Orai e Vigiai (Richard Simonetti)

Pára o mundo que quero descer! – dizia um amigo, horrorizado com o panorama desolador da atualidade, em que, aparentemente, gênios das trevas abriram uma caixa de iniquidades para torturar a nós outros, pobres mortais.

Filhos que matam pais.


Pais que agridem filhos.


Homens que se vestem de bombas para dizimar inocentes.


Traficantes que viciam incautos para ampliar a freguesia.


Políticos que atuam como aves de rapina sobre o erário.


Sequestradores que apavoram famílias para extorquir-lhes dinheiro.

Assaltantes que não vacilam em matar.

Promiscuidade sexual, promovendo a dissolução dos costumes e a disseminação de enfermidades.

Adultério banalizado, sugerindo normalidade.

Práticas abortivas amparadas por leis equivocadas.

 
Alguém dirá que ocorrências dessa natureza sempre existiram e que, com a população da Terra chegando a perto de sete bilhões de habitantes, tendem a ser muito mais numerosas.

Sim, mas nunca nessa proporção. É como se as pessoas estivessem disputando um campeonato de maldades, a ver quem pratica a atrocidade mais chocante.
 
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Poderíamos justificar essa situação, atribuindo-a à reencarnação compulsória de Espíritos de evolução primária, vida instintiva, sem o senso moral a que se referia Kardec.

Não é bem isso, ou não é apenas isso, já que esses Espíritos não vieram para gerar confusão no Mundo. Estão aqui em empenho de aprendizado, que lhes permita superar suas limitações, como todos nós.
Considere-se, ainda, a reencarnação de Espíritos de razoável desenvolvimento intelectual, cujas maldades não podem ser atribuídas à incapacidade de distinguir o bem do mal.

Há algo mais, leitor amigo, que podemos constatar reportando-nos à preleção de Telésforo, no livro Os Mensageiros, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Em face de sua importância e gravidade, deve ser objeto de acurado estudo nos círculos espíritas.

Por economia de espaço, limito-me a transcrever algumas de suas reveladoras observações:

…a mente humana abre-se, cada vez mais, para o contacto com as expressões invisíveis, dentro das quais funciona e se movimenta. Isto é uma fatalidade evolutiva.

…a humanidade terrena aproxima-se, dia a dia, da esfera de vibrações dos invisíveis de condição inferior, que a rodeia em todos os sentidos. Mas, segundo reconhecemos, esmagadora percentagem de habitantes da Terra não se preparou para os atuais acontecimentos evolutivos.

…vemos agora a criatura terrestre assoberbada de problemas graves, não só pelas deficiências de si própria, senão também pela espontânea aproximação psíquica com a esfera vibratória de milhões de desencarnados, que se agarram à Crosta planetária, sequiosos de renovar a existência que menosprezaram, sem maior consideração aos desígnios do Eterno.

Fácil concluir que estamos cada vez mais ligados ao mundo espiritual e sensíveis à sua influência.

Uma observação, leitor amigo: Os Mensageiros foi publicado em 1944. Se há 67 anos o mentor espiritual falava dessa proximidade de Espíritos perturbados e perturbadores, imaginemos hoje, em que se percebe uma sensibilidade mais acentuada nas mentes humanas.

O problema é que não estamos preparados para lidar com esse contato estreito. Ainda nos situamos mais perto da animalidade do que da angelitude.

Daí o fato de sintonizarmos mais facilmente com as forças das sombras, assimilando sua influência.

Dá para entender porque há tanta confusão no Mundo hoje.
Mais do que nunca, impõe-se a recomendação de Jesus: orai e vigiai.

Vigiar nossos pensamentos, nossos desejos, nosso comportamento e orar muito, com o fervor do cristão autêntico, que busca o equilíbrio necessário para enfrentar os desafios da atualidade, sem nos deixarmos envolver pelas pressões da espiritualidade inferior, que constitui o clima que respiramos hoje.

Situa-se a Terra como imenso umbral, em que multidões de testemunhas, como diz o apóstolo Paulo (Hebreus, 12:1) nos rodeiam, em sua vasta maioria composta de Espíritos perturbados e perturbadores.


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Em meio às ardências do deserto, o viajor busca o conforto do oásis, onde pode saciar a sede e descansar.

Em meio às perturbações da sociedade atual, há oásis abençoados de espiritualidade, que podemos buscar na atividade religiosa, no lar orientado pelo Evangelho, e, em última instância, na intimidade de nossas almas, superando os enganos do mundo.

Se o reino de Deus que Jesus veio trazer está longe de ser instalado no Mundo, podemos e devemos instalá-lo em nosso próprio coração, com os valores de uma dedicação total ao Bem, eximindo-nos, por mera questão de sintonia vibratória, das influências nocivas que nos cercam.

No livro Boa Nova, psicografia de Chico Xavier, o Espírito Humberto de Campos reporta-se às consolações oferecidas por Maria, a mãe de Jesus, aos viajores cansados e sedentos que a buscavam.

– Minha mãe, — dizia um dos mais aflitos – como poderei vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida...

Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal.

– Isso também passa! – dizia ela, carinhosamente. – Só o Reino de Deus é bastante forte para nunca passar de nossas almas, como eterna realização do amor celestial.

É orientação para a existência inteira.
Tudo passa!

E sempre estaremos bem, animados, reconfortados e protegidos, mesmo ante as ardências do deserto humano, se formos capazes de construir um oásis de bênçãos, em nossa consciência, atendendo à convocação celeste para que edifiquemos o Reino de Deus em nossos corações.


Richard Simonetti