E.S.E.: Desprendimento dos Bens Terrenos - II

A fortuna pode ser herança de família ou fruto do trabalho bem-sucedido. O que jamais se deve esquecer é que tudo vem de Deus e a ele retorna.

Instruções dos Espíritos

O amor aos bens terrestres é um dos mais fortes entraves ao adiantamento moral e espiritual. E, no entanto, nada nos pertence sobre a Terra; nem mesmo o corpo físico, do qual a morte nos despoja, como, aliás, de todos os bens materiais. Somos meros depositários dos bens que Deus nos concede. Entretanto, esses bens que nos são confiados despertam nossa cobiça. E nos levam ao apego a uma fortuna tão perecível e passageira quanto nós. Com isso, nos esquecemos de que um dia prestaremos contas do emprego que dela fizemos. Esquecemo-nos de que a riqueza nos favorece o exercício da caridade, tornando-nos distribuidores de seus benefícios entre os que possuem menos ou nada têm. Assim, quando usamos o que nos foi confiado em proveito único de nossos interesses, nós nos tornamos depositários infiéis da fortuna que Deus nos confiou.

Frequentemente, chamamos de virtude o que não passa de egoísmo. Agimos movidos pela cobiça e pela avareza, mas nos iludimos chamando-as de economia e previdência. É o caso, por exemplo, dos pais que amontoam bens sob o pretexto de deixar os filhos amparados financeiramente. Cuidado justo que, em si, não merece censura. Frequentemente, no entanto, o que move esses pais é o apego pessoal aos bens terrestres. Um apego que não admitem e que precisam justificar perante a própria consciência. Como se não bastasse, ao assim procederem, dão aos filhos uma lição de egoísmo do qual, quase sempre, acabam sendo vítimas. É o orgulho que faz o homem de posses apegar-se aos seus bens. Para ele, a bondade de Deus nada tem a ver com sua fortuna, da qual se atribui todo o mérito. Não compreende que toda sua inteligência e habilidade não o pouparão do fracasso se a vontade divina permitir essa provação.

Do mesmo modo, esbanjar a fortuna não significa desapego aos bens terrenos. Como mero depositário desses bens, o homem não tem o direito de dilapidá-los ou confiscá-los em seu proveito. O verdadeiro desapego consiste em apreciar a fortuna pelo seu justo valor, em saber servir-se dela para si e também para os outros, em não sacrificar por ela os interesses da vida futura, em aceitar sem queixas a sua perda, resignado à vontade divina.

Deus não nos pede que nos desfaçamos do que possuímos, reduzindo-nos à mendicidade voluntária e nos tornando uma carga para a sociedade. Agir assim é compreender mal o desapego dos bens terrestres. É buscar de forma egoísta a isenção da responsabilidade que a fortuna impõe. Rejeitar a fortuna que Deus nos dá é renunciar ao benefício do bem que se pode fazer ao administrá-la com sabedoria. Somente aquele que sabe passar sem ela, quando lhe falta; que a emprega de maneira útil, quando a possui; e que sabe sacrificá-la, quando isso é necessário, age de acordo com os desígnios de Deus.

Allan Kardec,
O Evangelho segundo o Espiritismo,
Capítulo XVI.


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