—
Predominância da natureza animal sobre a espiritual e a satisfação das
paixões. No estado de barbárie, os povos só conhecem o direito do mais
forte, e é por isso que a guerra, para eles, é um estado normal. A
medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque ele
evita as suas causas e, quando ela se faz necessária, ele sabe
adicionar-lhe humanidade.
A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
— Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então todos os povos serão irmãos.
Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária?
— A liberdade e o progresso.
Se
a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade, como se explica que
ela tenha geralmente por fim e por resultado a escravização?
— Escravização momentânea para sovar os povos, a fim de fazê-los andar mais depressa.
Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?
—
Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências
(reencarnações) para expiar todos os assassínios de que foi causa,
porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para
satisfazer à sua ambição.
O homem é culpável pelos assassínios que comete na guerra?
—
Não, quando é constrangido pela força; mas é responsável pelas
crueldades que comete. Assim, também o seu sentimento de humanidade será
levado em conta.
• • •
Numa batalha, há Espíritos que a assistem e que amparam cada uma das forças em luta?
— Sim, e que estimulam a sua coragem.
Comentário de Allan Kardec: Assim
os antigos nos representavam os deuses tomando partido por este ou
aquele povo. Esses deuses nada mais eram do que os Espíritos
representados por figuras alegóricas.
Numa guerra, a justiça está sempre de um lado; como os Espíritos tomam partido a favor do errado?
—
Sabeis perfeitamente que há Espíritos que só buscam a discórdia e a
destruição. Para eles a guerra é a guerra; a justiça da causa pouco lhes
importa.
Certos Espíritos podem influenciar o general na concepção dos seus planos de campanha?
— Sem nenhuma dúvida. Os Espíritos podem influenciá-lo nesse sentido, como em todas as concepções.
Os maus Espíritos poderiam suscitar-lhe planos errados, com vistas à derrota?
—
Sim, mas não tem ele o seu livre-arbítrio? Se o seu raciocínio não lhe
permite distinguir uma ideia certa de uma falsa, terá de sofrer as
conseqüências e faria melhor em obedecer do que em comandar.
O
general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de dupla vista,
uma visão intuitiva que lhe mostre por antecipação o resultado dos seus
planos?
—
É frequentemente o que acontece com o homem de gênio. É o que ele chama
inspiração e lhe permite agir com uma espécie de certeza. Essa
inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem e se servem das
faculdades de que ele é dotado.
No tumulto do combate, o que acontece aos espíritos dos que sucumbem? Ainda se interessam pela luta, após a morte?
— Alguns continuam a se interessar, outros se afastam.
Comentário de Allan Kardec: Nos
combates, acontece o mesmo que se verifica em todos os casos de morte
violenta: no primeiro momento, o Espírito fica surpreso e como aturdido,
não acreditando que está morto; parece-lhe ainda tomar parte na ação.
Não é senão pouco a pouco que a realidade se lhe impõe.
Os
Espíritos que se combatiam quando vivos, uma vez mortos se reconhecem
como inimigos e continuam ainda excitados uns contra os outros?
—
Nesses momentos, o Espírito jamais se mostra calmo. No primeiro
instante, ele ainda pode odiar seu inimigo e mesmo o perseguir. Mas
quando as ideias se lhe acalmarem, verá que a sua animosidade não tem
mais razão de ser. Não obstante, poderá ainda conservar resquícios
maiores ou menores, de acordo com o seu caráter.
Ouve ainda o fragor da batalha?
— Sim, perfeitamente.
O
Espírito que assiste friamente a um combate, como espectador,
testemunha a separação entre a alma e o corpo? E como esse fenômeno se
apresenta a ele?
—
Há poucas mortes realmente instantâneas. Na maioria das vezes, o
Espírito cujo corpo foi mortalmente ferido não tem consciência disso no
mesmo instante. Quando começa a retomar consciência é que se pode
distinguir o Espírito a mover-se ao lado do cadáver. Isso parece tão
natural que a vista do corpo morto não produz, nenhum efeito
desagradável. Toda a vida tendo sido transportada para o Espírito,
somente ele chama a atenção e é com ele que o espectador conversa ou a
quem dá ordens.
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
Parte 3 - Cap. 6 – Lei de Destruição e Parte 2 - Cap. 9 - Item X.
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