Um adversário asseverou em certo jornal que o Espiritismo é cheio de seduções. Ele não podia, mau grado seu, fazer maior elogio da Doutrina, condenando-se, ao mesmo tempo de maneira mais peremptória. Dizer que uma coisa é sedutora é dizer que agrada.
Ora, eis aqui o grande segredo da propagação do Espiritismo. Que, então, lhe oponham algo de mais sedutor para suplantá-lo! Se não o fazem, é que não têm nada de melhor a oferecer. Por que ele agrada? E muito fácil dizê-lo.
Ele agrada:
1) Porque satisfaz à aspiração instintiva do homem quanto ao futuro;
2) Porque apresenta o futuro sob um aspecto que a razão pode admitir;
3) Porque a certeza da vida futura faz com que o homem sofra sem se queixar das misérias da vida presente;
4) Porque, com a pluralidade das existências, essas misérias têm uma razão de ser, são
Explicáveis e, em vez de acusarem a Providência, consideram-nas justas e as aceitam sem murmurar;
5) Porque o homem é feliz por saber que os seres que lhe são caros não estão perdidos para sempre, que os encontrará novamente e que estão quase sempre ao seu lado;
6) Porque todas as máximas dadas pelos Espíritos tendem a tornar melhores os homens uns para com os outros.
Existem ainda outros motivos, que só os espíritas são capazes de compreender. Em compensação, que meios de sedução oferece o materialismo? O nada. Eis aí toda a consolação que ele dá às misérias da vida!
Com tais elementos, o futuro do Espiritismo não pode ser duvidoso e, contudo, se nós devemos admirar de alguma coisa, é que ele tenha aberto um caminho tão rápido através dos preconceitos. Como e por que meios alcançará a transformação da Humanidade, é o que nos resta examinar.
Discurso pronunciado
por Allan Kardec na cidade de Bordeaux, França em 1862, páginas 61 e 62 do livro
Viagem Espírita em 1862.
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