Estrutura e Funcionamento
No estudo das moléstias que
afligem a criatura humana poderíamos definir dois tipos básicos: estrutural e funcional.
A doença
estrutural é aquela que
tem origem genética e que costuma acompanhar-nos em
boa parte da existência
ou, não
raro, pela
existência inteira,
em sofrida cronicidade: fraqueza de estômago,
fígado complicado, insuficiência
pulmonar, desvios
da coluna, pele
sensível, visão
e audição reduzidas... A lista
é longa.
A Doutrina Espírita explica que tais problemas não decorrem de acidentes
hereditários, mesmo
porque Deus
não é um
jogador de dados,
a distribuir a saúde
e a enfermidade com
a combinação aleatória
de elementos genéticos.
Ocorre que já vivíamos antes
do berço. Transitamos pela Terra há milênios, em
múltiplas existências. A morte
representa sempre uma avaliação evolutiva que
define o quanto andamos ou nos
desviamos das metas de perfeição
estabelecidas pelo Criador.
Cada reencarnação é a bênção do
recomeço, com
mecanismos retificadores
que funcionam na intimidade
de nossa consciência,
imprimindo no corpo físico
algo dos desajustes
que provocamos em
nós mesmos
quando transitamos por
vielas escuras de rebeldia
e agressividade.
É o que a filosofia oriental define como carma, representando a consequência de nossas ações
pretéritas que se projeta
no presente, num mecanismo
de causa e efeito
que tem, num primeiro
estágio, três
finalidades principais:
Primeira: É a
conta a pagar, o montante que
devemos pelos prejuízos
causados, segundo um
princípio divino enunciado
por Jesus: "A
cada um
segundo suas
obras". Se nos comprometermos com
o mal, fatalmente
terminaremos às voltas com males correspondentes, impostos
pela Justiça
Divina. De acordo
com esse
mecanismo, o indivíduo violento poderá renascer em corpo extremamente frágil,
o alcoólatra com
disfunções hepáticas, o intrigante
com limitações
mentais...
Segunda: Contenção. O comprometimento com
o mal entranha-se no indivíduo na forma de tendências que
precisam ser contidas e eliminadas. Assim, a violência
será inibida pela fragilidade
do corpo. O alcoolismo
será sofreado pelo fígado
sensível e será impossível
semear intrigas
sem acuidade
mental. Tivéssemos a noção
exata da extensão
de nossas mazelas e agradeceríamos a Deus determinadas inibições.
Terceira: Renovação. O sofrimento decorrente das limitações físicas
impõe um fastio
das ilusões humanas. Nada melhor para nos inspirar a procura
de valores religiosos. Espíritos superiores
em trânsito
pela Terra,
no desdobramento de gloriosas missões, nunca planejam um
corpo perfeito,
não que
tenham tendências inferiores a superar, mas porque sabem que
essa é a melhor forma de não se perderem nos
enganos do Mundo.
Podemos amenizar as enfermidades cármicas com
tratamentos espirituais
e materiais, com
a medicina do Céu
e da Terra, mas
o melhor a fazer
é considerá-las, segundo a expressão do
apóstolo Paulo, um
"espinho na
carne". Se não pode ser retirado, não nos
preocupemos muito com
ele, evitando nos
atormentarmos inutilmente.
Movimentando-nos com cuidado ele não nos incomodará
muito. Se tenho um
problema gástrico
cármico o ideal é cultivar
a serenidade e uma alimentação
leve, evitando irritações
e extravagâncias que
mexam com o "espinho".
* * *
A doença funcional
relaciona-se com a maneira
como cuidamos do corpo. Jamais os cientistas
deixarão de maravilhar-se com esse incrível mecanismo de peças vivas
que permite a manifestação
da inteligência na Terra.
Trata-se de uma máquina perfeita dentro
de suas finalidades, que faculta ao Espírito
uma bolsa de estudos
na escola da reencarnação.
Contudo, há um detalhe importante:
toda máquina
precisa de cuidados
para que
funcione sem problemas.
Aqui reside um
dos grandes óbices
em relação
à saúde física, porquanto
semelhamo-nos ao motorista invigilante que usa e abusa de seu automóvel, sem a mínima noção das regras
de trânsito, dos detalhes
relacionados com seu
funcionamento e conservação.
Poucas pessoas
sabem como se processam as funções digestivas, circulatórias, respiratórias e nervosas, simplesmente
por desinteresse.
Isso é lamentável,
porquanto o conhecimento
elementar de fisiologia
é indispensável ao atendimento adequado
das necessidades de nosso corpo, dentre
as quais destacaríamos o regime alimentar, os exercícios físicos,
o trabalho disciplinado,
o repouso noturno,
a higiene cuidadosa.
Raros cumprem esse programa elementar
de saúde. Daí emergirem variados distúrbios orgânicos
como obesidade, hipertensão
arterial, arterioesclerose, cardiopatia,
úlcera gástrica...
O assunto fica mais sério quando se trata
do cultivo de vícios
como o fumo,
o álcool, o narcótico,
que cobram insuportável
imposto pelos
momentos de tranquilidade
e euforia, levando à falência a economia
orgânica.
Somem-se a isso
tudo os estados
depressivos, no embalo da autopiedade ou
o exercício de agressividade
como forma de
autoafirmação, e teremos a origem de muitos
males que
complicam, comprometem e abreviam a existência,
com lamentáveis
repercussões para o futuro.
Há quem os
julgue cármicos. Na realidade, pelo menos
oitenta por cento
de nossas enfermidades são funcionais, fruto de agressões ao corpo
ou de omissão
quanto às suas
necessidades básicas.
Se calçarmos um
sapato apertado
feriremos o pé. Insistindo no seu uso, porque gostamos dele, teremos um
defeito de postura
que afetará o equilíbrio
da coluna dorsal,
gerando fortes dores
nas costas. A pressão
lombar poderá afetar a visão. Em virtude de tais
problemas teremos excesso
de secreção de ácido
clorídrico no estômago
e surgirá a gastrite, que poderá repercutir nos intestinos com uma colite.
Então precisaremos consultar
vários especialistas: um ortopedista,
um oftalmologista, um
gastrenterologista e, talvez,
até um
psicanalista, perdendo tempo e dinheiro. Seria mais fácil e barato comprar um sapato maior.
Assim ocorre com nossos problemas
de saúde relacionados quase sempre, não com o passado remoto,
mas com
o presente. Não
com o que
fizemos usando o corpo ontem, mas com o que
estamos fazendo com ele
hoje, quanto
a hábitos e costumes,
à maneira de pensar
e de viver.
A propósito há a história de um campeão de bilhar,
sempre muito
elegante nas disputas,
vestindo paletó e gravata.
No auge da fama surgiu um problema. Quando
começava a jogar sentia forte
tontura e falta
de ar. Consultou os melhores especialistas,
submeteu-se a variados exames. Nada foi descoberto.
Estava em ótima
forma física. A solução
foi deixar o bilhar,
o que fez pesarosamente.
Algum tempo depois, assistindo a uma competição, conheceu notável jogador
que parecia não
levar muito a
sério a apresentação
pessoal. Antes
de iniciar sua participação tirou o paletó, desabotoou o colarinho
e afrouxou a gravata. Nosso herói
ficou escandalizado. Não se conteve.
Aproximou-se e perguntou:
– Não acha deselegante jogar assim?
O outro sorriu
e respondeu:
–
Sim, mas
se usar colarinho
abotoado, gravata certinha e paletó, tenho tontura
e falta de ar.
Não dá para
jogar...
* * *
- Conheça seu
corpo , funções
e necessidades. Tire uma "carteira de habilitação"
para uso
adequado da máquina física.
- Faça exercícios
físicos e respiratórios
diariamente. Uma caminhada
de uma hora opera prodígios
de bem-estar.
- Não
se permita uma coexistência pacifica com
os vícios. Mova-lhes luta sem tréguas. Não é razoável envenenar-se, a nenhum
pretexto.
-
Coma frugalmente,
selecionando alimentos. Aos prazeres da mesa
deve sobrepor-se a sabedoria de alimentar-se de forma saudável.
- Analise seus
males sob
a ótica da reflexão.
E fácil superar
enfermidades funcionais com a mudança
de hábitos. É possível
conviver com
enfermidades estruturais aceitando a função
regeneradora do carma.
Richard Simonetti;
Do livro: Uma Razão para
Viver.
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