Recolhiam os discípulos a sobra abundante do inesperado banquete, quando
Malebel, espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e
clamou para a multidão haver encontrado o restaurador de Israel.
Esclareceu que
conviria receber-lhe as determinações, desde aquela hora inesquecível, e os
ouvintes reergueram-se, à pressa, engrossando fileiras, ao redor do Messias
Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e,
efetivamente, Malebel não se fez rogado.
– Senhor – indagou, exultante –,
és, em verdade, o arauto do novo Reino?
– Sim – respondeu o Cristo, sem,
titubear.
– Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o
oficial do Sinédrio, dilatando o diálogo.
– Em obrigações de trabalho para
todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita,
evidentemente inquieto, e continuou:
– Instituir-se-á, porém, uma organização
hierárquica?
– Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
– Qual a função dos
melhores?
– Melhorar os piores.
– E a ocupação dos mais inteligentes?
–
Instruir os ignorantes.
– Senhor, e os bons? Que farão os homens bons,
dentro do novo sistema?
– Ajudarão aos maus, á fim de que estes se façam
igualmente bons.
– E o encargo dos ricos?
– Amparar os mais pobres para
que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
– Mestre – tornou
Malebel, desapontado –, quem ditará semelhantes normas?
– O amor pelo
sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
– E quem
fiscalizará o funcionamento do novo regime?
– A compreensão da
responsabilidade em cada um de nós.
– Senhor, como tudo isto é estranho! –
considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que o Reino diferente
prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos e castigos?
– Sim
– aclarou Jesus, abertamente –, dispensará tudo isso e reclamará o espírito
de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, de
sinceridade e, sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com os
outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem
com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora
conhecidos no mundo.
Irmão X;
Psicografia: Francisco Cândido Xavier;
Da obra: Pontos e Contos, Cap. I pag. 14 e 15.
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