Pesquisadora espírita explica como o processo tomou conta da vida de muitos brasileiros.
Religião, mas também ciência e filosofia. A combinação tríplice tem feito do Espiritismo o caminho trilhado por muitos brasileiros que querem uma vida mais significativa. Não só porque – como alguns leigos possam pensar – busca respostas para o que há depois da morte, mas sobretudo porque divulga valores que melhoram a vivência na Terra.
Religião, mas também ciência e filosofia. A combinação tríplice tem feito do Espiritismo o caminho trilhado por muitos brasileiros que querem uma vida mais significativa. Não só porque – como alguns leigos possam pensar – busca respostas para o que há depois da morte, mas sobretudo porque divulga valores que melhoram a vivência na Terra.
Talvez por isso o Espiritismo esteja presente na vida de tantas pessoas. Hoje, o Brasil tem a maior comunidade espírita do mundo. De acordo com o IBGE, já é a terceira religião em número de adeptos no país.
Na Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), os temas trabalhados por Allan Kardec são contextualizados e fomentam diversas pesquisas desenvolvidas por seus médiuns.
A publicitária Janaina Merhy decidiu estudar a fundo a visão do Espiritismo em relação ao consumismo. Na pesquisa que vem desenvolvendo, ela busca estabelecer as principais diferenças entre a satisfação adquirida com a posse e a felicidade conquistada com o autoconhecimento. O trabalho resgata desde as informações recebidas pelas crianças, passando pela influência da internet na vida dos adolescentes, até as desilusões e frustrações de adultos que para compensar o vazio – que poderia ser suprido com autoconhecimento – investem seu tempo em compras. “A falta de identidade pessoal, de elaboração de valores e ideologia de vida próprios pode estar por trás do consumo excessivo ou do constante querer coisas e frustrar-se por não tê-las. Dessa forma tentamos construir, com o consumo, a identidade que nos falta. Fazemos com que as coisas digam o que somos por não sabermos fazê-lo, por falta de autoconhecimento”, explica.
A pesquisadora, que é professora de Comportamento do Consumidor na Universidade Tuiuti do Paraná, preocupa-se com as dimensões que o consumismo tem tomado: “A questão do consumo há muito tempo ultrapassou os limites da necessidade e alojou-se no campo do desejo.” Ela ressalta em seu trabalho que o consumo é necessário - alimentação e vestuário precisam ser comprados - mas o problema, segundo Janaína, é a inversão de valores. Segundo ela, “o problema não é o consumo consciente, equilibrado e coerente com o padrão social e poder aquisitivo, até mesmo porque o consumo não pode ser extinto de nossas vidas. Problemático e frustrante é não ter outros valores além dos que se pode comprar, criando preocupações desnecessárias.”
De acordo com Janaína, nem mesmo os relacionamentos escapam do hábito do consumo. A preocupação excessiva com a estética acarreta distanciamento dos valores realmente importantes numa troca entre pessoas. “‘Coisificando-nos’ estamos consumindo o outro. O sociólogo Zygmunt Bauman usa a expressão ‘amor líquido’, bastante poética para o significado que carrega. Realmente parece que os laços afetivos se liquefazem, consomem-se. Sem os laços que nos unem às outras pessoas nos tornamos seres sozinhos e vazios.” A publicitária conclui que, como num ciclo vicioso, mais uma vez, os consumistas são lançados às compras, para tentar compensar essa ausência. “Momentaneamente os objetos resolvem a angústia sentida, liberando hormônios que nos fazem sentir bem, mas logo em seguida tropeça-se em angústia e vazio ainda maiores”, lembra Janaína.
De acordo com a pesquisa, o Espiritismo promove o autoconhecimento e desperta senso crítico, fundamentais para quem não quer cair nas armadilhas criadas pela publicidade. “Com a análise hermenêutica, do desenvolvimento do pensamento crítico, sobre o que nos cerca, sobre os conceitos, ideologias e práticas repetidas em nosso cotidiano, podemos combater o dogmatismo em nossas vidas e na sociedade como um todo”, pondera a pesquisadora.
“Conforme vamos sedimentando nossa identidade em valores espirituais, dignificantes e sólidos, questionando-nos, conhecendo-nos, vamos nos sentindo mais plenos e fortes, cada vez mais imunes aos apelos consumistas típicos de nossa época. Aos poucos colocamos nosso desejo a serviço do nosso ser, de nossa construção íntima, a serviço do próximo e de todo o planeta, desenvolvendo um profundo sentimento de pertencimento à humanidade”, conclui Janaína.
Escrito por Denise Morini
* Hermenêutica: Expressão de um pensamento; explicação e, principalmente, interpretação do mesmo.
* Janaína Merhy: pesquisadora e professora de Comportamento do Consumidor na Universidade Tuiuti do Paraná.
* Janaína Merhy: pesquisadora e professora de Comportamento do Consumidor na Universidade Tuiuti do Paraná.
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