Encontro com Deus

Dona Cidinha lia tranquila O Evangelho segundo o Espiritismo, no jardim do edifício de apartamentos onde residia, quando uma moradora aproximou-se:

– Bom dia, dona Cidinha.

– Bom dia, minha filha.

– A senhora é espírita, não é mesmo?

– Sim, de todo coração. O Espiritismo é bênção de Deus em nossas vidas.


– Eu queria justamente perguntar-lhe a respeito de Deus. Sou católica e aos domingos tenho um encontro com o Senhor na missa. Como fazem os espíritas, se não frequentam a igreja?

– Estou surpresa! O seu Deus é tão limitado assim?

– Como?

– Se comparece perante os fiéis apenas na missa, e só para os católicos!…
– Como é o seu Deus?

– Não o meu. O nosso, minha filha! Deus é o Pai de todos nós, não apenas de católicos, mas de todos os religiosos e até de quem não tem religião. E não está dentro de uma igreja, mas em todo o  Universo, em todas as manifestações da Natureza, nos mundos que se equilibram no espaço, na beleza das flores, no trinar dos pássaros, no sorriso da criança, na solicitude das mães…

– Como pode Deus estar presente em tudo? Ele não tem seus compromissos, governando o Universo?

– Você está imaginando Deus de maneira antropomórfica. Por isso tem dificuldade.

– Antropomórfica, que nome esquisito!

– É a concepção de Deus à imagem do homem, como se fosse um soberano a governar o Universo, instalado num palácio celestial.

– Não é assim?

– Deus, minha querida é a Consciência Cósmica do Universo, a Mente Divina, presente em tudo e em todos.

– Em todos? Também em nós?

– Sim, na intimidade de nossa consciência, a exprimir-se no ideal de servir, nas sementes de virtude, no anseio de aprender, nas dores de consciência pelo exercício do mal, ou na satisfação pelo Bem praticado. Tudo isso é Deus que nos fala, que nos orienta, que nos adverte, que nos chama, que nos espera...

– E por que as pessoas não conseguem perceber a presença de Deus?

– Quando o fariseu perguntou a Jesus qual o mandamento maior da Lei, o que o Mestre respondeu?

– Isso eu sei. Jesus citou dois mandamentos: o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E explicou que resumem tudo o que está no Velho Testamento.

– Muito bem, você está demonstrando conhecer o pensamento de Jesus. Quando estudamos o assunto, logo percebemos que esses dois mandamentos se completam. Impossível amar a Deus sem amar o próximo. Não há melhor maneira de demonstrar amor a um pai do que cuidando de seu filho.

– Agora entendo por que os espíritas empenham-se tanto em praticar a caridade. Seria uma ponte para Deus?

– Perfeito, minha querida. O melhor altar para nos aproximarmos de Nosso Pai, independente de nossa concepção religiosa, é a caridade. Sempre que a exercitarmos perceberemos a presença de Deus em nossas vidas, proporcionando-nos a maior de todas as alegrias, aquela que decorre do dever cumprido.

 
***


Os teólogos criaram, ao longo do tempo, concepções dogmáticas, com ritos e rezas voltados para o culto exterior, sugerindo que Deus está no interior de sua igreja e que só ela levará os crentes ao Céu.

Afastaram-se do pensamento original de Jesus, que, despido de formalismos e firulas dogmáticas, nos ensina, com a simplicidade da sabedoria autêntica e a profundidade da verdade revelada, que o Reino de Deus deve ser encontrado na intimidade de nossas almas, como exprime em Lucas (17:21):

…o Reino está dentro de vós.

E mais: se pretendemos um encontro com o Senhor nesse reino íntimo é fundamental que observemos sua recomendação (Mateus, 7:12):

Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles…