Cristãos contra cristãos (Um Romance no Tempo dos Cátaros)

Obra de Mônica Dabus lembra cruzada decretada pela Igreja contra movimento de restauração do Cristianismo primitivo


Wagner Teodoro

Isabela Ribeiro/Divulgação

“França – Um Romance no Tempo dos Cátaros” é a segunda obra da carreira da escritora

A escritora Mônica Dabus lança seu segundo livro, “França – Um Romance no Tempo dos Cátaros”, abordando o movimento catarista, que buscava restaurar valores do cristianismo primitivo, entrou em rota de colisão com a Igreja Católica durante a Idade Média, foi acusado de heresia e reprimido com uma cruzada decretada pelo Papa Inocêncio III. Dabus é médium psicógrafa e escreveu a obra sob orientação do espírito Liz. O livro integra uma série que deve ter seis obras e começou com o lançamento, no ano passado, de “Grécia – Um Romance no Tempo dos Deuses”. “França – Um Romance no Tempo dos Cátaros” tem semana de lançamento a partir deste domingo, dia 1 de junho, no Centro Espírita Amor e Caridade (leia Serviço).

Dabus relata que recebeu a incumbência de desenvolver a série de seis livros em 2003. “São trabalhos da espiritualidade. Sou médium psicógrafa e houve esta orientação de que seriam seis obras. Agora, chegou o segundo, que é sobre a civilização cátara, que veio com a tarefa de restaurar o cristianismo primitivo. Estou concluindo o terceiro e o tema é sobre os Druidas, na Irlanda antes de Cristo”, revela. “É uma série sempre pegando uma determinada época e civilização”, comenta.

Família cátara

“França – Um Romance no Tempo dos Cátaros” narra a história de uma família adepta do catarismo e os desdobramentos relativos ao medo, perseguição e ameaça referentes à cruzada decretada pelo Papa Inocêncio III contra eles.

De acordo com Dabus, a história desdobra-se na região de Languedoc, sul/sudoeste da França, no século XII, em plena Idade Média, e opõe de um lado os cátaros que, inspirados pela Espiritualidade Maior, buscavam resgatar o Cristianismo primitivo e, do outro, os nobres do norte, representando os poderes político-religiosos da época, que se opunham a essa doutrina e ao movimento e partem para reprimi-los. “Origina-se daí uma sombria cruzada, marcando a vida destes personagens através da fé, renúncia, sacrifícios, conspirações, intrigas, lutas e lágrimas”, expõe a autora.

O livro lembra as barbáries cometidas pelos cruzados do norte, que vinham tomando as cidades acusadas de heresia, destruíam e incendiavam construções e queimavam pessoas indiscriminadamente. “O que os cátaros faziam era orar, estudar o Evangelho, imposição de mãos, aspectos físicos e espirituais. O que eles adotavam era o Novo Testamento, principalmente o Evangelho de João, onde extraíam ideias como a reencarnação e a pré-existência do espírito”, explica Dabus.

Precursor do Espiritismo

Mônica Dabus aponta o Catarismo como um movimento precursor do Espiritismo, uma vez que são significativos os pontos comuns entre as doutrinas. “São conceitos como o da preexistência do ser e o da reencarnação. Assim como no Espiritismo, eles não aceitavam a reencarnação de espíritos humanos em animais. Quanto à moral, adotaram, assim como os espíritas, a de Jesus. Nada mais ambicionavam do que estudar, divulgar e praticar o Cristianismo”, aponta. A autora explica que os cátaros, do ponto de vista religioso, rejeitavam a divindade de Cristo, os ritos, sacramentos, exceto o batismo, que era, porém, ministrado por imposição de mãos (passes). “Um batismo do espírito e do fogo e não pela água”, ilustra.

Poder

Mônica Dabus revela que por trás do véu religioso da cruzada, havia a ambição por poder e terras. Era um conflito mais político do que religioso. “Em alguns lugares, como em Carcassonne, o senhor feudal era favorável ao movimento. Então muitos nobres do sul davam retaguarda para o movimento. Na França da época, havia os nobres do norte que tinham por meta abraçar as terras do sul. Foi um movimento muito triste e constrangedor para a história na Idade Média, porque foram cristãos contra cristãos. Uma coisa muito pesada naquele período pré-Inquisição e que, no fim, acaba-se chegando à Inquisição”, relata.

Trechos

“Em julho de 1209, a convite do papa, reuniram-se em Lyon bispos, arcebispos e senhores de todo o norte da França para programar uma cruzada de combate aos cátaros, tomados à conta de hereges, sob a chefia do abade Arnaud Amaury”

“Na primavera de 1210, após meses de cerco, Simon Montfort conquistou a cidade de Bram. Ordenou a seus soldados que reunissem a guarnição derrotada e mandou cegarem seus olhos. A procissão de mutilados foi conduzida pelos campos até Cabaret, como exemplo àqueles que insistiam em resistir”

“Pessoas foram exumadas para que seus corpos enterrados em chão sagrado pudessem ser queimados como hereges”

“Inquisidores foram de povoado a povoado, acusando, denunciando e condenando. Homens de bem foram expulsos das cidades por meras suspeitas. Trabalhadores honestos e até mães de família foram interpelados em escandalosos processos públicos”


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