Sempre nos despertou grande curiosidade a sorte
das crianças após a “morte”, bem como a possibilidade de intercâmbio com
aqueles que tenham se despojado prematuramente de suas roupagens carnais.
Iniciando nossa explanação a respeito do tema,
citemos a questão 381, de O Livro dos Espíritos, em que Kardec assim
indagava:
Por morte da criança, readquire o Espírito,
imediatamente, o seu precedente vigor?
Ao que responderam os Espíritos:
“Assim tem que ser, pois que se vê desembaraçado
de seu invólucro corporal. Entretanto, não readquire a anterior lucidez, senão
quando se tenha completamente separado daquele envoltório, isto é, quando mais
nenhum laço exista entre ele e o corpo.”
Ocorre que esse desligamento será tanto mais
rápido quanto mais elevado for o grau evolutivo do Espírito em questão. Vejamos
alguns exemplos:
Na quarta obra basilar da Codificação, O Céu
e O Inferno, publicada pela primeira vez em 1865, temos, precisamente na
segunda parte, capítulo VIII, a oportunidade de analisar uma comunicação de
alto teor filosófico, que revela a rápida emancipação do Espírito Marcel,
desencarnado alguns meses antes, aproximadamente aos oito anos de idade, após
atrozes sofrimentos que ele havia superado de maneira exemplar.
Anos mais tarde, já no Brasil, um triste
episódio marcaria sensivelmente a vida do casal Francisco e Terezinha Cruañes.
Foi em tarde ensolarada, numa fazenda do
interior de São Paulo, quando a pequena Fernanda Cruañes, de apenas quatro anos
de idade, caía do trator em que se encontrava, vindo a desencarnar em 08 de
agosto de 1981. Menos de doze meses após o ocorrido, exatamente em 30 de julho
de 1982, Fernanda se manifestava através da mediunidade segura de Francisco
Cândido Xavier, em comunicação reproduzida na obra Estamos no Além,
solicitando aos seus pais que não se entregassem tanto ao desespero, como freqüentemente
vinham fazendo, posto que todas aquelas sensações de sofrimento lhe eram
integralmente transmitidas.
Declarava, ainda, que sua avó Jenny, também
desencarnada, conduzia-lhe as mãos durante a comunicação, pois que ela se
ressentia da dificuldade de “não saber escrever”, revelando um condicionamento
psíquico comumente observado na maioria dos espíritos precocemente
desencarnados, sem prejuízo, porém, da consistência de sua mensagem, que
acusava uma situação evolutiva satisfatória.
Também pode se dar, ainda que raramente,
encontrarmos “crianças” em funções espirituais de grande relevância, conforme
relatado por Rafael Ranieri em sua obra Materializações Luminosas, em
que ele discorre sobre diversas reuniões de materialização de espíritos em que tomou
parte, inclusive com a presença de Chico Xavier.
Naquelas memoráveis sessões, o Espírito Araci,
Guia Espiritual do conceituado médium Francisco Peixoto Lins (Peixotinho),
tangibilizava-se sob a aparência de uma criança de aproximadamente três anos de
idade.
Assim também, para sua surpresa e satisfação,
descobre que a dirigente espiritual daqueles trabalhos de alta importância era
exatamente sua filha Heleninha, desencarnada quando contava apenas um ano e
oito meses.
Por vezes, ela se apresentava na forma infantil;
noutras ocasiões, mostrava-se sob aparência adotada em encarnação pregressa,
demonstrando grande domínio sobre seu perispirito.
Informações igualmente preciosas nos deu André
Luiz, em sua obra intitulada Entre a Terra e o Céu, psicografada por
Francisco Cândido Xavier.
Conta-nos ele que, em determinado momento no
plano espiritual, passa a ouvir uma suave melodia; ao se aproximar, percebe que
a música era entoada por um coro de crianças felizes e sorridentes, em meio a
paisagens de rara beleza. Ele se encontrava no Lar da Bênção — um misto de
escola de preparação para a maternidade e abrigo para espíritos que haviam
desencarnado na infância. Alguns deles, naquele exato momento, recebiam a
visita de suas mães, ainda encarnadas, que para lá se deslocavam por ocasião do
sono físico.
André Luiz, então, fascinado com o que via,
questiona se haveria ali cursos primários de alfabetização; ao que a dirigente
daquele educandário responde afirmativamente, pois que se tratava de um
verdadeiro estabelecimento de ensino no além, que abrigava, à época, cerca de
dois mil espíritos desencarnados em tenra idade, que lá permaneciam até reunir
condições para retornar ao plano físico, o que se dava, na maioria das vezes,
antes que o Espírito retomasse sua compleição adulta.
Surge, então, a instigante questão do
“crescimento das crianças no plano espiritual”, que estará intimamente atrelada
à retomada de consciência por parte do Espírito desencarnado, o que lhe
permitirá plasmar as modificações necessárias em seu corpo fluídico.
Exemplo disso encontramos novamente na obra Estamos
no Além, através do relato mediúnico de Sandra Regina Camargo. desencarnada
aos nove anos de idade, após ter padecido durante três anos em virtude de
pertinaz leucemia. Menos de quatro anos após seu desencarne, na noite de 17 de
janeiro de 1981, ela se comunicaria com seus entes queridos, através de Chico
Xavier, declarando: “ saibam também que cresci. Isso aconteceu na medida de
meu desejo de me fazer pessoa grande...”.
Assim também se deu com Upton, desencarnado com
apenas três meses de vida. Em carta psicografada por Chico Xavier, e publicada
na obra Reencontros, demonstrava ter recobrado sua maturidade espiritual
em poucos anos de regresso à Vida Maior.
Há, portanto, espíritos que, tendo desencarnado
na infância, em retorno ao plano espiritual reassumem em curtíssimo prazo a
forma adulta que tinham antes de reencarnar, ou, ainda, outra apresentação
perispiritual que lhes convenha, sempre de acordo com suas potencialidades
anímicas.
Entretanto, o Espírito André Luiz, ainda na obra
Entre a Terra e o Céu, nos afirma que essas são exceções, pois que a
maioria dos seres que estagiam no planeta Terra necessitam de longo espaço de
tempo e total amparo da Espiritualidade para se desvencilharern dos impositivos
da forma infantil, a que se encontram mentalmente fixados. Ademais, são em
grande número aqueles que, ao desencarnarem precocemente, adentram o plano
espiritual em extremo desequilíbrio, razão pela qual são recolhidos em alas
isoladas, com o fito de receberem cuidados especiais.
Certamente que a temática não se esgota neste
breve estudo, todavia, desde já podemos concluir, mais uma vez, que o
Espiritismo é, irrefutavelmente, o Consolador prometido por Jesus, por nos
brindar com a realidade da sobrevivência da alma, notadamente em relação
àqueles que retornaram às esferas espirituais quando ainda ensaiavam seus
primeiros passos no mundo.
José Marcelo Gonçalves Coelho
Fonte: espirito.org.br
Bibiografia:
- Kardec, Allan: O Livro dos Espíritos, Editora FEB, 76 ª edição.
- Kardec, Allan: O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. VIII, Editora FEB, 76ª edição.
- Ranieri, Rafael R.: Materializações Luminosas, cap. IX, XIII e XXVI, Edições FEESP, 1989.
- Xavier, Francisco Cândido (Espíritos diversas); Estamos do Além-Instituto de Difusão
- Espírita, cap. 2 e 10, 1986.
- Xavier, Francisco Cândido (Espíritos diversos): Reencontros-Instituto de Difusão Espírita, cap. 10,1987.
- Xavier, Francisco Cândido (André Luiz): Evolução em Dois Mundos, Segunda Parte, cap. IV, FEB, 1991.
- Xavier, Francisco Cândido (André Luiz): Entre a Terra e o Céu, cap. X e XI, FEB, 1991.
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