É muito comum após uma separação lembrar-se muito mais dos momentos
bons e esquecer-se das causas que fizeram o relacionamento não mais
existir.
Depois de analisar alguns fatos, obter algumas respostas,
algumas pessoas podem chegar à conclusão que é melhor voltar a um
passado infeliz, mas seguro, do que enfrentar um futuro incerto, apesar
de quase sempre, muito melhor.
Essa voz que lhe diz para ligar, procurá-lo,
passar por cima de suas mágoas e sentimentos, fazendo-a olhar esse
passado com lágrimas nos olhos, pode estar apenas representando seu medo
de acreditar em si mesma e ser capaz de superar essa dor.
Separar-se
não significa não haver mais nenhuma possibilidade de voltar atrás e
reconciliar-se. Significa simplesmente que por enquanto a relação acabou
e esta é a única certeza que possui. Algumas vezes acontece que, depois
de uma separação, o casal volte a unir-se, superando as dificuldades e
acima de tudo, aprendendo com cada uma delas.
Porém, viver na
esperança e na expectativa de que isso aconteça pode ser muito
destrutivo. É essencial viver esse momento como uma verdadeira
separação, a fim de que todo o sofrimento tenha algum sentido de ter
existido e tenha deixado algum aprendizado, para que assim algumas
mudanças possam ocorrer.
Se haviam brigas constantes,
desentendimentos, tristeza, a separação não deveria ser vivida como uma
sensação de alívio? E se em lugar do alívio, existe a angústia,
opressão? Será que isso indica que houve um engano? Mesmo que a relação
não estivesse sendo como gostaria, agora falta uma parte de si mesma que
sentia como se existisse dentro de você e que foi embora, não há mais
um ponto de referência que o outro proporcionava. Houve a quebra de
vínculos profundos, e quanto mais longa foi a relação e mais intimamente
os momentos eram partilhados, mais intensa parece ser a falta que faz.
Mesmo quando havia sofrimento durante o relacionamento, infelizmente é
muito difícil existir uma separação sem dor.
Parece ser difícil
passar desapercebido esse momento. Os sentimentos que antes era possível
disfarçar, agora parecem ficar mais expostos como nunca. A separação de
fato machuca tanto, que na escala das causas de estresse vem
imediatamente após a morte de uma pessoa significativa. Tanto isso é
verdade que quando esse vínculo é rompido, é necessário um trabalho
interior que requer uma enorme quantidade de energia psíquica para
recuperar o equilíbrio perdido, tanto que psiquicamente, passamos por um
período de luto, da mesma forma de quando perdemos uma pessoa querida
pela morte real.
De fato, muitas pessoas têm a sensação de
assistir a um enterro, sem flores nem acompanhamentos, no qual se está
só com seu luto. Algumas pessoas nesse momento precisam estar na
companhia de alguém que as ouçam e suportem com elas sua dor, mas quase
sempre a pessoa não se sente uma companhia muito agradável, evitando
qualquer contato com outras pessoas, para ter a liberdade de chorar,
chorar e chorar. Não imaginando que ficaria tão mal! Mas ficamos.
Algumas
pessoas olham fotos de momentos vividos juntos, lêem cartas, mensagens
que foram trocadas. Outras, no entanto, rasgam tudo, querem se livrar de
tudo aquilo que as façam llembrar do passado, afinal os objetos são
terríveis testemunhas do que se deseja esquecer. O que é ideal? Guardar e
rever tudo que foi conquistado junto ou se livrar de tudo o mais rápido
possível? Faça o que te faça sofrer menos. É comum nos dias seguidos da
separação, rever fotos e tudo que possa lhe garantir que tudo aquilo
existiu de fato, mas prolongar esse período pode trazer muito mais dor.
A
culpa também é outro sentimento que pode nos fazer querer voltar para
refazer o que não fizemos. Algumas pessoas tendem ra si devido a um
sentimento de inferioridade, baixa auto-estima, por não ter sido capaz
de manter a relação. Outras tendem a agir ao contrário, não se
responsabilizando por nada do que ocorreu. Nem sempre a busca por
culpados é o melhor caminho, é melhor entender o que aconteceu, evitando
apontar o dedo para quem quer que seja.
Foram preciso duas
pessoas para começar a relação e também para terminá-la, por mais que um
dos dois não quisesse que isso ocorresse. Mas não se deve deixar-se
esmagar por condenações, com certeza cada um naquele momento fez o
melhor que conseguiu fazer. Ter uma visão clara do que ocorreu não é uma
conquista imediata e para que as primeiras reações emotivas possam ser
compreendidas leva algum tempo.
Não é possível determinar quanto
tempo, pois cada pessoa reage de maneira diferente, principalmente
devido ao seu histórico de vida. Pessoas que quando crianças viveram a
experiência do abandono, com certeza encontrarão mais dificuldades para
enfrentar esse momento, pois o abandono da infância irá se somar ao
atual, podendo fazê-la reviver o último com muito mais intensidade e
sofrimento. Por outro lado, aquelas que viveram uma infância com afeto,
sem perdas, terão mais recursos para enfrentar a separação.
Seja o
que for que esteja sentindo nesse momento, saiba ser compreensivo
consigo mesmo como seria com alguém que lhe pedisse colo. Dê a si mesmo,
carinho, atenção e ouça cada um de seus sentimentos, sem desprezá-los
ou ignorá-los, para que aos poucos comece a reconstruir esses
sentimentos que pensava nunca mais sentir.
Rosemeire Zago
Psicóloga clínica com abordagem jungiana
muito obrigada. Foi importante para mim estas palavras
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