâmbio entre os dois planos de uma mesma existência: a física e a espiritual. Na questão 459 de O Livro dos Espíritos, somos informados de que os Espíritos influem de tal modo em nossas vidas que, geralmente, eles nos “dirigem”.

Nossa alma é um Espírito que pensa. E, muitas vezes, vários pensamentos nos ocorrem simultaneamente sobre um mesmo assunto. É aí que se misturam com os nossos os pensamentos dos Espíritos, conforme lemos na questão 460 da obra supracitada. A liberdade de ação cabe a nós, por isso, afirmam os Espíritos a Kardec, não é muito importante distinguirmos nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos (op. cit., q. 461).

A capacidade de distinguir se um pensamento sugerido procede de um bom ou um mau Espírito é adquirida pelo estudo de cada caso. Como pode ser lido na questão 464: “Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir”.

Orientam-nos, ainda, os Espíritos superiores, que podemos nos eximir da influência dos Espíritos que procuram nos arrastar para o mal “[...] visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem” (op. cit., q. 467).

A forma de neutralizar a influência dos maus Espíritos é a prática do bem e a confiança em Deus (op. cit., q. 469).

Se observarmos atentamente os inúmeros acontecimentos de nossas existências físicas, podemos encontrar, de forma incontestável, a confirmação das informações transmitidas pelos Espíritos a Allan Kardec. Sim, nossas vidas e as das pessoas que conhecemos, ou não, são ricas de fatos atestatórios das influências dos Espíritos sobre os chamados vivos. E a destes sobre aqueles também é normal, embora nem sempre conscientes disso, assim como as influências dos encarnados entre si, que também podem ser ostensivas ou ocultas.

Filho de pai espírita convicto, embora este tenha falecido precocemente, aos cinquenta e três anos, quando tínhamos onze anos, aos vinte anos iniciamos, de fato, nossa participação no Movimento Espírita do Rio de Janeiro. Por várias décadas, ansiávamos por ter uma demonstração patente da sobrevivência do Espírito paterno, embora tenhamos tido sonhos vagos com ele. Casamo-nos e... nada. A esposa, médium vidente, após alguns anos de casados, afirmou-nos tê-lo visto em certa ocasião e, ao perguntar-lhe, mentalmente, se ele ficaria conosco, respondeu-lhe que sim, espiritualmente.

Os anos passaram, a vontade de receber notícias do pai inesquecível permaneceu, mas também permanecemos calado. Jamais havíamos falado com ninguém sobre esse desejo. Desde que nos casamos, e há mais de vinte anos, cultuamos o Evangelho no lar. Durante esse período, sempre ouvimos de nossa companheira a notícia de que temos um mentor espiritual, mas nunca fizemos qualquer correlação deste com a figura paterna. Até que, há alguns meses, a esposa tornou a vê-lo e, discretamente, transmitiu-nos mediunicamente a seguinte mensagem: “Meus filhos queridos, os tenho acompanhado por todos esses anos. Presenciei o renascimento de cada um dos seus três filhos e fui encarregado de ser o mentor espiritual do Evangelho no lar de sua família. Deixo aqui o meu abraço para todos vocês...” E identificou-se.

Era demais; a Espiritualidade coroava-nos a paciência da espera de mais de trinta anos com a mensagem daquele que, em vida, na curta convivência dos nossos onze anos, tínhamos como o modelo de honestidade, de elevação moral e de pai ideal. Pouco tempo após, viajamos para o Rio de Janeiro e, abrigados na casa materna, recebemos a ligação de um primo que mora em Niterói. Espontaneamente, falou-nos ter assistido a uma reunião mediúnica em Minas Gerais, na casa da esposa de seu irmão. Esta senhora, também médium vidente e de psicofonia, embora sem nunca ter conhecido nosso pai, afirmou para todos os presentes a uma reunião do culto do Evangelho em seu lar que fora informada sobre a situação de diversos Espíritos familiares desencarnados. Concluiu afirmando: “De todos, o que está em melhor situação espiritual é o Sr. Sebastião”. E o identificou como tio do meu primo e meu inesquecível pai.


Jorge Leite de Oliveira

FRATERLUZ
 
 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!