Estudo das Moléstias (Richard Simonetti)

   Estrutura e Funcionamento

  No estudo das moléstias que afligem a criatura hu­mana poderíamos definir dois tipos básicos: estrutural e funcional.

A doença estrutural é aquela que tem origem genéti­ca e que costuma acompanhar-nos em boa parte da existência ou, não raro, pela existência inteira, em sofri­da cronicidade: fraqueza de estômago, fígado complica­do, insuficiência pulmonar, desvios da coluna, pele sensível, visão e audição reduzidas... A lista é longa.

A Doutrina Espírita explica que tais problemas não decorrem de acidentes hereditários, mesmo porque Deus não é um jogador de dados, a distribuir a saúde e a enfermidade com a combinação aleatória de elementos genéticos.

Ocorre que já vivíamos antes do berço. Transitamos pela Terra há milênios, em múltiplas existências. A mor­te representa sempre uma avaliação evolutiva que define o quanto andamos ou nos desviamos das metas de per­feição estabelecidas pelo Criador.

Cada reencarnação é a bênção do recomeço, com mecanismos retificadores que funcionam na intimidade de nossa consciência, imprimindo no corpo físico algo dos desajustes que provocamos em nós mesmos quando transitamos por vielas escuras de rebeldia e agressivida­de.

É o que a filosofia oriental define como carma, re­presentando a consequência de nossas ações pretéritas que se projeta no presente, num mecanismo de causa e efeito que tem, num primeiro estágio, três finalidades principais:

Primeira: É a conta a pagar, o montante que deve­mos pelos prejuízos causados, segundo um princípio di­vino enunciado por Jesus: "A cada um segundo suas obras". Se nos comprometermos com o mal, fatalmente terminaremos às voltas com males correspondentes, im­postos pela Justiça Divina. De acordo com esse mecanis­mo, o indivíduo violento poderá renascer em corpo ex­tremamente frágil, o alcoólatra com disfunções hepáti­cas, o intrigante com limitações mentais...

Segunda: Contenção. O comprometimento com o mal entranha-se no indivíduo na forma de tendências que precisam ser contidas e eliminadas. Assim, a violência será inibida pela fragilidade do corpo. O alcoolismo será sofreado pelo fígado sensível e será impossível se­mear intrigas sem acuidade mental. Tivéssemos a noção exata da extensão de nossas mazelas e agradeceríamos a Deus determinadas inibições.

Terceira: Renovação. O sofrimento decorrente das limitações físicas impõe um fastio das ilusões humanas. Nada melhor para nos inspirar a procura de valores reli­giosos. Espíritos superiores em trânsito pela Terra, no desdobramento de gloriosas missões, nunca planejam um corpo perfeito, não que tenham tendências inferio­res a superar, mas porque sabem que essa é a melhor for­ma de não se perderem nos enganos do Mundo.

Podemos amenizar as enfermidades cármicas com tratamentos espirituais e materiais, com a medicina do Céu e da Terra, mas o melhor a fazer é considerá-las, se­gundo a expressão do apóstolo Paulo, um "espinho na carne". Se não pode ser retirado, não nos preocupemos muito com ele, evitando nos atormentarmos inutilmen­te. Movimentando-nos com cuidado ele não nos inco­modará muito. Se tenho um problema gástrico cármico o ideal é cultivar a serenidade e uma alimentação leve, evitando irritações e extravagâncias que mexam com o "espinho".

* * *

A doença funcional relaciona-se com a maneira co­mo cuidamos do corpo. Jamais os cientistas deixarão de maravilhar-se com esse incrível mecanismo de peças vi­vas que permite a manifestação da inteligência na Terra. Trata-se de uma máquina perfeita dentro de suas finali­dades, que faculta ao Espírito uma bolsa de estudos na escola da reencarnação.

Contudo, há um detalhe importante: toda máquina precisa de cuidados para que funcione sem problemas. Aqui reside um dos grandes óbices em relação à saúde fí­sica, porquanto semelhamo-nos ao motorista invigilan­te que usa e abusa de seu automóvel, sem a mínima noção das regras de trânsito, dos detalhes relacionados com seu funcionamento e conservação.

Poucas pessoas sabem como se processam as funções digestivas, circulatórias, respiratórias e nervo­sas, simplesmente por desinteresse. Isso é lamentável, porquanto o conhecimento elementar de fisiologia é indispensável ao atendimento adequado das necessida­des de nosso corpo, dentre as quais destacaríamos o regi­me alimentar, os exercícios físicos, o trabalho disciplina­do, o repouso noturno, a higiene cuidadosa.

Raros cumprem esse programa elementar de saúde. Daí emergirem variados distúrbios orgânicos como obe­sidade, hipertensão arterial, arterioesclerose, cardiopa­tia, úlcera gástrica...

O assunto fica mais sério quando se trata do cultivo de vícios como o fumo, o álcool, o narcótico, que co­bram insuportável imposto pelos momentos de tranquilidade e euforia, levando à falência a economia orgânica.

Somem-se a isso tudo os estados depressivos, no embalo da autopiedade ou o exercício de agressividade como forma de autoafirmação, e teremos a origem de muitos males que complicam, comprometem e abre­viam a existência, com lamentáveis repercussões para o futuro.

Há quem os julgue cármicos. Na realidade, pelo menos oitenta por cento de nossas enfermidades são funcionais, fruto de agressões ao corpo ou de omissão quanto às suas necessidades básicas.

Se calçarmos um sapato apertado feriremos o pé. Insistindo no seu uso, porque gostamos dele, teremos um defeito de postura que afetará o equilíbrio da coluna dorsal, gerando fortes dores nas costas. A pressão lombar poderá afetar a visão. Em virtude de tais problemas tere­mos excesso de secreção de ácido clorídrico no estômago e surgirá a gastrite, que poderá repercutir nos intestinos com uma colite. Então precisaremos consultar vários es­pecialistas: um ortopedista, um oftalmologista, um gastrenterologista e, talvez, até um psicanalista, perdendo tempo e dinheiro. Seria mais fácil e barato comprar um sapato maior.

Assim ocorre com nossos problemas de saúde rela­cionados quase sempre, não com o passado remoto, mas com o presente. Não com o que fizemos usando o corpo ontem, mas com o que estamos fazendo com ele hoje, quanto a hábitos e costumes, à maneira de pensar e de vi­ver.

A propósito há a história de um campeão de bilhar, sempre muito elegante nas disputas, vestindo paletó e gravata.

No auge da fama surgiu um problema. Quando co­meçava a jogar sentia forte tontura e falta de ar. Consul­tou os melhores especialistas, submeteu-se a variados exames. Nada foi descoberto. Estava em ótima forma fí­sica. A solução foi deixar o bilhar, o que fez pesarosa­mente.

Algum tempo depois, assistindo a uma competição, conheceu notável jogador que parecia não levar muito a sério a apresentação pessoal. Antes de iniciar sua partici­pação tirou o paletó, desabotoou o colarinho e afrouxou a gravata. Nosso herói ficou escandalizado. Não se con­teve. Aproximou-se e perguntou:

– Não acha deselegante jogar assim?

O outro sorriu e respondeu:

      – Sim, mas se usar colarinho abotoado, gravata certi­nha e paletó, tenho tontura e falta de ar. Não dá para jo­gar...

* * *

- Conheça seu corpo , funções e necessidades. Tire uma "carteira de habilitação" para uso adequado da máquina física.

- Faça exercícios físicos e respiratórios diariamen­te. Uma caminhada de uma hora opera prodígios de bem-estar.

- Não se permita uma coexistência pacifica com os vícios. Mova-lhes luta sem tréguas. Não é razoável envenenar-se, a nenhum pretexto.

       - Coma frugalmente, selecionando alimentos. Aos prazeres da mesa deve sobrepor-se a sabedoria de ali­mentar-se de forma saudável.

- Analise seus males sob a ótica da reflexão. E fácil superar enfermidades funcionais com a mudança de hábitos. É possível conviver com enfermidades estrutu­rais aceitando a função regeneradora do carma.

Richard Simonetti;
Do livro: Uma Razão para Viver.
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!